segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O narcisismo no futebol brasileiro








Os entendidos em futebol – não é o meu caso – dizem que vivemos uma entressafra de talentos. Os jogadores disponíveis são poucos e medianos, o que não permite formar uma seleção sequer razoável.
Não concordo. E, como não entendo de futebol, dou meu palpite.
Jogadores brasileiros jogam nos cinco continentes, são contratados a peso de ouro e ganham muito mais do que o comum dos mortais. E onde jogam são as estrelas, seja na Turquia ou na França. Será que os milionários donos dos times europeus gastariam seus trocados com jogadores medíocres?
Não acho que falte talento. Se não temos – e isso é preciso admitir – safras de gênios da bola como em outros tempos, temos alguns talentos acima da média. Não temos um Zico, mas temos Neymar. O que falta, então?
De técnicos vamos mal, sobretudo nas seleções recentes. Indicar Dunga para técnico da seleção foi uma temeridade. Felipão ganhou uma copa, mas com Ronaldo de centro avante, nem sei se precisava de técnico. Qual o verdadeiro Felipão: aquele da copa que o Ronaldo ganhou ou o perdedor de 7 a 1?
No momento, nos agarramos ao Tite, o milagroso, técnico de respeito.
Minha opinião é a seguinte. Futebol é jogo coletivo. Não sem motivo se chamava originalmente Football Association. O talento individual é tão grande quanto capaz de jogar pelo conjunto. Nas peladas – e dessas eu entendi – quando surge um jogador que não joga para o coletivo, ele recebe a pecha maldita de fominha. Um fominha pensa que ganhará sozinho, que não precisa de ninguém, que é o centro do jogo. Nas peladas, ou o fominha se reforma ou cai fora.
Na seleção não se vê jogo coletivo. Vemos um bando desesperado indo de um lado para outro. Mesmo uma seleção fraca como a do Iran, quando defendia ou partia para o ataque, era movida por uma estratégia coletiva. Os jogadores sabiam para onde ir, com quem trocar passes e como.
Já os jogadores brasileiros parece que se conheceram na véspera do jogo. Não sabem onde cada um deve se colocar e o que fazer e como. Irritam-se com facilidade; são bibelôs. Meninos mimados. Caem a qualquer encontrão. Ficam dodói. Reclamam do juiz bestamente, sem razão e fora de qualquer disciplina de jogo.
E tratam dos cabelos. O Gabi Gol tem a cabeça construída como verdadeira obra de arquitetura capilar. Barba, sobrancelhas, cabelo – tudo projetado e produzido com recursos arquitetônicos. Neymar, que parece ter começado a moda atual, muda de penteado a cada jogo. Ninguém se despenteia, aliás.
Ora, o narcisismo é avesso a ações coletivas. É ególatra por natureza. Basta observar como os narcisos ficam nervosinhos com facilidade. Grandes jogadores não ficam irritados, respondem na bola. Não caem em provocações. Pelé, que era disciplinado em campo, lutava feito pantera e raramente reclamava. Respondia às botinadas com um sorriso e um chapéu.
Por isso, a partir de agora só vou assistir jogos da seleção feminina de futebol. Elas jogam em conjunto. Disputam a bola como quem luta por um prato de comida. Se uma tem a bola, duas ou três se colocam em posição de receber o passe. O time avança ou recua em conjunto, conforme o momento do jogo. E, havendo chance, metem bala. Entram em campo para ganhar ou ganhar. São determinadas. Podem perder – e isso faz parte do jogo – mas não deixam de jogar.
São mulheres, algumas muito bonitas, e são vaidosas. Mas se limitam a prender o cabelo e usam maquiagem simples. E não temem jogadoras maiores e mais fortes. E se permitem fazer gol de letra, dar balão em zagueiros, ficar calmas mesmo diante de arbitragens incompetentes. O negócio delas é a bola.
Pelo empenho com que jogam, percebemos que não são narcisistas. Sabem que têm um objetivo comum e agem em função disso.
O importante, portanto, não é querer a medalha de ouro. O essencial é querer jogar o jogo, é entregar-se a ele como conjunto. Eis a graça do chamado esporte bretão.
Como seria demasiado extenso, não desenvolvo a questão do narcisismo em outros setores da vida brasileira, mas creio que os leitores saberão fazer isso com facilidade.




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