Caminhava pensativo quando
ouviu o chamado:
- Ei, senhor! Foi do
senhor que roubaram a magnólia branca?
No outro lado da rua
viu uma mulher idosa e um cachorrinho.
- Não, respondeu ele.
Não fui eu.
- Não é possível!
gritou a mulher. Juro que era o senhor.
- Sinto muito, mas
eu... quer dizer... Eu não fui roubado.
- O senhor não estava
amarrando o tênis quando veio um rapaz e roubou a magnólia? Um rapaz magro e
alto.
- Não, não – disse ele,
tentando retomar seus passos.
Ela o interrompeu:
- Espere um pouco, por
favor.
Atravessou a rua, quase
degolando o cachorrinho.
- Deixa eu ver, disse
ela.
O observou de frente,
de perfil e de costas, dando uns pulinhos para os lados e exclamou:
- Não é possível!
Juraria que foi o senhor.
- Lamento. Nada sei dessa
magnólia branca.
- Mas deveria.
-
Deveria?
- Claro. Precisa ver
como o senhor... quer dizer, o tal que é a sua cara, ficou desesperado. Mas o
ladrão sumiu feito um risco.
- É, brincou ele,
ladrões costumam ser rápidos.
- O senhor não está me
levando a sério.
- Absolutamente.
- Fiquei preocupada com
o seu... quer dizer, com o desespero do homem. Tanto que mudei o caminho por
causa do Felipe.
- Felipe?
- Meu cãozinho.
Ele olhou para o
cãozinho, que o observava em agonia, o pescoço torto enforcado na coleira.
- Pois o Felipe parecia
saber de alguma coisa. Me fez ir até a avenida... – ela abriu os braços e o
Felipe gemeu esgoelado – E o que vejo?
- O ladrão com a
magnólia.
- Não. O ladrão sem a
magnólia. Passou correndo por mim.
- E a senhora achou a
magnólia?
- Aí é que está. Não achei.
- Então...
- Bom, o senhor poderia
ir até a avenida procurar por ela.
- Mas para que eu vou
querer uma magnólia?
- Aí que o senhor se
engana. Magnólia é muito bom. Faz um bem danado.
- Não parece. O tal
sujeito que tinha a magnólia foi assaltado...
- Por isso mesmo. Quem
não tem, rouba. Dá sorte. O senhor se daria bem com ela. Deve ir até a avenida
para verificar. Quem sabe o ladrão a largou na calçada. Tudo é possível.
- É verdade, concordou,
tudo é possível.
- Certo. Por isso não
deixe de recuperar a magnólia que roubaram do senhor... quer dizer... de alguém
como o senhor. Dá no mesmo.
Vencido, jurou ir à
avenida e procurar a magnólia. Ela arrastou o Felipe pela rua e, lá do outro
lado, gritou:
- Tá vendo? Eu sabia
que era o senhor!
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