domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sai Sarney, entra Renan. Só mudam as moscas




 

Ao contrário de outros bichos e homens menos perversos, que para se sujarem precisam ser levados a um lugar sujo, forçados a isso ou não, os políticos brasileiros são criaturas que se sujam espontaneamente, chafurdam na lama e na merda, se lambuzam em maus cheiros e fedores, se besuntam com as misturas mais fétidas. E, pior: em público. Como se nada de anormal estivesse acontecendo. Com uma naturalidade serena. Ontem ele disse isso, hoje diz aquilo. Nada a estranhar. Ontem trocou tapas e rasteiras com Fulano, hoje troca com ele beijos e carinhos. É da política, que muda como nuvens no céu etc. Ontem se disse socialista, hoje não se diz coisa alguma, apenas espeta o nariz de ratazana no ar para sondar que declarações seria oportuno declinar ao distinto público. Quando acusado, se faz de vítima, sendo que todos sabem que é um safado. Não pecou contra nenhum dos mandamentos da lei, jura fazendo figa por baixo do jaquetão.
Tudo isso para situarmos a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado. É claro que já não tínhamos muito a comemorar, pois a presidência de tal casa legislativa já vinha sendo ocupada – há quantos séculos?! – por uma figura repugnante como José Sarney, o rei do malabarismo oportunista e monárquico brasileiro. Trocar Sarney por Renan é trocar bosta por merda, seis por meia dúzia, estamos conversados.
Mas, no caso dessa eleição, dessa candidatura, desse novo reizinho das maracutaias, há uma dado que aumenta a lama emporcalhada em que tais personagens se movimentam. Renan já sofreu processos, ameaça de cassação, renunciou para não ser cassado etc. etc., o que se sabe, fora o que não se sabe. Mas é, além disso e principalmente, um tipo de sujeito sem qualquer ossatura intelectual. Pense o leitor: o que pensa o senador Renan? Que convicções terá? É racionalista por acaso? É um apóstolo da educação, da saúde, da agricultura, das implantação de novas indústrias, um proponente de novas tecnologias? Luta pelos pobres? Luta pelo ricos? Pensa no futuro da humanidade?
Ocorre o seguinte com esse triste tipo de criatura: ele não pensa nada. Ele não é nada. Ele é oco por dentro e por fora, ele se amolda segundo as chuvas e ventos, ele é um tipo emporcalhado pela lama onde vive e que se remexe de um lado para outro e faz pose, hoje epicurista, amanhã malabarista, sorrindo sempre, cumprimentando excelências, pedindo data vênia, tomando providências etc.
Por isso está na presidência do Senado. É o idiota da família, o arquetípico representante de toda a tribo: tem todos os seus defeitos em grau máximo e todas as suas qualidades também em grau máximo, sendo que nesse caso defeitos e qualidades se equivalem: todas estão a serviço da sabujice, da pose, do arroto de sabedoria postiça, do engodo, da mentira pura e simples, da tapeação, pois para tais tipos a política é a arte de trapacear.
Uma tropa de trapaceiros, teledirigida pelo governo (é o candidato da dona Dilma, do Lula e dos petistas), dos aliados (esses partidos de aluguel), do PMDB (partido dos mais fedorentos de que se tem notícia em nossa história).
E nós?
Estaremos pensando na Copa? Na praia, nas férias, nos juros baixos para comprar bugigangas? Pensando no bolsa-família? Pensando que o Brasil é assim mesmo? Que não há o que fazer?
Ou não estamos pensando nem fazendo nada, por ser mais confortável?
Pobre e triste povinho brasileiro.




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