Assisti, como todo
mundo, ao quebra-quebra nas ruas do Rio de Janeiro, Leblon e Ipanema.
Noto a repetição do que
aconteceu em outras ocasiões. A insistência com que as câmeras e os fotógrafos registram
baderneiros encapuçados apedrejando portas e vitrines, queimando papéis e
lixeiras, saqueando lojas. Noto também a passividade suspeita da polícia.
Dos jornalistas e fotógrafos
podemos dizer que estavam trabalhando, fazendo o registro do que se passava, já
que, no mundo midiático em que vivemos, se algo não é filmado não chega a
acontecer.
Mas duas coisas me
deixam inquieto nesse triste espetáculo.
De um lado, filma-se
exaustivamente o quebra-quebra, minutos sem fim, com incontáveis repetições, quase
com o sadismo das reportagens policiais. É claro que algum locutor, ao fundo,
diz que os protestos transcorreram de forma pacífica, porém... ao final a
pancadaria predominou.
Eis minha dúvida: não
consegui ver nem um minutinho de filmagem dos protestos pacíficos. Ocuparam o
maior tempo das manifestações, no entanto. Terão um interesse jornalístico
menor? Não creio.
Essa concepção de
jornalismo me faz lembrar um personagem de Nelson Rodrigues, um editor de
jornal que, desesperado porque seus repórteres não encontraram nenhuma notícia
sangrenta naquele dia, entra em histeria, sobe na própria mesa e, aos berros e
de braços erguidos, urra:
- Eu quero um cadáver! Eu
preciso de um cadáver!
Outra estranheza: os
chamados vândalos lá estão com caras mascaradas por camisetas. Ou seja, não é
difícil saber quem são e o que fazem. Eles não fazem parte dos que protestam.
Estão ali para quebrar, roubar, destruir e, pior ainda, desvirtuar o que as
passeatas têm de positivo.
Então, me ocorre o
seguinte: se os desordeiros são facilmente identificáveis, se os que participam
do protesto os repudiam, por qual razão a polícia – que adora espancar multidões
– não faz absolutamente nada, assistindo fleumaticamente ao quebra-quebra?
Ora, se não recebem ordem
para prender os vândalos, quem sabe os que deveriam dar tal ordem desejem que
as manifestações se transformem em pancadaria.
Seria a forma mais
fácil de desmoralizar um notável movimento de protestos que deu uma sacudida histórica
no país e colocou autoridades e políticos com o rabo entre as pernas.
Não interferir, como fez
a polícia do Rio de Janeiro, é por certo a maior evidência de que talvez haja
alguém interessado em que os protestos se desmoralizem naturalmente à custa de
sempre se converterem em quebra-quebra.
Seria desejável que tanto manifestantes quanto a polícia se empenhem em separar o joio do
trigo. Que os saqueadores sejam identificados e escorraçados. E que os
protestos continuem, pois são justos e necessários.
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