terça-feira, 21 de junho de 2011

A imagem é tudo, as convicções não são nada


Políticos, brasileiros ou não, vivem da aparência e a cultivam com muito cuidado. A frase segundo a qual “à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”, foi a primeira grande sacada de um marqueteiro. Mas é ambígua. Por um lado, exige-se honestidade da mulher de César – mas tal virtude fica logo eclipsada pela exigência política: ela deve antes de qualquer coisa parecer honesta. Ou seja: se parecer, já está bom.
No entanto, com a predominância do marketing, da televisão e seus impulsos hipnóticos, da massa de propaganda à qual somos todos submetidos, os homens (e mulheres, não esqueçamos) públicos, passaram a ser sobretudo uma imagem. Por exemplo: Stalin era tirano, autoritário, sanguinário, e tinha dele mesmo e do Estado uma concepção monolítica. E agia, inclusive manipulando informações, em função disso.  Hitler também. Como todos os líderes, defendiam certas ideias e agiam de acordo com elas. O mesmo se pode dizer de vários outros governantes: Churchill, De Gaulle, Juscelino, Jânio, Getúlio, Jango, Brizola etc. Ocorre que esses, mesmo os mais detestáveis deles, tinham lá suas convicções. Aceitáveis ou não, pouco importa. Mas eles as tinham e manobravam para atingir objetivos que faziam parte dessas convicções.
O fenômeno político atual inverteu essa relação. Com a predominância da imagem, as convicções políticas foram para as calendas. Os políticos atuais, brasileiros ou não, movem-se como se estivesse diante de um espelho, ou melhor, dentro de um caleidoscópio, através do qual vão liberando a imagem que bem entendem conforme as conveniências e, não havendo mais princípios a serem mantidos – lembrem-se: FHC mandou esquecerem o que havia escrito e Lula declarou pitorescamente que chegava de “principismos” – eles podem se metamorfosear no que bem entendem.
No momento, assistimos a várias metamorfoses oportunistas. Dilma posava, quando ministra e nos primeiros meses de mandato presidencial, de tecno-burocrata impoluta e inamovível, avessa a politiquices rasteiras. Agora, reclama para si um talento “político”, uma maleabilidade inesperada, cuja serventia será a de negociar cargos, empregos, verbas, negociatas junto ao congresso, agrados ao PMDB, ao Temer, ao Sarney, ao Collor – que retribuem, é claro.
O mesmo se deu com Ideli Salvati, essa incógnita e esvaziada criatura, que, antes rude e grosseira como um pitbull, agora posa – ela mesma sugeriu –  de Idelizinha Paz e Amor, plágio de um dito lançado por Lula quando deu a guinada radical em sua imagem – e em suas convicções, como ficaria claro ao longo de seus mandatos. Ideli, aliás, declarou com comovente sinceridade que se porta conforme a “tarefa” que deve desempenhar. Deixou de acrescentar: se essa tarefa colide com afirmações ou princípios ou projetos anteriores, tanto pior para eles.
A senhora Gleise Hoffman vai na mesma batida. Cultivou sempre uma imagem de executiva tensa e eficaz, mas agora diz se prestar a conversas, acertos, e, tanto quanto Ideli, “ouvir” os nobres colegas deputados e senadores.
Ora, isso não seria tão desastroso se não soubéssemos que esse “ouvir” significa atender pedidos, distribuir cargos, acertar verbas, dividir territórios com aliados, agradar coronéis políticos etc.
Terá isso algo a ver com as carências da sociedade brasileira? Terá isso algo a ver com as propostas que essas figuras apresentaram aos eleitores para conquistar votos?
Tudo é imagem, um jogo de espelhos e de ilusões. As convicções se perderam. A Realpolitik triunfa. Uma receita política muito perigosa.

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