Nem
o olhar mais distraído deixa de perceber que, entre os filósofos, as mulheres sempre
estiveram, para usarmos de delicadeza, em segundo lugar.
Alguns
deles foram acidamente críticos quanto ao chamado belo sexo. Schopenhauer dizia
que seriam seres de cabelos longos e ideias curtas. Vale lembrar que ele é,
entre todos os filósofos, o mais rabugento, sendo que a rabugice não é rara
entre essas criaturas que se dedicam ao pensamento abstrato. Compreende-se
assim sua aversão ao feminino. Afinal, mulheres são seres concretos. Muito
concretos. Demasiadamente concretos, segundo alguns.
Lembro-me
de uma charge de Millôr Fernandes na qual a mulher de Pitágoras lhe passa uma esculhambação:
-
Mas que bobagem é essa que você rabiscou aqui na toalha de mesa?! Que droga é
essa de que o quadrado da hipotenusa é a soma de não sei quê?
Se
as mulheres são seres concretos, os filósofos são criaturas cuja cabeça parece
errar (nos dois sentidos) quilômetros acima do chão no qual pisamos.
Como,
graças aos céus, tenho leitoras do sexo feminino, devo alertar que não estou
criticando essas doces criaturas – estou em sua defesa, por isso falo (sem
duplo sentido) dos seus inimigos e as defendo como posso.
É
bom lembrar que nascemos de uma mulher, tendo ficado nove meses em seu ventre,
lugar seguro e quentinho e de onde fomos retirados a custa de muito suor e
lágrimas. E cabe dizer que somos criaturas indefesas, salvos pelas mulheres de
morte certa.
Vejamos.
Entre os animais, os recém-nascidos têm como se defender. As girafinhas nascem
com pernas enormes, mas de imediato se colocam de pé. Cães e macacos nascem
sabendo nadar e as tartaruguinhas chegam ao mundo sabendo onde está o mar. E enfrentam
as ondas com a classe de um surfista tarimbado. Um recém-nascido humano morre
em seguida se não for acolhido pelo colo de uma mulher. Se depender de um
homem, salvo casos raros, terá problemas.
Somados,
passamos mais tempo junto delas do que deles – o que, devo admitir, é uma
delícia.
Freud,
sólido germânico, além de ter dito, já no final da vida, que não sabia o que
queriam as mulheres, inventou de atazaná-las com suas ideias a respeito do que
chama de inveja do pênis. Ou seja, as mulheres se sentiriam inacabadas e sem os
poderes que um pênis lhes daria. Fantasias, é claro, delas e do Freud.
Como
podem ver, acho que as mulheres foram um grande achado. Mas ando ruminando coisas
na minha pobre cabeça. Me refiro ao tal empoderamento. Começa que, do ponto de
vista estético, é um palavrão de mau gosto. É pesado, sólido, parece um bloco
de concreto armado desabando em plena conversa.
Imitar
o que há de pior nos homens não me parece boa ideia. Poder é coisa masculina e
temo que seu sucesso permitiu aos homens compensar sua eterna dependência das
mulheres. Sentem-se poderosos e posam de donos do mundo.
Enfim,
as mulheres poderiam encontrar conceito melhor para garantir a sua, a meu ver,
inegável excelência.
Em
resumo, Schopenhauer e Freud não sabiam de nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário