Os políticos fazem da
mentira uma rotina de vida. Uma tática e um direito dos governantes. Acredito que
alguns deles, após tanta malandragem, acabam se convencendo de que estão agindo
da forma mais correta possível, cumprindo seu papel de condutores dos povos, o
que exige valores e comportamentos diversos daqueles que cabem ao comum dos
mortais. Ao dirigente é legítimo guardar segredos sobre assuntos de interesse público, escamotear a verdade, omitir
fatos, dizer que não sabia de nada. Enfim, mentir descaradamente, o que seria
uma exigência de suas altas funções.
A mentira sempre
existiu na vida política, mas só era apresentada como justificável quando se
tratasse de efetivos interesses de estado, sobretudo durante as guerras. Para
não entregar informações valiosas aos inimigos, era legítimo mentir. Mentem – é
a teoria expressa em filosofia política – em benefício dos altos interesses do Estado.
No entanto, a mentira –
insidiosa como sempre presente – se metamorfoseou em coisa que pode ser usada
em todos os níveis do poder e em todas as situações políticas. Seja para proteger
apaniguados, aloprados ou partidários pegos com a boca na botija, seja para
escamotear dados, ocultar informações ou fazer teatro para ocultar problemas
sérios em favor de questiúnculas secundárias.
No dia doze
passado, a presidente Dilma, aproveitou sua fala na 9ª Conferência Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente para defender que a grandeza de uma nação
é medida pelo que faz por suas crianças e adolescentes e não pelo Produto
Interno Bruto (PIB). Uma argumentação aparentemente muito
sensata e defensável, não fosse um truque marqueteiro.
A presidente na verdade
está com um problema entalado na garganta. A economia brasileira cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre. Foi essa onipresente e
pantagruélica figura da macroeconomia, que levou Dilma à peroração em favor de
outros objetivos e outras formas de se medir a atuação do governo, no caso, o
cuidado com a juventude e a infância.
Trata-se portanto de
cortina de fumaça, má-fé, malandragem, pois o constante – e isso vale para
todos os governantes em momentos de ventos a favor – é os políticos, a cada
anúncio de índices favoráveis, seja o PIB, algum índice de agência internacional,
dados de pesquisa favorável, nota do risco do país, inflação etc., se vangloriarem, mesmo quando eles em nada contribuíram para tais índices
favoráveis e que, de resto, são bastante questionáveis.
Esse jogo de espelhos
entre governantes e governados é, além de eticamente detestável, politicamente
deseducativo. Trata-se da trapaça erigida em grande lance de sabedoria
política.
O fato é que, nas
escolas, creches, bibliotecas, hospitais, postos de saúde, crianças,
adolescentes seguem desrespeitados por atendimento de quinta categoria.
A argumentação de Dilma é pura fumaça e não está ligada a políticas efetivas
colocadas em movimento pelo seu governo.
Desta forma, o que vale
num momento, não vale em outro. O que é principal num caso, não é no outro.
Isso se chama manipulação. Palavras de conveniência. Em resumo, mentira.
E nós, o povo, aqui com
cara de palhaço.
Perdoe-me por comentar como "anônimo"; minha ignorância vai ao ponto de nem saber o que significa URL.
ResponderExcluirEntão: vi e ouvi o pronunciamento da presidente a que se refere e pensei: se minha avó ouvisse isso, diria "o que é que tem o..." (Não, não dá pra escrever o que ela diria...) Seria algo assim como 'o que é que tem a ver uma coisa com a outra?' Até a gente, despreparada no entendimento da retórica da coisa pública, sentiu o artificialismo da comparação. Só não sabemos explicá-la, assim como o faz - magistralmente - o seu texto. Obrigada!
Prezada "Anônimo". Agradeço o comentário e declaro aqui que sua avó teria, nesse caso, todo o direito de usar a conhecida expressão com todas as letras e implicações.
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