sábado, 26 de fevereiro de 2011

Luis Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura - lições de tudo


O livro Conversa sobre o tempo (Agir, 2010) reúne um longo – e interminável – papo entre Luis Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura. As entrevistas são conduzidas – às vezes em excesso – pelo jornalista Arthur Dapieve. As conversas, ao longo das duzentas e cinquenta páginas, passeiam por todos os quadrantes, em torno de cinco eixos: amizade, família, paixões, política e morte. A leitura é sempre um prazer, mas se ressente que duas coisas: a sensação de que em momento algum os entrevistados deslancham de verdade, chutando todos os paus da barraca e abrindo a alma francamente, tomando as rédeas da conversa. Outro senão é o fato de que, sendo Zuenir um extrovertido muito do exibido e Veríssimo um introvertido mórbido – lembro que “exibido” e “mórbido” não são críticas, pelo contrário – o primeiro fala muito mais do que o segundo.
Mas o livro é bom e se lê com prazer. Além das conversas sobre amizades, família e paixões, o que torna a leitura mais intensa são as conversas sobre política e morte, sobretudo sobre essa última, a indesejada das gentes, que fecha o livro. Daí a sensação paradoxal que nos assalta ao final: fala-se de morte e saímos do livro como de um renascimento.
Diante da gratuidade e absurdo da vida, ficamos ao final com as confissões bem humoradas e irônicas dos entrevistados, que tentam exorcizar suas vaidades. Zuenir confessa que gostaria de ser lembrado como pintor de paredes, ofício que exerceu quando menino, ao lado de seu pai. E essa seria a frase que resumiria sua vida: “Começou como pintor de paredes e nunca se superou”.
Já Veríssimo, depois de dizer que seus livros estão mais no campo do entretenimento do que no da literatura, conclui que “gostaria de ser lembrado como um cara decente. Um cara decente como foi meu pai, decente em todos os sentidos da palavra. E que, sei lá, tocava um blues respeitável”.
Duas grandes figuras fazendo homenagem ao pai, aos pintores de parede e aos músicos amadores, entre os quais Veríssimo se inclui. E nos sugerindo coisas sobre o que realmente importa na vida, na literatura, no jornalismo e num país chamado Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário