domingo, 25 de maio de 2014

E a Copa, vai ou não?







Sendo a vida cheia de dáblios e ipsilones, cá estamos às vésperas de uma Copa metidos numa sinuca de bico.
Ou não?
Para argumentar, repito o que defendo há anos: o Brasil é o país das polêmicas inúteis, tese que vejo confirmada ano após ano. Os exemplos são incontáveis. Relaciono só alguns deles, por falta de espaço.
Polêmica inútil: desarmamento. Lembram? Certo ministro, hoje governando o RGS, gastou o nosso tempo e paciência defendendo que, se a população devolvesse, em troca de alguns trocados, as armas que tinha em casa, diminuiríamos a criminalidade.
Falso, é claro. Criminosos conseguem armas traficando drogas. Não têm interesse em revólveres caseiros. Usam armas de grosso calibre; metralhadoras e fuzis. O que se prova pelo número de crimes, que aumentou. Gastou-se saliva, tempo e paciência numa polêmica inútil.
Nunca tive interesse em ter arma, mas sei que tal argumento é delirante.
Outra polêmica. Médicos cubanos. Poucos brasileiros são contra a entrada de médicos estrangeiros, cumpridas as normas relativas à sua qualificação. Não foi assim que o governo conduziu o imbróglio, em função de – como eles costumam dizer – um viés autoritário. Os médicos desabaram por aqui sem cumprirem exigências a que qualquer profissional está sujeito para exercer sua profissão em outro país.
Ocorre que o problema verdadeiro é outro. A questão da saúde vai muito além do número de médicos. As filas continuam, as macas povoam corredores de hospitais, as mortes por falta de atendimento persistem. Falsa polêmica, mas que rende mídia, votos, e serve para iludir a plebe. Coisa de marqueteiros.
Mais uma. Mesmo causas nobres, como a Lei Maria da Penha, serviu para uma falsa polêmica. Claro que é necessário punir severamente agressores e proteger mulheres agredidas – isso nem se discute. Mas o caminho será criar uma lei?
Pesquisas mostram: as agressões não diminuíram. Isso não significa que devamos aceitá-las. Exige aceitar algo óbvio: as leis não governam as sociedades. As sociedades governam as leis. A mera mudança jurídica não faz a mudança social. Há causas mais profundas, prepotências e preconceitos arraigados, ignorâncias poderosas agindo nesse caso.
Mais uma. O voto obrigatório. Voto é direito conquistado pelas democracias. Se transformado em dever, vira um monstrengo. Temos o direito de ir e vir, mas quem quiser ficar parado, pode. Cada um escolhe se quer ter alguma crença ou crença alguma, se quer votar ou não. No entanto, todos os candidatos – de qualquer partido – recusam esse direito aos brasileiros alegando que não é hora, o povo não está preparado. Os políticos estão?
Falsa polêmica. O voto facultativo não é aceito por razões rasteiras: currais eleitorais, troca de favores, compra de votos, exercício de coronelismo e populismo.
Então, vai haver Copa? Vai. O verdadeiro problema é o grau de prepotência que permite que governantes aceitem sediar um evento desse porte sem previsão do que isso acarretaria.
O que não vai acontecer é o Brasil abandonar falsas polêmicas para se ocupar de seus verdadeiros problemas.




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