Escândalos já não causam
espanto a ninguém. Eclodem a cada dois ou três dias, alguns com nomes
engraçados, com a Polícia Federal investigando e denúncias na imprensa. As denúncias
da imprensa costumam receber severos desmentidos do governo e as ações da PF
são colocadas em questão por políticos e burocratas. Dias depois, um ministro
ou chefete de alguma repartição cai – quer dizer, a coisa fazia sentido. O que
não impede que se passe a mão na cabeça do derrubado. Vejam a coleção de
agrados de Lula e Dilma dirigidos a alguns dos que caíram em desgraça.
A Polícia Federal passou
meses investigando, juntando papelada, apreendendo computadores, acumulando
centenas de horas de gravações. Nada que impeça declarações de advogados declarando que aquilo que
está gravado não é o que está gravado, motivo pelo qual não se deve ouvir o que
se ouve, pois não havia autorização para quebrar sigilo. Na verdade, havia,
sim, mas advogados são assim mesmo e servem para isso mesmo. Já aconteceu de advogados
e políticos pretenderem transformar o que foi apurado em arma contra quem fez a
denúncia. O mesmo de sempre.
Até o momento em que
escrevo, o escândalo da hora é o do Cachoeira, que, além do nome engraçado, tem
algumas coisas que o tornam diferente.
Ao que tudo indica,
nasceu do desejo de vingança de Lula contra o episódio do mensalão (há nome
mais engraçado do que esse?), pois o ex-presidente jurou que ia mostrar que o “mensalão
era uma farsa” e que “todos os partidos fazem a mesma coisa”. A lógica de Lula
é mais ou menos a seguinte: se conseguirmos provar que os que nos acusam são
sujos, isso significa que todos são sujos, tanto nós quanto eles, portanto
ninguém é limpo, ou melhor, todos são limpíssimos, pois se trata de procedimento
próprio da política etc., coisa normal, só os ingênuos não querem aceitar.
Ocorre que, uma vez
disparado o míssil que Lula imaginou, começaram a se espalhar estilhaços para
todos os lados, inclusive na direção da cabeça de alguns companheiros. E agora?
Tentou-se voltar atrás, mas era tarde. Tentou-se segurar o congresso, mas a
chamada opinião pública e certo pudor residual em alguns setores passaram a
exigir que a investigação continuasse, pouco importando os alvos que fossem
atingidos.
Temos então a figura
central, o Cachoeira em pessoa. Trata-se de uma figura característica dos
tempos que a República vive. É meio jeca, é bronco, é debochado, é bicheiro, é
empresário de jogos de azar, teria uma rede de empresas, é influente em
nomeações, em patrocínios de campanhas, em propinas, em subornos etc.
Revendo imagens do
Cacheira dando depoimento no Congresso, me chama a atenção que ele tem um ar de
sorridente desafio nos lábios. Não sei se ele mantém a mesma empáfia após esses
meses de cana, quando, dizem, emagreceu 16 quilos. Suspeito que sim.
Tipos como o senhor
Cachoeira, sabem demais, têm uma lista com a relação dos subornados, com os
favores que patrocinaram, com as licitações que compraram, os cargos que disputaram,
as propinas distribuídas. Ou seja, ele sorri para mostrar a todos que sabe de
tudo isso e que, assumidamente, é uma bomba relógio. Se explodir, leva uma
multidão com ele. Que o defendam, portanto.
Outros personagens, em
outros escândalos, já estiveram em lugar equivalente ao que hoje ocupa o
Cachoeira. O marqueteiro Marcos Valério, por exemplo. Mas esse jamais posou com
cara de desafio. Aguentou o tranco, deu uns pontapés para garantir que fosse
protegido, aquietou-se. Continua solto e, quem sabe, bolando campanhas para
futuros candidatos. É do ramo.
Agora, ou eu muito me
engano ou esse Cachoeira está fazendo tremer as bases de políticos, burocratas
e empresários – a entrada na roda de Cavendish, da Delta, completa o triângulo
sem o qual não há corrupção. E se ele, para safar-se das safadezas que promoveu
ou das quais participou, resolve indicar seus asseclas (ô palavrinha adequada!)?
Em postagem anterior,
resumi minha perplexidade dizendo que no Brasil não existem políticos honestos,
existem políticos que ainda não foram investigados.
Sabe disso a maioria
dos políticos e partidos e empresários nacionais. Pelo que estarão todos com as
calças nas mãos, expressão que meu pai usava com uma malícia que só ele era
capaz de sugerir.
Quanto a mim, desejo
que o Cachoeira os carregue.
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