terça-feira, 9 de outubro de 2018

O bom ladrão


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Começava a anoitecer, mas o caminho já era iluminado por algumas lâmpadas preguiçosas, dessas que fazem mais sombra do que luz. Os dois homens passaram um pelo outro e um deles, mais baixo e usando óculos, cumprimentou:
- Boa tarde!
O outro homem, alto e forte, parou num tranco e se aproximou:
- O senhor disse?
- Boa tarde. É verdade que é quase noite, mas...
- Tá bom. Olhe aqui.
O baixinho olhou na direção da cintura do grandão e viu um cabo de revólver.
- Um revólver? – o baixinho olhou em volta, mas correr não lhe pareceu um bom negócio, as balas seriam mais rápidas do que suas pernas; arriscou: Que mal lhe pergunte, vai fazer o quê com ele?
O outro sorriu:
- Assaltar o senhor.
- Mas isso...
- Sinto muito, doutor, mas tô precisado. O chato é que o senhor me deu boa tarde.
- Desculpe-me. Mas por isso vai me assaltar?
- Não – o grandão chegou a rir – Por isso estou em dúvida. O povo passa por mim e nem me vê, quanto mais dizer boa tarde.
O baixinho respirou aliviado:
- Desistiu, então?
- Não sei.
O baixinho aproveitou:
- Veja. Eu sai para caminhar, estou aqui de bermuda, camiseta e tênis. Não há o que roubar de mim. Que tal deixar para outro dia? Prometo trazer a carteira.
O sujeito tirou o revólver da cintura, olhou em volta e disse:
- Senhor é engraçado.
- Nem tanto.
- Dá boa tarde a quem não conhece, anda por aí quando está anoitecendo e não tem nada no bolso?
O baixinho suava frio, mas manteve a pose:
- Já ouviu falar em Pixinguinha?
- Sim. Eu toco cavaquinho no conjunto lá da vila.
- Pois então. Um dia ele foi abordado por um assaltante. Quando explicou que era o Pixinguinha, o ladrão desistiu do assalto. E Pixinguinha o levou para jantar na casa dele.
- O senhor é compositor?
O baixinho mentiu:
- Sou.
- Tem um rango legal em casa?
- Tem. Vamos lá?
Foi quando passou por eles um sujeito com uma pasta debaixo do braço.
O assaltante pediu:
- Espera aí. Vou ver o que tem naquela pasta e já volto.
O baixinho não esperou.