Sendo a vida cheia de dáblios
e ipsilones, cá estamos às vésperas de uma Copa metidos numa sinuca de bico.
Ou não?
Para argumentar, repito
o que defendo há anos: o Brasil é o país das polêmicas inúteis, tese que vejo confirmada
ano após ano. Os exemplos são incontáveis. Relaciono só alguns deles, por falta de
espaço.
Polêmica inútil:
desarmamento. Lembram? Certo ministro, hoje governando o RGS, gastou o nosso
tempo e paciência defendendo que, se a população devolvesse, em troca de alguns
trocados, as armas que tinha em casa, diminuiríamos a criminalidade.
Falso, é claro. Criminosos
conseguem armas traficando drogas. Não têm interesse em revólveres caseiros.
Usam armas de grosso calibre; metralhadoras e fuzis. O que se prova pelo número
de crimes, que aumentou. Gastou-se saliva, tempo e paciência numa polêmica
inútil.
Nunca tive interesse em
ter arma, mas sei que tal argumento é delirante.
Outra polêmica. Médicos
cubanos. Poucos brasileiros são contra a entrada de médicos estrangeiros,
cumpridas as normas relativas à sua qualificação. Não foi assim que o governo conduziu
o imbróglio, em função de – como eles costumam dizer – um viés autoritário. Os
médicos desabaram por aqui sem cumprirem exigências a que qualquer profissional
está sujeito para exercer sua profissão em outro país.
Ocorre que o problema verdadeiro
é outro. A questão da saúde vai muito além do número de médicos. As filas
continuam, as macas povoam corredores de hospitais, as mortes por falta de
atendimento persistem. Falsa polêmica, mas que rende mídia, votos, e serve para
iludir a plebe. Coisa de marqueteiros.
Mais uma. Mesmo causas
nobres, como a Lei Maria da Penha, serviu para uma falsa polêmica. Claro que é
necessário punir severamente agressores e proteger mulheres agredidas – isso
nem se discute. Mas o caminho será criar uma lei?
Pesquisas mostram: as
agressões não diminuíram. Isso não significa que devamos aceitá-las. Exige aceitar
algo óbvio: as leis não governam as sociedades. As sociedades governam as leis.
A mera mudança jurídica não faz a mudança social. Há causas mais profundas, prepotências
e preconceitos arraigados, ignorâncias poderosas agindo nesse caso.
Mais uma. O voto
obrigatório. Voto é direito conquistado pelas democracias. Se transformado em
dever, vira um monstrengo. Temos o direito de ir e vir, mas quem quiser ficar
parado, pode. Cada um escolhe se quer ter alguma crença ou crença alguma, se
quer votar ou não. No entanto, todos os candidatos – de qualquer partido – recusam
esse direito aos brasileiros alegando que não é hora, o povo não está preparado.
Os políticos estão?
Falsa polêmica. O voto facultativo
não é aceito por razões rasteiras: currais eleitorais, troca de favores, compra
de votos, exercício de coronelismo e populismo.
Então, vai haver Copa? Vai.
O verdadeiro problema é o grau de prepotência que permite que governantes aceitem
sediar um evento desse porte sem previsão do que isso acarretaria.
O que não vai acontecer
é o Brasil abandonar falsas polêmicas para se ocupar de seus verdadeiros
problemas.
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