Temos
hoje um domingo cheio de nuvens volumosas que se movem por cima do prédio.
Nuvens domingueiras, não aquelas que se exibem nas segundas-feiras, sempre agitadas
e nervosas. As nuvens de segunda se espicham ansiosas e avançam velozes. Já as
nuvens de domingo são lerdas. Rolam por cima de um azul esperançoso, feito de
preguiça.
Fico
em dúvida, pois mesmo um tipo desinteressado de aventuras mundo afora encontra
problemas quando decide perambular por aí. Eis meu dilema no momento: vou
caminhar ou pedalar? Caminhar sempre é bom e pedalar idem. Mas domingo é um dia
que reservo para pedalar, havendo menos automóveis pelas ruas.
Mas
essa não é minha única dúvida: me perturbam duas outras questões. Continuo a
ler ou volto para a cama e durmo mais um pouco?
Eis
aí. A vida é complicada e cheia de alternativas conflitantes. Em poucas linhas
já encontrei quatro caminhos possíveis e nenhuma solução. Sem contar outras
coisas que poderia fazer nesse domingo preguiçoso com suas nuvens que agora
oscilam entre o cinza e o branco brilhante e rolam na direção leste como se
bocejassem.
Já
houve tempo em que eu me colocava problemas em torno dos rumos da humanidade,
da economia, do pensamento ocidental e do time do Atlético Paranaense. Hoje,
sou mais modesto. O mundo que me importa é menor, já que o maior não parece ter
conserto mesmo. A cantora inesquecível, Maysa, cantava que seu mundo caiu. O
meu encolheu. Ou não?
Vou
até a varanda e dou uma namorada no tempo. Não faz frio e o vento não é dos
mais chatos – é fraco e até gentil. Bom para pedalada. Eis que começo a me
decidir.
É
quando ouço um latido. Sei de quem se trata.
É
Ozzy. Ou, com nome e sobrenome, Ozzy Osbourne, um nervoso e agitado cãozinho
que se dependura furioso na grade do quarto andar ao me descobrir na varanda. Não
gosta de minhas aparições. Também, homônimo de um astro do rock, se irrita
fácil.
Foi
batizado pelos meus amigos Vanessa, Maurício e a filha Letícia. Deram esse nome
ao cãozinho, eles que são roqueiros, imaginando que ficariam impunes. Não. Um
nome carrega uma energia própria, dizem as cartomantes, as quiromantes e, não
raro, as amantes.
Assim
batizado, Ozzy saiu-se nervoso e irritadiço, centralizador e ego maníaco. E
simpaticíssimo, é claro. Verdadeira estrela de banda de rock. Ele segue latindo
e eu, que não sei latir, devolvo a ele um cumprimento:
-
Alô, Ozzy, bom domingo!
Ele
rosna feito cachorro grande. Saio da varanda e ele fica em silêncio. Deve estar
espiando para ver onde me enfiei. É quando imagino que posso dar um susto nele
e volto súbito à varanda. Perdi. Ozzy desinteressou-se de mim e se foi.
Fecho
a porta da varanda e torno a pensar nas minhas quatro alternativas: voltar a
dormir, continuar a leitura, caminhar, pedalar.
O
sol vence as nuvens aos poucos e decido pela bicicleta. Quando saio pedalando da
garagem e atravesso a rua, Ozzy, de volta a seu posto, dispara a latir. Pelo
tom, não gostou da opção pela bicicleta.
Na
volta explico a ele, penso eu, e vou em frente. Não se pode agradar a todo
mundo. Muito menos a um astro do rock.
Adoramos a homenagem, caro Roberto! A foto é ótima, super parecido com o figurinha.Vizinhos e cães são assim mesmo....imprevisíveis! ;-)
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