quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cachoeira abaixo, lá vai o Brasil descendo a ladeira


Escândalos já não causam espanto a ninguém. Eclodem a cada dois ou três dias, alguns com nomes engraçados, com a Polícia Federal investigando e denúncias na imprensa. As denúncias da imprensa costumam receber severos desmentidos do governo e as ações da PF são colocadas em questão por políticos e burocratas. Dias depois, um ministro ou chefete de alguma repartição cai – quer dizer, a coisa fazia sentido. O que não impede que se passe a mão na cabeça do derrubado. Vejam a coleção de agrados de Lula e Dilma dirigidos a alguns dos que caíram em desgraça.

A Polícia Federal passou meses investigando, juntando papelada, apreendendo computadores, acumulando centenas de horas de gravações. Nada que impeça declarações de advogados declarando que aquilo que está gravado não é o que está gravado, motivo pelo qual não se deve ouvir o que se ouve, pois não havia autorização para quebrar sigilo. Na verdade, havia, sim, mas advogados são assim mesmo e servem para isso mesmo. Já aconteceu de advogados e políticos pretenderem transformar o que foi apurado em arma contra quem fez a denúncia. O mesmo de sempre.

Até o momento em que escrevo, o escândalo da hora é o do Cachoeira, que, além do nome engraçado, tem algumas coisas que o tornam diferente.

Ao que tudo indica, nasceu do desejo de vingança de Lula contra o episódio do mensalão (há nome mais engraçado do que esse?), pois o ex-presidente jurou que ia mostrar que o “mensalão era uma farsa” e que “todos os partidos fazem a mesma coisa”. A lógica de Lula é mais ou menos a seguinte: se conseguirmos provar que os que nos acusam são sujos, isso significa que todos são sujos, tanto nós quanto eles, portanto ninguém é limpo, ou melhor, todos são limpíssimos, pois se trata de procedimento próprio da política etc., coisa normal, só os ingênuos não querem aceitar.

Ocorre que, uma vez disparado o míssil que Lula imaginou, começaram a se espalhar estilhaços para todos os lados, inclusive na direção da cabeça de alguns companheiros. E agora? Tentou-se voltar atrás, mas era tarde. Tentou-se segurar o congresso, mas a chamada opinião pública e certo pudor residual em alguns setores passaram a exigir que a investigação continuasse, pouco importando os alvos que fossem atingidos.

Temos então a figura central, o Cachoeira em pessoa. Trata-se de uma figura característica dos tempos que a República vive. É meio jeca, é bronco, é debochado, é bicheiro, é empresário de jogos de azar, teria uma rede de empresas, é influente em nomeações, em patrocínios de campanhas, em propinas, em subornos etc.

Revendo imagens do Cacheira dando depoimento no Congresso, me chama a atenção que ele tem um ar de sorridente desafio nos lábios. Não sei se ele mantém a mesma empáfia após esses meses de cana, quando, dizem, emagreceu 16 quilos. Suspeito que sim.

Tipos como o senhor Cachoeira, sabem demais, têm uma lista com a relação dos subornados, com os favores que patrocinaram, com as licitações que compraram, os cargos que disputaram, as propinas distribuídas. Ou seja, ele sorri para mostrar a todos que sabe de tudo isso e que, assumidamente, é uma bomba relógio. Se explodir, leva uma multidão com ele. Que o defendam, portanto.

Outros personagens, em outros escândalos, já estiveram em lugar equivalente ao que hoje ocupa o Cachoeira. O marqueteiro Marcos Valério, por exemplo. Mas esse jamais posou com cara de desafio. Aguentou o tranco, deu uns pontapés para garantir que fosse protegido, aquietou-se. Continua solto e, quem sabe, bolando campanhas para futuros candidatos. É do ramo.

Agora, ou eu muito me engano ou esse Cachoeira está fazendo tremer as bases de políticos, burocratas e empresários – a entrada na roda de Cavendish, da Delta, completa o triângulo sem o qual não há corrupção. E se ele, para safar-se das safadezas que promoveu ou das quais participou, resolve indicar seus asseclas (ô palavrinha adequada!)?

Em postagem anterior, resumi minha perplexidade dizendo que no Brasil não existem políticos honestos, existem políticos que ainda não foram investigados.

Sabe disso a maioria dos políticos e partidos e empresários nacionais. Pelo que estarão todos com as calças nas mãos, expressão que meu pai usava com uma malícia que só ele era capaz de sugerir.

Quanto a mim, desejo que o Cachoeira os carregue.

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