Walmir Ayala(*)
Ode à Censura
Censuremos a pornografia da fome,
do desemprego,
da indústria da educação.
da propaganda mentirosa.
A pornografia da violência policial,
da tortura,
Das máscaras pré-eleitorais,
dos aumentos do leite e do pão.
A pornografia da irrealidade dos salários do Povo
e da irrealidade dos salários dos que decidem o mesquinho salário do povo.
A pornografia da falta de solidariedade,
da demagogia com pés de lã,
da corrupção oficializada,
do pseudo moralismo despistador.
A pornografia dos linchamentos,
da lentidão da justiça,
do olhovesgo da justiça,
do pedestal vazio da própria justiça.
A pornografia da justiça que se quer feita pelas próprias mãos,
A pornografia do medo, da insegurança,
das comissões que justificam o crime,
do variado preço da "cerveja"
com que se amansa o gato da fiscalização.
A pornografia do símbolo do leão
como carrasco dos que se equilibram perigosamente
na rede milionária dos impostos.
A pornografia da fábrica de mortos,
ou das mortes cinicamente adiadas
nos institutos de previdência social.
A pornografia das ricas reservas de ouro,
minério e petróleo,
caracterizando um país rico infestado de miséria.
Censuremos todas estas pornografias que nos aviltam
não a ingênua pornografia que pelos olhos ou pela imaginação
monta sua máquina monótona
no espaço suplérfluo do nosso sonho.
(*) Walmir Ayala nasceu em Porto Alegre no dia quatro de janeiro de 1933. Faleceu no Rio de Janeiro, onde passou a maior parte de sua vida, em 28 de agosto de 1991. Espírito inquieto e criativo, atuou em várias áreas. Foi poeta, romancista, memorialista, teatrólogo, crítico de arte. Deixou uma obra profunda e extensa, que vem sendo reeditada com alguma frequência.
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