sexta-feira, 5 de julho de 2013

O plebiscito ou O ilusionismo político




Quando ainda navegava em índices altíssimos, a presidente decidiu antecipar a campanha para as eleições de 2014. Foi em fevereiro passado. Algum gênio – talvez chamado Chalaça – terá soprado a ideia nos seus ouvidos.
Uma cortina de fumaça. Com isso se aproveitaria a onda de aprovação e seria criado um embaraço tremendo para os adversários, permitindo navegação tranquila até o final do mandato sem mover uma palha nos problemas do país.
O recurso é velho. Trata-se de colocar em cena aquilo que os políticos chamam de “política” – as eleições, as alianças, os conchavos, a troca de desaforos com oponentes. Distrai a plebe e tudo fica na mesma.
A lista de problemas era sabida e vasta.  Obras inacabadas, PACs paralisados, projetos não realizados, produção estagnada, a inflação acenando na curva. Além do acúmulo de desastres na saúde, na educação, nos transportes, no saneamento, na segurança. Daí o lançamento da candidatura, truque capaz de atrair os olhos do eleitorado, cativo em discutir se esse ou aquele deverá ocupar o trono. Ao modo do Chacrinha.
Agora, pós-passeatas e quebra-quebras, o factoide das eleições já não bastam. Nas ruas, a população se expressou com fúria: falta de educação de qualidade, falta de saúde pública decente, de segurança etc.
Ora, para enfrentar tais problemas, se exige muito trabalho. O que nunca está nos planos de governantes brasileiros.
Assim, de todas as possíveis alternativas diante de tantas reivindicações, novamente algum gênio da “política” soprou aos ouvidos da presidente uma prioridade que sequer fez parte das reinvindicações populares: o plebiscito, eleito como substituto do que foi urrado pela voz das ruas, a qual a presidente diz, cheia de empáfia – nem nessas horas ela larga a empáfia – ter ouvido.
Nova cortina de fumaça. No momento o país se atropela num absurdo debate entre plebiscito e referendum, com listinhas de perguntas que lembram provas do Enem, dando margem conveniente a que sejam discutidas firulas jurídicas.
Convenhamos, não há necessidade alguma de plebiscito ou referendum ou reforma política caso se pretenda redefinir os rumos da educação, da saúde, dos transportes, da energia etc. Existem instrumentos legais e institucionais vigentes para tanto.
Mas nesse caso seria preciso trabalhar. Estudar os problemas gritados nas ruas, analisá-los com seriedade, pensar nas alternativas, propor e discutir soluções, optar por projetos viáveis, estabelecer metas, prazos, escolher ministros competentes etc. Tudo isso é possível, sem necessidade de plebiscito. Basta aquilo que sempre alardearam: vontade política.
O plebiscito foi colocado no centro do picadeiro por puro ilusionismo. Ocupará manchetes, ajudando a escamotear os verdadeiros problemas.
Nos últimos dias, deixando escancarado que tudo isso foi uma farsa e um oportunismo de afogadilho, Dilma, que já abandonara a esdrúxula “constituinte”, está procurando um jeito de livrar-se do “plebiscito” sem parecer que foi a autora do equívoco.
Mas há um porém – sempre há um porém, como costumava dizer o escritor João Antônio. Faltou combinar com a “voz das ruas” para que mais adiante não perturbe com novas passeatas, talvez mais enfurecidas.
É o que veremos. Ou não.



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