terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sofrer não vale a pena

St Denis fez um comentário interessante ao post Sem medo do livro digital, (11.09.2010). Lembrou que quando foram introduzidas as mulas para transporte de cargas do litoral ao planalto curitibano, os carregadores, que até então as traziam nos ombros, fizeram protestos. Isso me lembra algo que disse um dos pioneiros da propaganda no Brasil, um dos três da DPZ: um problema para a introdução de máquinas de lavar roupa no país foi a convicção das mulheres da época de que lavar roupa exigia sofrer e fazer força. Sem isso não era um trabalho digno. Antes de vender, foi preciso convencer às donas de casa de que era necessário mudar essa visão masoquista. O mesmo se deu com a introdução do teclado do micro: velhos jornalistas e escritores não admitiam um teclado macio e silencioso em troca do pesado matraquear das antigas máquinas de escrever. Era preciso fazer força e sofrer para se sentir escrevendo algo de valor. O esforço estava ligado ao ato de escrever – aquele mesmo que fez com que George Simenon, que matraqueou mais de 400 livros, tivesse os dedos achatados de tanto martelar teclas. As novas tecnologias enfrentam esse problema simples: o ser humano não apenas sofre, mas com o tempo se acostuma a sofrer e passa a gostar do sofrimento. Vira uma segunda natureza. Precisamos nos livrar disso.

3 comentários:

  1. Entre o teclado e a máquina datilográfica, prefiro escrever à mão armada, i.é., com a caneta, que inspira e ainda sai mais barato. O blog está "comilfô", como dizia Cortázar.

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  2. Sofrer por um problema seria mais fácil do que solucionar ele? Mais fácil carregar a infelicidade?. Ah, a insustentável leveza do ser.

    PS. às mudanças que nada mudam (= nada exigem) não resistimos, abraçamoa rapidinho.

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  3. Gostei da história das mulas "versus" carregadores, que me lembrou um artigo do Richard Dawkins (Selfish genes, selfish memes. Lá pelas tantas ele diz que "embora as pessoas digam que a evolução é boa, na verdade ninguém quer evoluir". Atrás disso há outro fator, o hábito. Como hábito é uma coisa que se faz sem pensar, é por isso que todos nós os temos tantos.

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