O Brasil vive um momento
de inversão de qualquer racionalidade política e intelectual.
Como dizia Tom Jobim,
trata-se de um país de ponta cabeça.
Tomo três exemplos para
ilustrar.
O Ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, dia desses confessou ao país e em particular à presidente
não suportar mais as pressões recebidas de membros do PT e de empresários
investigados pela Lava Jato. Antes dessa confissão pública, seu mal estar já
era evidente nas falas tortuosas e no gestual agoniado de Cardozo.
Então, destaque-se o
seguinte.
Os petistas e empresários
que o pressionam manifestam um comportamento antidemocrático que ignora qual é
a organização e as relações entre os três poderes. Primeiro, são poderes
independentes. Segundo, tentar interferir seria praticar uma ilegitimidade
constitucional.
É claro que petistas e
empresários, bem como os membros do próprio governo, podem ter sobre a Lava
Jata a opinião que desejarem, mas não podem se imaginar acima da constituição para
impedir julgamentos, investigações e decisões tomadas legitimamente por outros
poderes.
A presidente, por seu
lado, sempre que fala nas investigações em curso, coloca, em seu discurso
sofrível, uma quantidade de restrições, tais como “seletividade” por parte da
PF, ou a advertência de que delações não são provas. (Todos sabemos disso,
professora.) Além da comparação grotesca entre interrogatórios sob a ditadura
militar e as delações feitas ao juiz Moro.
Além disso, pretende
denunciar que não vê andamento algum em processos ou investigações contra o
PSDB. Ora, o PT está no poder há mais de três mandatos. Por que não fizeram
andar as investigações? Devo confessar que desejaria que todas as denúncias,
incluídas aquelas levantadas contra o PSDB, trouxessem ao debate público todas
as falcatruas possíveis. Corrupção e roubalheira de qualquer parte devem ser
investigadas e punidas, ponto final.
A não ser que admitamos a
hipótese absurda de que há um complô uníssono do judiciário contra o executivo,
é de se desconfiar que faltem argumentos jurídicos que permitam tais processos.
Ou compadrio, quem sabe.
Já o ex-presidente Lula faz
as habituais declarações tortuosas e descabidas. A pior delas: Dilma não teria
pulso forte para colocar o judiciário nos trilhos. Ele imagina que teria. Pensa
assim porque imagina o poder do presidente como algo residente acima da
constituição. A seu ver, presidente deve ser um imperador absolutista. Deveria
atropelar o outro poder.
Ora, além de desejar que o
PSDB também responda por eventuais bandalheiras, me sinto no direito de exigir
que o ministro da justiça seja deixado em paz e que faça cumprir a lei, no
caso, que o processo ande de forma absolutamente legal. O que está sendo feito.
E que Dilma assuma a
defesa da punição daquilo que chamou, num eufemismo casuístico e oportunista,
de “malfeitos”. Malfeitos; mais conhecidos como crimes, roubos, corrupção. Como
não faz isso, vive escondida, não sai à rua, não dá entrevistas coletivas. Só
fala em eventos controlados e para plateias domesticadas. E anda de bicicleta.
Tal como Cardozo e Lula, seu discurso é cada vez mais contorcionista – e não só
com relação à língua portuguesa, mas com a lógica mais elementar.
E o PSDB? – estaria
perguntando algum petista que suportou me ler até esse ponto. Pois processem,
denunciem, tragam a público. Milhões de brasileiros, eu entre eles, bateríamos
palmas. Seria mais uma chance do país se redimir de seus erros.
Como não é feito nada
disso, o país vai à deriva, tal como a Nau dos Insensatos. O que se chama de
debate político se transformou numa troca de palavrões e xingamentos, onde se
confunde palavrões com conceitos e xingamentos com argumentos. E adversários
políticos são vistos, de lado a lado, como inimigos a serem abatidos a pauladas,
numa concepção de disputa política similar à lógica doentia das famigeradas
torcidas organizadas.
Saramago, a quem admiro
como ficcionista e como entrevistado, quando esteve certa ocasião no Brasil,
deu um fecho brilhante a uma entrevista. Perguntado sobre qual conselho daria
aos brasileiros, ele respondeu na bucha, sem hesitação, com a dureza própria de
um sólido lusitano que dá socos nas batatas para preparar um “bacalhau ao
murro”. Eis o conselho de Saramago:
“Decidam-se!”
Enquanto isso não é feito,
a nau segue à deriva e todos assistimos a um circo político de faz de conta.
Muito triste.
PS:
Notem que nem falei do congresso nacional. Fica para a próxima.
Um desabafo inteligente, Roberto.
ResponderExcluirInfelizmente o momento é triste e sem perspectivas de melhora a médio prazo. O PT, além de institucionalizar a corrupção, institucionalizou o besteirol. Quando o Lula fala suas besteiras a gente até pode achar engraçado. Afinal, trata-se de um coitadinho sem diploma, como ele mesmo se autodenomina. E folclórico, acima de tudo. Todavia, a Dilma é irritante e o Cardozo um pobre diabo sem jogo de cintura. Talvez o pior ministro da justiça que o País já teve. Todo indício de corrupção deve ser profundamente investigado e o PT, certamente não a inventou. Apenas tentou encontrar nela a sustentação financeira para o seu projeto de poder. Dessa forma, a institucionalizou. Até onde se sabe, os focos de corrupção em que aparecem filiados ao PSDB, por exemplo, são casos de pessoas físicas corruptas, que roubaram em proveito próprio e não da instituição a que servem. No caso do partido do atual governo, acontece o contrário, a instituição mandou roubar a as pessoas físicas aproveitaram as rebarbas. E que rebarbas!
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