Um desses líderes de governo (ou assemelhados, tropa de apoio, talvez) enunciou
mais uma vez uma frase estúpida e oportunista – repetida como se fosse
expressão de suma sabedoria e retidão democrática – a respeito da
decisão do STF que absolve os mensaleiros do crime de formação de quadrilha:
-
Decisão da justiça não se discute. Cumpre-se.
A
frase é idiota em si mesma. Se por um lado é necessário cumprir as decisões da
justiça, por outro lado, numa democracia, tudo está em permanente discussão,
inclusive as sentenças que saem da cabeça de juízes. Ocorre que o Brasil, além
de sua tradição ditatorial, é um país no qual governantes e políticos são
despidos de espinha dorsal reflexiva. Jogam para a plateia, desconversam, são
ratazanas em busca de um bom bocado, seja ele qual for.
Outra
idiotia, com fedores de pilantragem: juízes togados e de fala complicada, assemelhada
de longe à língua portuguesa, engataram uma ré no STF e declararam que no
mensalão não houve formação de quadrilha.
Ora,
se houve mensalão – e o STF condenou mensaleiros – houve formação de quadrilha.
Por outro lado, se não houve quadrilha, não houve mensalão.
Teremos
que acreditar que tudo não passou de uma soma de coincidências. Um liberava
grana num banco, outro depositava essa grana no exterior, outro repassava essa
grana a líderes de partidos, políticos recebiam a grana e votavam conforme o pedido.
Ao ver da maioria dos juízes tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo e com os mesmos
personagens não caracteriza quadrilha.
Agora,
se quatro pobres diabos se juntam para assaltar uma quitanda – um vigia na porta,
outro empunha a arma e dois limpam o caixa – serão acusados de formar
quadrilha.
Devemos
concluir assim que os mensaleiros são criaturas inocentes, vítimas de coincidências.
Ocorre que um banco deu a grana a um, o outro a encaminhou etc. etc. Tudo sem
querer, ao acaso, na maior inocência.
Com
a recente decisão– que contou com votos suspeitíssimos de nomeados de última
hora por essa senhora que faz pose de gerentona correta – o STF naufragou.
Mas
o que se anuncia é ainda pior. Advogados dos mensaleiros estão aguardando a
aposentadoria do Barbosa para, com algum ministro “adequado” nomeado pela
Dilma, pedir a simples e pura anulação do julgamento. É claro: se não houve
quadrilha, não houve mensalão etc.
Será
o naufrágio final, a desmoralização do STF, da justiça brasileira, do PT, da
Dilma e de Lula. A desmoralização da democracia brasileira. A vitória do
oportunismo das ratazanas.
Haverá
como evitar tudo isso?
Já
não estou tão certo. Um país que não tem coluna vertebral reflexiva não pode
ter coluna vertebral ética.
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