Os entendidos em
futebol – não é o meu caso – dizem que vivemos uma entressafra de talentos. Os
jogadores disponíveis são poucos e medianos, o que não permite formar uma
seleção sequer razoável.
Não concordo. E, como
não entendo de futebol, dou meu palpite.
Jogadores brasileiros jogam
nos cinco continentes, são contratados a peso de ouro e ganham muito mais do
que o comum dos mortais. E onde jogam são as estrelas, seja na Turquia ou na
França. Será que os milionários donos dos times europeus gastariam seus
trocados com jogadores medíocres?
Não acho que falte
talento. Se não temos – e isso é preciso admitir – safras de gênios da bola
como em outros tempos, temos alguns talentos acima da média. Não temos um Zico,
mas temos Neymar. O que falta, então?
De técnicos vamos mal,
sobretudo nas seleções recentes. Indicar Dunga para técnico da seleção foi uma
temeridade. Felipão ganhou uma copa, mas com Ronaldo de centro avante, nem sei
se precisava de técnico. Qual o verdadeiro Felipão: aquele da copa que o
Ronaldo ganhou ou o perdedor de 7 a 1?
No momento, nos
agarramos ao Tite, o milagroso, técnico de respeito.
Minha opinião é a
seguinte. Futebol é jogo coletivo. Não sem motivo se chamava originalmente
Football Association. O talento individual é tão grande quanto capaz de jogar pelo
conjunto. Nas peladas – e dessas eu entendi – quando surge um jogador que não
joga para o coletivo, ele recebe a pecha maldita de fominha. Um fominha pensa
que ganhará sozinho, que não precisa de ninguém, que é o centro do jogo. Nas
peladas, ou o fominha se reforma ou cai fora.
Na seleção não se vê
jogo coletivo. Vemos um bando desesperado indo de um lado para outro. Mesmo uma
seleção fraca como a do Iran, quando defendia ou partia para o ataque, era
movida por uma estratégia coletiva. Os jogadores sabiam para onde ir, com quem
trocar passes e como.
Já os jogadores
brasileiros parece que se conheceram na véspera do jogo. Não sabem onde cada um
deve se colocar e o que fazer e como. Irritam-se com facilidade; são bibelôs. Meninos
mimados. Caem a qualquer encontrão. Ficam dodói. Reclamam do juiz bestamente,
sem razão e fora de qualquer disciplina de jogo.
E tratam dos cabelos. O
Gabi Gol tem a cabeça construída como verdadeira obra de arquitetura capilar.
Barba, sobrancelhas, cabelo – tudo projetado e produzido com recursos
arquitetônicos. Neymar, que parece ter começado a moda atual, muda de penteado
a cada jogo. Ninguém se despenteia, aliás.
Ora, o narcisismo é
avesso a ações coletivas. É ególatra por natureza. Basta observar como os
narcisos ficam nervosinhos com facilidade. Grandes jogadores não ficam
irritados, respondem na bola. Não caem em provocações. Pelé, que era disciplinado
em campo, lutava feito pantera e raramente reclamava. Respondia às botinadas
com um sorriso e um chapéu.
Por isso, a partir de
agora só vou assistir jogos da seleção feminina de futebol. Elas jogam em
conjunto. Disputam a bola como quem luta por um prato de comida. Se uma tem a
bola, duas ou três se colocam em posição de receber o passe. O time avança ou
recua em conjunto, conforme o momento do jogo. E, havendo chance, metem bala. Entram
em campo para ganhar ou ganhar. São determinadas. Podem perder – e isso faz
parte do jogo – mas não deixam de jogar.
São mulheres, algumas
muito bonitas, e são vaidosas. Mas se limitam a prender o cabelo e usam
maquiagem simples. E não temem jogadoras maiores e mais fortes. E se permitem fazer
gol de letra, dar balão em zagueiros, ficar calmas mesmo diante de arbitragens incompetentes.
O negócio delas é a bola.
Pelo empenho com que jogam,
percebemos que não são narcisistas. Sabem que têm um objetivo comum e agem em
função disso.
O importante, portanto,
não é querer a medalha de ouro. O essencial é querer jogar o jogo, é
entregar-se a ele como conjunto. Eis a graça do chamado esporte bretão.
Como seria demasiado extenso,
não desenvolvo a questão do narcisismo em outros setores da vida brasileira, mas
creio que os leitores saberão fazer isso com facilidade.
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