sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O Jair Bolsonaro pirou de vez

 




Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?

 

As tiradas grosseiras do Jair me fazem lembrar uma máxima de Eça de Queiroz, o notável escritor português, segundo a qual “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos e pelo mesmo motivo”.

Acertou na mosca, o gajo.

É verdade que, no caso dos problemas a resolver, a república brasileira tem para todos os gostos. O Guedes lamenta não ter vendido nada na sua quitanda barateira de estatais. Nas ruas, o povo reclama que o arroz está caro, que a inflação ataca à sorrelfa, corroendo salários. Em certos casos falta luz aqui, água acolá, sendo que milicianos tomam conta de mais de metade de grandes cidades.

Mas quero falar de um problema que é um problemão.

É um caso triste e chato, reconheço, mas que precisa se enfrentado.

O dito senhor Jair está, sabemos pelas redes sociais, no limite do estresse.

O pobre homem está a cada dia desempenhando papéis os mais ridículos e tendo ideias, as mais estúpidas. No início, tropeçava a cada três palavras, agora há um desencontro sem conserto de palavras e frases sem sentido que resultam em disparates. A sua tática conhecida de inventar uma polêmica provocativa e inútil para desviar a questão dos problemas reais já não está funcionando. O pobre coitado está perdido.

Não acerta uma. Fez alarde com a delirante ideia de colocar uma arma na mão de cada brasileiro, talvez com o intuito de que se matassem entre si. A ideia não andou e muitos brasileiros ainda continuam vivos e operantes. Mas Jair não desiste.

Anunciou que formaria um super ministério. Não conseguiu. De super, o ministério não tinha nada além de militares numa quantidade assombrosa de condecorações e medalhas. Foram comandar a saúde, a educação, os transportes, sendo que a economia ficaria com um super Guedes, que acabou se revelando não um posto Ipiranga de soluções, mas um poço sem fundo de equívocos embaraçosos. Pequenino de talhe e de conexões neurais, acumula trapalhadas, uma delas a ressureição da CPMF, de triste memória, e que acabou, como todas as ideias do desastrado Jair, falecendo precocemente.

Colocou na Educação um tipo sem qualquer educação. Na Cultura outro sem uma gota de verniz cultural. Trocou o infeliz por uma por uma atriz, o que resultou no maior fiasco, com direito a pum de palhaço. Jair mandou todos embora e colocou no lugar uma tropa equivalente.

E lá vai Jair nos seus descaminhos. O que acabou lhe rendendo uma enorme descoberta: como não tem qualquer competência ou talento para governar um país, ele descobriu um novo método: a cada dia inventa uma espécie de pílula provocativa e a entrega ao povo para seu deleite.

E tudo acaba na desconversa de sempre.

Mas acho que todos esses problemas são pequenos diante do maior deles. Em resumo, o problema central e definitivo é esse: o que o Brasil vai fazer com o Jair?

Os brasileiros, mais cedo ou mais tarde, terão que decidir o que fazer com esse senhor que está no meio da avenida atrapalhando o trânsito.

Essa é a questão: o que se pode e deve fazer com o Jair?

No momento o pobre homem está cada vez mais perdido, como sempre afastando auxiliares pelos quais era capaz de jurar a maior fidelidade.

Brigou com velhos companheiros que chegaram a ser ministros e confidentes. Deu a todos o destino que os tiranos costumam dar àqueles que subiram ao poder com eles, mas que, por isso ou aquilo, resolveram experimentar autonomia de voo. Receberam o troco: foram fritados em praça pública, viraram tipos desprezíveis. Um a um eles foram caindo. Permanecem nos cargos alguns que têm a virtude de não discordar de nada e obedecer sempre.

Agora, para completar a lista tenebrosa dos infortúnios do Jair, o seu suposto amigo Donald Trump, no qual Jair apostava todas as fichas, foi derrotado nas eleições presidenciais e, embora esperneie, vai mesmo sair da Casa Branca ou ser retirado de lá à força.

Ou seja, Jair está abandonado. Perdeu seu padrinho e mestre, aquele a quem Jair declamou um ridículo “I love you”. A numerosa comitiva que o acompanhava no puxa-saquismo coletivo foi abatida pela tal gripinha cada vez mais temível.

E, se o Jair não pegou a covid-19 nessa ocasião, pegou logo a seguir e teve que se render à gripinha, contra a qual lutou, pelo que se sabe, não com cloroquina, mas com armas mais poderosas. Assim, Jair já não sai ao puxadinho residencial, onde era aclamado por meia dúzia de gatos pingados e mal pagos. Ali deu os melhores de seus shows respondendo na tampa a qualquer provocação.

Mas não vamos esquecer: o que o país fará do Jair?

Que destino dar ao Jair?

Realmente não sei. Em 2022 teremos a chance de lhe dar o destino que os norte-americanos deram a seu padrinho Trump. Conseguiremos esperar? Acho que sim, já suportamos coisas piores.

Eleito com 57.797.847 de votos, pode ser que fique por aí enchendo a nossa paciência com novos falsos problemas que servem para camuflar problemas reais, arte na qual os políticos brasileiros são mestres.

Mas há dois dias o Jair se superou: diante de um comentário de Jo Baiden sobre a Amazônia, ameaçou os EUA com o disparo, não apenas da artilharia de sua língua inquieta e venenosa, mas da sua “pólvora”. Fez uma declaração de guerra, eis aí. É o limite do ridículo. Lembrei imediatamente do notável filme de Jack Arnold, no qual Peter Sellers, como sempre, dá um show – O rato que ruge (1959).

Ou seja, Jair (o Rato) quer agora marcar um duelo com os marines e suas armas intercontinentais.

Vejam o filme. É ótimo.