Houve um tempo em que se
discutia Marshall McLuhan em todos os cantos da cidade, inclusive naquela fila
de cinema, num filme de Woody Allen, quando o próprio McLuhan surge para calar
a boca de um sujeito metido a conhecedor de sua obra. É hilariante a cena.
Hoje McLuhan já saiu de moda
– pois existem modas na área do pensamento, como em tudo o mais – mas a
televisão continua aí para cumprir o destino que lhe preconizou o insuperável
Stanislaw Ponte Preta, o de ser “uma máquina de fazer doidos”.
Dia desses ligo a televisão
e dou com uma coisa no ar chamada Mulheres Ricas. Confesso que não entendi.
Imaginei um novo programa de humor – que costumam ser pavorosos, salvo o C.Q.C.
Mas não era. Mulheres Ricas coloca no ar algumas mulheres – nem sei quantas –
que estão entre aquelas que são chamadas de “celebridades”. Como sou de um tempo em que celebridades eram
Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Anita Malfatti, Simone de Beauvoir, Rosa
de Luxemburgo, Tomie Ohtake, Madame Curie, continuei sem entender.
As tais mulheres – que não
vi ainda despertar nas feministas nenhuma reação crítica – fazem um tipo que lembra
aquelas madames do Nelson Rodrigues, as que têm narinas de cadáver. Todas mostram
visíveis remendos de botox, beiçolas paralisadas, riso de cachorro louco, maças
de rosto que parecem furúnculos, além de peitões – não uso a palavra “seios”, por ser belíssima – injetados com silicone, que aqui em casa o encanador usou para
vedar uma pia. Além disso, falam aos esguichos, produzem asneiras a cada frase
e, como é padrão entre as “celebridades” do tipo, todas parecem imitar travestis,
na voz e nos trejeitos.
Não bastasse, fui saber hoje
(dia 17/janeiro) que houve um caso de polícia no BBB, com o que tomei
conhecimento de que há mais uma edição dessa boçalidade no ar. Foi um caso de
estupro, pelo que se registrou na polícia. Eis novamente algo que não entendo.
Reúnem brucutus numa casa postiça, todos vestidos como se estivessem numa
exposição de carnes, estrias e bundas, todos escolhidos pelo QI abaixo do nível
do mar, elevados à condição de celebridades por um apresentador cínico e
delirante, e esperavam o quê? Declamações de poemas de Rilke? Trechos de Shakespeare?
Citações de Platão? Tinha que dar em estupro.
Tudo isso dá nojo e revira o
estômago. Apesar do vaticínio de Stanislaw Ponte Preta, sou daqueles que não
são contra o aparelho de televisão. Todos nós já assistimos coisas inteligentes,
deliciosas e desafiadoras em televisão. Enfim, nada contra o aparelho. Agora, essa programação
de televisão feita para endoidecer, emburrecer, entorpecer, produzir brucutus, fabricar
crentes em milagres ou crentes em governantes, essa precisa urgentemente de corretivos.
Não em forma de censura, longe disso. Mas em protestos e análises críticas
contra essa verdadeira política de imbecilização do ser humano.
Como diz um bêbado que frequenta
um boteco aqui do bairro, “a gente merecemos melhor que disso”. Ele se refere a
café frio ou cerveja quente, mas vale para o ser humano em geral.
Valeu. Parabéns pelo desabafo. Encontrei há pouco a Heloísa e comentamos exatamente sobre a imbecilização/vulgarização do ser humano que o BBB tem feito. Está na hora de se tirar do ar essa vergonha, que só deseduca. Protestar? Como, se mais de 10 milhões pagam para ver essa asneira e pessoas como nós se recusam a tomar conhecimento de que o programa existe? Quem sabe tenhamos de fazer o que fizemos com a Ficha Limpa, que também parece que não vai dar em nada.
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