quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Nasko


Tinha esse nome selvagem e áspero: Nasko. Mas tinha também uma certidão de nascimento na qual constavam inclusive seus avós e bisavós. Todos puros cães huskies.
Cão? Nunca me convenci. Os huskies são lobos ou pelo menos uma criatura inédita entre o cachorro e o lobo. Mostra disso é o seu campo de interesse: muitos quilômetros, motivo pelo qual, dizem, se fugir de casa, não sabe voltar. Não é que não saiba. É que vai longe, anda muito, não volta. Não tem interesse em voltar. Deixassem, continuaria andando outros vinte quilômetros.
Era orgulhoso, nobre, metido. Não obedecia a ninguém. É verdade que a mim ele fazia de conta que obedecia. Me olhava com aqueles luminosos olhos azuis, ficava imóvel, mostrando que, se quisesse, continuaria na mesma. Depois, expressando profundo desprezo pelo mundo, se afastava. A passos lentos. Como quem deixa para lá e não quer se aborrecer.
Não latia, embora soubesse latir. Uivava, como todo lobo. E conversava. Quando queria comida ou entrar em casa – adorava entrar em casa para sentar na poltrona, a cabeça erguida como um monarca observando seus domínios – ficava de pé junto à janela e desenvolvia uma conversação rouca e insistente. Eu respondia num palavreado qualquer e ele seguia a conversa, cada vez mais impaciente. Não desistia enquanto não fosse atendido.
Era nobre e orgulhoso. Independente e insubmisso. Solitário e resmungão. Belíssimo.
Perdi um grande amigo quando ele morreu. Aliás, soube morrer como um sábio.

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