sexta-feira, 19 de julho de 2013

Saques e Vandalismo, a quem interessa?



Barricadas de fogo ao longo da rua Ataulfo de Paiva Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo



Assisti, como todo mundo, ao quebra-quebra nas ruas do Rio de Janeiro, Leblon e Ipanema.
Noto a repetição do que aconteceu em outras ocasiões. A insistência com que as câmeras e os fotógrafos registram baderneiros encapuçados apedrejando portas e vitrines, queimando papéis e lixeiras, saqueando lojas. Noto também a passividade suspeita da polícia.
Dos jornalistas e fotógrafos podemos dizer que estavam trabalhando, fazendo o registro do que se passava, já que, no mundo midiático em que vivemos, se algo não é filmado não chega a acontecer.
Mas duas coisas me deixam inquieto nesse triste espetáculo.
De um lado, filma-se exaustivamente o quebra-quebra, minutos sem fim, com incontáveis repetições, quase com o sadismo das reportagens policiais. É claro que algum locutor, ao fundo, diz que os protestos transcorreram de forma pacífica, porém... ao final a pancadaria predominou.
Eis minha dúvida: não consegui ver nem um minutinho de filmagem dos protestos pacíficos. Ocuparam o maior tempo das manifestações, no entanto. Terão um interesse jornalístico menor? Não creio.
Essa concepção de jornalismo me faz lembrar um personagem de Nelson Rodrigues, um editor de jornal que, desesperado porque seus repórteres não encontraram nenhuma notícia sangrenta naquele dia, entra em histeria, sobe na própria mesa e, aos berros e de braços erguidos, urra:
- Eu quero um cadáver! Eu preciso de um cadáver!
Outra estranheza: os chamados vândalos lá estão com caras mascaradas por camisetas. Ou seja, não é difícil saber quem são e o que fazem. Eles não fazem parte dos que protestam. Estão ali para quebrar, roubar, destruir e, pior ainda, desvirtuar o que as passeatas têm de positivo.
Então, me ocorre o seguinte: se os desordeiros são facilmente identificáveis, se os que participam do protesto os repudiam, por qual razão a polícia – que adora espancar multidões – não faz absolutamente nada, assistindo fleumaticamente ao quebra-quebra?
Ora, se não recebem ordem para prender os vândalos, quem sabe os que deveriam dar tal ordem desejem que as manifestações se transformem em pancadaria.
Seria a forma mais fácil de desmoralizar um notável movimento de protestos que deu uma sacudida histórica no país e colocou autoridades e políticos com o rabo entre as pernas.
Não interferir, como fez a polícia do Rio de Janeiro, é por certo a maior evidência de que talvez haja alguém interessado em que os protestos se desmoralizem naturalmente à custa de sempre se converterem em quebra-quebra.
Seria desejável que tanto manifestantes quanto a polícia se empenhem em separar o joio do trigo. Que os saqueadores sejam identificados e escorraçados. E que os protestos continuem, pois são justos e necessários.



Nenhum comentário:

Postar um comentário