quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A moda é viola




O violeiro. José Antônio Silva (1909-1996). Óleo sobre tela.


Eis um livro que eu pensava faltar na bibliografia da música caipira. Eu estava errado. Embora o autor, Romildo Sant’Anna, seja meu conhecido – à distância, é verdade, nos vimos em São José do Rio Preto no século passado, início da década de 1980; foi uma vez só mas foi o suficiente – eu desconhecia que ele havia cometido esse Ensaio do Cantar Caipira, subtítulo do livro A moda é viola.
Conhecia Romildo – professor, jornalista – como um estudioso da cultura popular, em especial como o pesquisador dedicado do pintor “naïf” José Antônio Silva, que o próprio Romildo apresenta assim em página da internet:

“Criado na roça e filho de humildes meeiros, José Antônio chegou a Rio Preto bem jovem, a capinar em sítios e fazendas da região. Sua disposição para a arte o chamou para a cidade, em finais de 1930. Sem eira nem beira, foi alojado com a mulher e seis filhos descalços, nos fundos do Centro Espírita Allan Kardec de São José do Rio Preto. Realizava o serviço que aparecia, de carroceiro e pedreiro a guarda-noites de hotéis. Já famoso em São Paulo na década de 1950, e por indicação do governador Adhemar de Barros, lhe foi dado emprego na Prefeitura Municipal.  Era o faxineiro da Biblioteca.  Muito antes já havia criado uma pequena Galeria de Arte em sua residência. Nem sabia o matuto da roça que estava criando o primeiro Museu de Arte na cidade que o acolhera.”

Hoje a obra de José Antônio Silva se encontra abrigada no Museu de Arte Primitivista "José Antônio Silva", em São José do Rio Preto, fundado e dirigido por Romildo.

Mas o caso aqui é a moda e a viola. Esse devorteio foi só para apresentar o autor.
Já o livro é uma alentada obra saída em primeira edição no ano de 2000 e que chegou em 2015 a esta terceira edição ampliada. São robustas 552 páginas nas quais o autor minuciosamente – mas com uma linguagem solta e agradável, cheia de vida, tal como os ponteios de viola – estuda e expõe a cultura caipira e sua música. É claro, destrói preconceitos e ideias feitas. Situa essa expressão cultural no seu meio, no seu seio – e lhe dá o devido valor. É impossível não sentir desde as primeiras páginas a paixão com que o autor se debruça sobre esse tema, que não é para ele coisa de academia, mas fonte de vida, tal como a pintura de José Antônio Silva.

Eis aí, violeiros desse Brasil afora, quem quiser falar sobre cultura caipira sabendo do que está falando tem obrigação de ler essa obra fundamental.





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