sábado, 18 de junho de 2011

Um poema de João Cabral de Mello Neto

Os poemas de João Cabral já nasciam escritos em pedra, bronze, aço puro. Uma vez paridos, não havia mais nada a fazer ou desfazer. Não se podia mexer num ípsilon sequer. Poemas que ficavam de pé, para sempre.

Vejam só a perfeição e a delicadeza desses versos:


A MESA

O jornal dobrado
sobre a mesa simples;
a toalha limpa,
a louça branca

e fresca como o pão

A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
de tuas praias; clara

e fresca como o pão.

A faca que aparou
teu lápis gasto;
teu primeiro livro
cuja capa é branca

e fresca como o pão.

E o verso nascido
de tua manhã viva,
de teu sonho extinto,
ainda leve, quente

e fresco como o pão.


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