Entre as minhas
ignorâncias – que são vastas e robustas – não saber nomes de plantas, pássaros
e árvores me chateia muito. Com esforço – e erros crassos – consigo reconhecer apenas
rosas, jasmins, margaridas. Tempos atrás, morando numa casa com um jardim que
era quase um pomar, me visitou um amigo que foi nomeando minhas plantas feito
um Adão primaveril batizando as coisas do mundo. Desconfiei. Conhecedor de
minha ignorância no assunto, quem sabe estivesse inventando aqueles nomes.
Seja como for, a verdade é que cuidava muito bem do meu jardim. Aprendi tarde, mas os resultados foram bons. Além disso, virei o sujeito que tem “mão boa”. O que planto, nasce. Cresce e floresce bonito. É o que me basta.
Seja como for, a verdade é que cuidava muito bem do meu jardim. Aprendi tarde, mas os resultados foram bons. Além disso, virei o sujeito que tem “mão boa”. O que planto, nasce. Cresce e floresce bonito. É o que me basta.
Este gosto pelo jardim resultou
de uma esquisitice que adquiri há uns anos: passei a acordar cedo. Ao longo de minha
vida de professor, sempre acordei tarde, depois das dez da manhã, quando já
estava dando a terceira aula do dia. Os alunos imaginavam que meu ar desligado fosse
resultado de profunda concentração na matéria lecionada. Não era. Tratava-se de
uma forma de dormir em pé que desenvolvi para sobreviver na profissão.
Anos depois disparei a
acordar antes das seis. De início, ficava lendo, ouvindo rádio – duas
maravilhas da vida, livros e rádios – mas com o tempo comecei a ser expulso da
cama por uma necessidade de andar de um lado para outro. Como andar não é coisa
fácil de ser feita dentro de casa, descobri que havia o jardim. Lá era possível
andar sem incomodar aos que dormem e sem parecer mais esquisito do que já sou.
Foi assim que comecei a me
ocupar do jardim, fazendo coisas que não seriam recomendadas por especialistas
– embora eu raramente ouça a especialistas.
Agia assim. Conferia o
crescimento de plantas e árvores, observando flores e frutos nascentes e as chamadas
ervas daninhas. Gastava nisto um bom tempo e, embora não saiba nomes de
plantas, conhecia cada uma do jardim. Pessoalmente, quero dizer.
Em seguida, fazia
limpezas. Retirava as ervas daninhas, arrancava folhas e galhos secos, podava o
que parecia estar sobrando. Não seguia regra alguma, o que deixa horrorizados quem
entende do assunto. Dizem que há uma estação certa para podar, um modo de se fazer
o corte segundo a lua, a estação, o tipo de planta etc. Levo em conta apenas o
lado estético. Se um galho está brotando numa direção que não me parece
razoável, podo. Funciona.
Descobri que a poda não
pode ser piedosa. Não raro, tenho pena de podar certos galhos, mas podo mesmo
assim. É como escrever. É preciso alguma crueldade nisso, mas se trata de
crueldade boa e generosa. A planta se renova.
O pé de goiaba e o
abacateiro já renderam fartas distribuições a amigos. O limoeiro por várias
vezes me deixou orgulhoso e despertou a desconfiança de um amigo, o escritor Manoel
Carlos Karam, o craque dos textos absurdos. Levei a ele uma sacola de limões e
ele me acusou de tê-los passado no Photoshop, de tão bonitos. Impossível melhor elogio.
Sofro do mesmo mal, não saber identificar plantas, flores e árvores que difiram do trivial simples (pinho-do-chile, eucalipto, rosa, ipê-amarelo e paineira, p. ex.). Aprendi recentemente a reconhecer três flores: flor-do-guarujá, manacá-da-serra e quaresmeira.
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