Eu tinha 12 anos. Certo dia minha mãe viu verrugas em meus
dedos e pés. Ficou horrorizada. Havia uma crença de que verrugas, se esfoladas,
poderiam evoluir para uma doença gravíssima, aquela, cujo nome jamais era
pronunciado.
Dias após, a chamado de minha mãe, chegou lá em casa a Maria
Palmeira.
Era uma mestiça de bugres e negros, pequenina, talvez um
metro e cinquenta, cabelos enrolados, e troncuda feito um barril.
A razão de sua notoriedade estava no sobrenome que recebeu,
já que seu nome de origem, se teve algum, não era conhecido. Maria Palmeira era
assim chamada por ser torcedora fanática do time de futebol local. Segundo a
lenda, numa Blumenau dividida, era o time dos brasileiros, ou seja, negros,
crioulos e, no caso de Maria, índios. Os adversários eram torcedores do
Olímpico, os alemães. Meias verdades, como tudo no mundo do futebol.
O seu sustento saía das verduras e frutas que cultivava e
que oferecia numa carroça oscilante puxada por um cavalinho petiço e triste.
Tinha enorme freguesia, pela qualidade dos alimentos e pela simpatia.
Pois Maria Palmeira ia a todos os jogos do Palmeiras e
ficava – naqueles tempos sem alambrado e policiamento – na linha do campo, aos
berros, incentivando os jogadores, xingando os adversários e dizendo coisas
terríveis a respeito da mãe do juiz. Com um detalhe: ia sempre munida de um
guarda-chuva, houvesse sol ou chuva. Aliás, não abria o guarda-chuva jamais.
Não era um abrigo, era uma arma que agitava com fúria.
Foi numa dessas que ela invadiu o campo e deu várias
guarda-chuvadas na cabeça do juiz, que, segundo ela, marcara pênalti
inexistente. A partir desse dia foi proibida de entrar no estádio com guarda
chuva, houvesse sol ou chuva.
Pois Maria Palmeira chegou lá em casa quando já anoitecia. No
céu, uma lua cheia de luz. Ela fez com que eu sentasse num degrau da escada dos
fundos, de onde a lua parecia ainda mais brilhante, e retirou do bolso um
pedaço de carne.
- Cadê birruga? – perguntou.
Mostrei minhas mãos e meus pés.
Ela ordenou:
- Quieto.
Fiquei quieto. Ela começou uma reza sussurrada e cantante enquanto
fazia cruzes com a carne sobre cada uma das verrugas. Ela olhava a lua e rezava
como se estivesse em transe. Comecei a provocar:
- Cuidado, Maria.
- Que foi, guri?
- Com tanto benzimento, vai cair o meu dedo!
- Te cala, excomungado!
Continuei provocando:
- Ih, meu pé está dormente. Vai cair!
- Ô desinfeliz, cala a boca!
E assim prosseguimos. Ela rezando, eu debochando. Ela de
olho na lua e eu dando risadas. Terminado o ritual, Maria colocou o pedaço de
carne no bolso e sumiu num passo curto e ligeirinho. Perguntei o que faria com a
carne, mas ela não respondeu. Minha mãe me contou: ela iria colocar a carne num
formigueiro. E deu uma semana de prazo para as verrugas.
Cinco dias depois, minha mãe olhou para minha mão e se
assustou:
- Cadê as verrugas?!
Haviam sumido. Todas. Sem deixar sinal.
Ainda não sei se acredito nos poderes das rezas de Maria
Palmeira, mas nunca mais duvidei de benzedeiras.
No creo en brujas, pero que las hay, las hay. Tive experiências com benzimentos exitosos e já ouvi falar de muitos casos. Melhor respeitar, se não puder acreditar.
ResponderExcluirA benzedeira aqui perto de casa passou um osso de coxa de frango nas verrugas que minha filha tinha nas mãos, meteu o osso num formigueiro e... as verrugas desapareceram. Ninguém nunca soube me explicar por que funciona.
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