Raio atinge Basília de São Pedro. Foto de Filippo Monteforte |
O sonho de todo
cronista é acordar um belo dia, depois de uma noite bem dormida, e abrir seu
texto escrevendo um sonoro “Bons Dias”, como fez Machado de Assis nos anos 1888 e 1889, no jornal Gazeta de Notícias.
Mas seriam bons dias
esses que correm por aqui?
Talvez sim, mas a
primeira notícia que nesse dia 15 me chega pelo rádio – sempre mais ágil do que
a televisão – fala da queda de um meteoro nas proximidades da cidade de Chelyabinsk, região dos Montes Urais. Pelo jeito não foi
uma pedrinha qualquer, mas – e logo em seguida foi possível ver pelas imagens
postadas na Internet – uma bola de fogo que incendiou os céus da região,
terminando em explosão.
O leitor,
sempre mais equilibrado e tranquilo do que eu, dirá que não foi tão trágico, apesar
dos quase mil feridos.
Concordo
com o leitor. Mas acontece que há entre nós (eu e o leitor, me explico) não
apenas uma distância física mas também uma distância no tempo. O leitor
está lendo esse texto hoje, enquanto que eu estou aqui no dia 15, escrevendo.
Ou seja, o leitor já sabe de tudo que aconteceu nesse tempo que nos separa,
enquanto que eu, além da queda do meteoro, tenho que me haver com o anúncio de um asteroide
que passará a míseros 27 mil quilômetros do nosso pobre
planetinha.
Como se
vê, um “Bons dias” nesse caso é quase uma temeridade.
Convenhamos
que, para qualquer um de nós, mortais presos à lei da gravidade, de pés muito
grudados ao chão e com meios de transporte que ainda não chegaram à física quântica,
essa distância é muita coisa. 27 mil quilômetros. O máximo que consigo imaginar
é algo como 400 quilômetros até São Paulo ou 700 até Porto Alegre – além disso
se encontra para mim o inominável.
Mas,
olhado do ponto de vista do asteroide, é pouco. Se passarmos uma régua na sua trajetória
e fizermos um desvio de alguns poucos graus, lá vem ele em nossa direção.
Ainda bem
que o fim do mundo anunciado para 12/12/2012 já se foi, resultando
apenas num grande vexame, senão a essas alturas teríamos gente correndo de um
lado para outro pelas avenidas das cidades. Se o asteroide e esse tal meteoro adiantassem
sua viagem em dois meses o tumulto seria geral e todos nos sentiríamos num
desses filmes que Hollywood adora fazer, com correrias, explosões, pavor.
Mas, veja
o leitor, a assim chamada realidade é coisa bem diferente, o que nesse caso nos
deixa mais tranquilos. Não houve o fim do mundo – pelo menos até onde sabemos –
o meteoro só passou de raspão, e o asteroide, sou capaz de apostar, vai
permanecer lá nas suas alturas sem causar estragos no nosso planeta. Ali pelas
17 horas vou olhar pela janela e não verei mais do que o céu de sempre e
continuaremos nossa viagem espaço afora sem maiores sobressaltos.
Mas sei
que o leitor pode estar rindo com essa minha crise de otimismo. Pois aconteceu
outra coisa espantosa por esses dias. O Papa renunciou – o que é inacreditável
para quem vive no Brasil, país onde ninguém renuncia a nada. Nem condenados pelo
mais alto tribunal do país renunciam a alguns dias na Câmara dos deputados. E
não adianta lembrar Jânio Quadros, pois ele apenas confirma a regra: realizou
uma falsa renúncia, tentativa de retornar logo em seguida, estratégia na qual
se deu mal.
Mas, como
falei no Papa, devo explicar. É que no dia de renuncia foi filmado – tudo é
filmado nesse mundo abarrotado de celulares – um raio atingindo a cúpula da Basílica
de São Pedro, no Vaticano.
Sinal dos
tempos? Um meteoro, um asteroide, um raio. É muita coisa. Ou não é nada,
convenhamos. O planeta, como acontece todos os dias, segue em frente, para
gosto ou desgosto de cada um de nós.
Portanto,
se não iniciei como Machado de Assis, encerro tranquilamente à maneira dele:
Boas
noites.
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