terça-feira, 13 de novembro de 2012

Um fenômeno, aliás, dois – Cauby Peixoto e Ângela Maria



Cauby Peixoto e Ângela Maria

Fui ao show de Cauby e Ângela Maria, sábado, dia 10/11, na Boca Maldita. No meio da multidão – 18 mil, segundo dizem – lá estava eu, sabendo a letras de todas as músicas, assobiando e aplaudindo, cantando como se soubesse cantar.
Confesso que fui ao show com o coração apertado, desejando reviver grandes alegrias mas temendo levar um susto. Aqueles dois seriam os mesmos?
Bastou aquele homem alto, vestido de negro, frágil e de andar hesitante, de expressão tensa, pisar no palco para que a multidão explodisse. Às favas com a idade, com os problemas de saúde, às favas com o silêncio da mídia com relação aos grandes cantores brasileiros. Todos ali – e eram de todas as idades – queriam ouvir aquelas duas vozes.
E as duas não decepcionaram. A voz de Cauby (81 anos) continua com a mesma qualidade, uma potência incrível, um virtuosismo que só os cantores excepcionais conseguem atingir. De Ângela Maria (84 anos) vale o mesmo: a clareza de dicção, a voz que flutua sem esforço, a emoção exata.
É claro que chatos poderão dizer que já não são os mesmos. Ora, os chatos é que são sempre os mesmos. Os grandes cantores, como todos os seres humanos que amamos e que são capazes de nos fazer amar, envelhecem, mudam, já não são os mesmos. São outros, melhores, dominam sua arte apesar de todas as dificuldades que a vida colocou em seus ombros. Os gestos de Cauby são lerdos e breves, a movimentação é pouca e cuidadosa, a postura é rígida. Mas a voz segue belíssima.
Cauby e Ângela, para mim, que era menino quando eles já faziam sucesso, são criaturas míticas. Minha mãe cantava todas as músicas de Ângela Maria, com quem, num certo momento da vida, chegou a se parecer. Cauby era não apenas a voz, mas um novo tipo de cantor, um comportamento irreverente, um astro, um farsante encantador. Dois mitos.
Afinal, todos precisamos de mitos. É através deles que realizamos as proezas mais raras. Eles nos mostram o poder da arte como afirmação da vida. Contra tudo, seja a mediocridade, a inveja, a violência, a hipocrisia, o envelhecimento, a morte, o grande artista nos brinda com essa mágica que nos permite viver mais e melhor.
As vozes de Cauby e de Ângela Maria, de Elis Regina e Billie Holyday, um improviso de Miles Davis ou Chat Becker, nos fazem viver outras vidas, melhores. 
Foi uma farra notável. Se você estava entre os 18 mil, sabe disso.


3 comentários:

  1. A maior cantora do Brasil e o maior intérprete: Angela Maria e Cauby Peixoto. Cauby não se cansa de afirmar que Angela tem o mais belo timbre do mundo. E Angela diz que Cauby canta "New York New York" melhor até que Frank Sinatra cantava. Viva a estas duas lendas vivas!!!

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  2. Eu estava entre a multidão. Na verdade, de vez em quando ainda me encontro ali, reverenciando os dois.

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  3. Eu, como inevitável fã, um alagoano que mora em Santa Catarina, sem conhecer nada de Curitiba, viajei a tarde inteira, para a noite ver o que eu mais queria ver na vida Angela Maria, e Cauby de quebra. Ainda, de vez em quando me encontro naquela multidão, e parecia que estava sozinho.

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