Quousque tandem
abutere, Catilina, patientia nostra?
As tiradas grosseiras do Jair
me fazem lembrar uma máxima de Eça de Queiroz, o notável escritor português,
segundo a qual “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos e
pelo mesmo motivo”.
Acertou na mosca, o gajo.
É verdade que, no caso dos
problemas a resolver, a república brasileira tem para todos os gostos. O Guedes
lamenta não ter vendido nada na sua quitanda barateira de estatais. Nas ruas, o
povo reclama que o arroz está caro, que a inflação ataca à sorrelfa, corroendo
salários. Em certos casos falta luz aqui, água acolá, sendo que milicianos
tomam conta de mais de metade de grandes cidades.
Mas quero falar de um problema
que é um problemão.
É um caso triste e chato,
reconheço, mas que precisa se enfrentado.
O dito senhor Jair está, sabemos
pelas redes sociais, no limite do estresse.
O pobre homem está a cada dia
desempenhando papéis os mais ridículos e tendo ideias, as mais estúpidas. No início,
tropeçava a cada três palavras, agora há um desencontro sem conserto de
palavras e frases sem sentido que resultam em disparates. A sua tática
conhecida de inventar uma polêmica provocativa e inútil para desviar a questão
dos problemas reais já não está funcionando. O pobre coitado está perdido.
Não acerta uma. Fez alarde com
a delirante ideia de colocar uma arma na mão de cada brasileiro, talvez com o
intuito de que se matassem entre si. A ideia não andou e muitos brasileiros
ainda continuam vivos e operantes. Mas Jair não desiste.
Anunciou que
formaria um super ministério. Não conseguiu. De super, o ministério não tinha nada
além de militares numa quantidade assombrosa de condecorações e medalhas. Foram
comandar a saúde, a educação, os transportes, sendo que a economia ficaria com
um super Guedes, que acabou se revelando não um posto Ipiranga de soluções, mas
um poço sem fundo de equívocos embaraçosos. Pequenino de talhe e de conexões
neurais, acumula trapalhadas, uma delas a ressureição da CPMF, de triste
memória, e que acabou, como todas as ideias do desastrado Jair, falecendo precocemente.
Colocou na
Educação um tipo sem qualquer educação. Na Cultura outro sem uma gota de verniz
cultural. Trocou o infeliz por uma por uma atriz, o que resultou no maior
fiasco, com direito a pum de palhaço. Jair mandou todos embora e colocou no
lugar uma tropa equivalente.
E lá vai Jair nos
seus descaminhos. O que acabou lhe rendendo uma enorme descoberta: como não tem
qualquer competência ou talento para governar um país, ele descobriu um novo
método: a cada dia inventa uma espécie de pílula provocativa e a entrega ao
povo para seu deleite.
E tudo acaba na desconversa de
sempre.
Mas acho que todos esses
problemas são pequenos diante do maior deles. Em resumo, o problema central e
definitivo é esse: o que o Brasil vai fazer com o Jair?
Os brasileiros, mais cedo ou mais
tarde, terão que decidir o que fazer com esse senhor que está no meio da
avenida atrapalhando o trânsito.
Essa é a questão: o que se
pode e deve fazer com o Jair?
No momento o pobre homem está cada
vez mais perdido, como sempre afastando auxiliares pelos quais era capaz de
jurar a maior fidelidade.
Brigou com velhos companheiros
que chegaram a ser ministros e confidentes. Deu a todos o destino que os
tiranos costumam dar àqueles que subiram ao poder com eles, mas que, por isso
ou aquilo, resolveram experimentar autonomia de voo. Receberam o troco: foram
fritados em praça pública, viraram tipos desprezíveis. Um a um eles foram
caindo. Permanecem nos cargos alguns que têm a virtude de não discordar de nada
e obedecer sempre.
Agora, para completar a lista
tenebrosa dos infortúnios do Jair, o seu suposto amigo Donald Trump, no qual
Jair apostava todas as fichas, foi derrotado nas eleições presidenciais e,
embora esperneie, vai mesmo sair da Casa Branca ou ser retirado de lá à força.
Ou seja, Jair está abandonado.
Perdeu seu padrinho e mestre, aquele a quem Jair declamou um ridículo “I love you”. A numerosa comitiva que o
acompanhava no puxa-saquismo coletivo foi abatida pela tal gripinha cada vez
mais temível.
E, se o Jair não pegou a
covid-19 nessa ocasião, pegou logo a seguir e teve que se render à gripinha,
contra a qual lutou, pelo que se sabe, não com cloroquina, mas com armas mais
poderosas. Assim, Jair já não sai ao puxadinho residencial, onde era aclamado
por meia dúzia de gatos pingados e mal pagos. Ali deu os melhores de seus shows
respondendo na tampa a qualquer provocação.
Mas não vamos esquecer: o que
o país fará do Jair?
Que destino dar ao Jair?
Realmente não sei. Em 2022
teremos a chance de lhe dar o destino que os norte-americanos deram a seu
padrinho Trump. Conseguiremos esperar? Acho que sim, já suportamos coisas piores.
Eleito com 57.797.847 de votos,
pode ser que fique por aí enchendo a nossa paciência com novos falsos problemas
que servem para camuflar problemas reais, arte na qual os políticos brasileiros
são mestres.
Mas há dois dias o Jair se
superou: diante de um comentário de Jo Baiden sobre a Amazônia, ameaçou os EUA com
o disparo, não apenas da artilharia de sua língua inquieta e venenosa, mas da
sua “pólvora”. Fez uma declaração de guerra, eis aí. É o limite do ridículo.
Lembrei imediatamente do notável filme de Jack Arnold, no qual Peter Sellers,
como sempre, dá um show – O rato que ruge
(1959).
Ou seja, Jair (o Rato) quer
agora marcar um duelo com os marines e suas armas intercontinentais.
Vejam o filme. É ótimo.