Todos os países criam sua
violência específica. Os EUA são um país que coloca a vingança pelas armas como
algo emblemático. O país foi estabelecido entre enforcamentos e balas de Colt.45.
A violência está no
coração da América. O país foi gerado num misto de espírito desbravador,
trabalho árduo e violência. Em nenhum lugar o xerife foi uma figura tão
emblemática. Uma estrela no peito e um Colt.45 na cinta, eis a imagem da
justiça na mente americana.
Mas a violência não é
exclusividade dos EUA. O Brasil tem dado exemplos perversos de violência – tal
como na degola, uma prática corrente na história brasileira, em particular no
final do século XIX, quando da Revolução Federalista. Ocorre que nos EUA não se
trata só de violência, mas de um culto da violência. A violência não apenas
como vingança, como crueldade bruta, como evento sanguinário, mas como uma
extensão do individualismo norte-americano: o indivíduo justiceiro. Justiça
feita com o revólver do cowboy, a corda do enforcamento, o murro do super-herói.
Há uma espécie de aura sagrada em torno da violência no universo mental norte-americano.
Muito se discutiu,
talvez inutilmente, se a violência mostrada nos filmes não levaria a mais
violência. A questão se coloca, penso eu, não apenas porque filmes retratam
atos de violência, mas porque no universo ficcional norte-americano, a
violência é glamourizada.
Essa violência em
estado bruto, não é vista como crime ou desrespeito à vida, mas como um momento
excepcional de aplicação dos ideais americanos. Não é sem motivo que o país se imaginou
– e se imagina ainda – como uma espécie de justiceiro da ordem mundial.
Outra face dessa mitificação
do justiceiro se une à grosseria, ao culto do machão estúpido, ao elogio da
ignorância.
Ao juntarmos esses dados
entendemos a eleição de Trump.
Ele não é apenas uma
massa bruta de burrice. Ele se orgulha de sua brutalidade e glamoriza a violência.
É uma criatura inflada de egolatria e de um orgulho arrogante. Eis nos diz: eu
sou o grosso que tem a força, eu sou o estúpido que tem o dinheiro, eu sou o
poderoso que poderá massacrá-los. Ele não tem respeito por ninguém, é incapaz
de amar ou de sentir compaixão ou de ser generoso. Daí desprezar as mulheres,
caricaturar deficientes físicos, ser racista.
Ele não é a América que
admiramos, aquela do jazz, da literatura notável, dos filmes brilhantes, dos
feitos tecnológicos.
Trump é uma das
encarnações de Homer Simpson.
Trata-se de um sujeito
grosseiro e ressentido, cujo cérebro sofre de uma deficiência de sinapses e
neurônicos. É um modelo de mediocridade. Não estudou e não leu nada. Despreza a
inteligência. É o homem sem refinamento que se vangloria da própria ignorância.
Arrota em público, engole sanduíches repugnantes e litros de cerveja. Só pensa
no seu umbigo. Trata sua mulher como um lixo, e os filhos como trambolhos que
impedem seu desejo de ficar em frente da TV vendo partidas de rúgbi enquanto se
embebeda.
Tal como Homer Simpson,
Trump é um piadista grosseiro que pode eventualmente passar a mão na bunda de uma
mulher e se gabar de ser capaz de levar qualquer uma para a cama.
A classe média ressentida
elegeu Homer Simpson. E nós teremos que conviver com esse tipo pelo menos por quatro
anos, sem sabermos o número de besteiras que será capaz de produzir.
Se a síndrome do cowboy
justiceiro encarnar no Trump, estaremos fritos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário