terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Fotografias, selfies – e o tempo não para.



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Dia desses, enquanto o Papa Francisco rezava no balcão, a multidão na praça de São Pedro estava coberta por celulares.
Com aquela senhora considerada enigmática, a Monalisa, sempre cercada por uma multidão, acontece o mesmo. Sobre as cabeças, os celulares. As fotos sairão fora de foco, pessimamente enquadradas, com problemas de iluminação.
Mas isso importa? Não. Se os turistas quisessem uma foto da Monalisa, iriam a qualquer barraquinha nos arredores e comprariam uma foto bem feita, bem enquadrada, em reproduções de ótima qualidade.
Ou seja: o que menos importa é o quadro. A fotografia tirada da Monalisa dirá apenas: eu estive ali. Importa o dono do celular, o eu. Não importa a Torre Eiffel ao fundo, as Cataratas do Iguaçu, o Big Bem esfumaçado lá longe. Importa o turista se exibindo.
O ego em primeiro plano, o mundo em segundo.
A paisagem é pretexto.
Por isso as selfies me intrigam tanto. São uma espécie de não-fotografia. Nelas os rostos saem bolachudos, os lábios parecendo estufados por botox, os olhos arregalados e o sorriso mecânico. No entanto, é a glória. O fotografado esteve lá ou esteve com. Logo essas fotos serão exibidas numa reunião familiar na qual, em dez minutos, todos estarão bocejando.
Nessa compulsão por fotos de si mesmo, se encontra a eterna ansiedade humana, hoje lutando contra o anonimato. Quem fotografa está sempre fotografando a si mesmo. E tenta vencer o tempo, aprisioná-lo num arquivo digital. E quer sair da multidão.
É inútil querer fixar o tempo. Não só pelas selfies, mas pela busca da eternidade em vida, na obstinação da forma física, das academias, das vitaminas, das cirurgias plásticas. Haja cliques e haja botox.
Ocorre que o que se fotografa também envelhece. Basta observar uma foto tirada há alguns anos. Aquela da formatura, de uma viagem à praia, do baile de casamento. Veja como tudo ali envelheceu. As calças estão fora de moda, as camisas parecem jeca, as blusas, uns trambolhos. E os penteados? Quem hoje sairia à rua com um penteado empinado por litros de laquê?
Eis aí: o que fotografamos envelhece, mas as boas fotos, não.
Se olharmos essas fotos com atenção, observaremos que casas, móveis, ruas, vestes, tudo mudou e conta uma história.
O motivo é simples: a fotografia, ao contrário da crença geral, não registra o presente. Registra sempre o passado. Mesmo quando foi tirada há segundos.
Anos depois, a cena retratada chega a ser motivo de riso pelas roupas e chapéus e sapatos. As fotos registram justamente isso: o tempo não para.
No entanto, envelhecer é uma virtude das fotos. Registrar o passado é seu grande mérito. O equívoco é coloca-las no lugar do presente. O turista mal estaciona diante da Monalisa, mal sabe quem foi Da Vinci, e já dispara a foto e capta um incomum povoamento de cocurutos no rodapé do quadro famoso.
Por isso é bom cuidar do mundo a nossa volta, é nele que vivemos. Observe atentamente a Torre Eiffel e compre uma foto na banquinha da esquina. Observe extasiado as Cataratas do Iguaçu e mergulhe por inteiro naquele espetáculo colossal. Se quiser, tire fotos, mas saiba que elas não substituem sua experiência pessoal.
A fotografia é um dos instrumentos mais notáveis de que dispomos. Pode ser uma arte refinada. Nos ensina, nos humaniza, nos diz de onde viemos, o que éramos, quem eram nossos pais e avós e como viviam, registra um mundo inteiro de experiências pessoais e culturais.

Mas sempre no passado. Então, desça do ônibus com calma, percorra o parque, a praça, a rua, olhe para os prédios e para as pessoas, as telas e esculturas e não deixe que o celular, mais uma vez, tome o lugar de seus olhos, de seu cérebro, de sua sensibilidade.





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