Quando ainda navegava
em índices altíssimos, a presidente decidiu antecipar a campanha para as
eleições de 2014. Foi em fevereiro passado. Algum gênio – talvez chamado
Chalaça – terá soprado a ideia nos seus ouvidos.
Uma cortina de fumaça. Com
isso se aproveitaria a onda de aprovação e seria criado um embaraço tremendo
para os adversários, permitindo navegação tranquila até o final do mandato sem
mover uma palha nos problemas do país.
O recurso é velho.
Trata-se de colocar em cena aquilo que os políticos chamam de “política” – as
eleições, as alianças, os conchavos, a troca de desaforos com oponentes. Distrai
a plebe e tudo fica na mesma.
A lista de problemas
era sabida e vasta. Obras inacabadas, PACs
paralisados, projetos não realizados, produção estagnada, a inflação acenando
na curva. Além do acúmulo de desastres na saúde, na educação, nos transportes,
no saneamento, na segurança. Daí o lançamento da candidatura, truque capaz de
atrair os olhos do eleitorado, cativo em discutir se esse ou aquele deverá
ocupar o trono. Ao modo do Chacrinha.
Agora, pós-passeatas e
quebra-quebras, o factoide das eleições já não bastam. Nas ruas, a população se
expressou com fúria: falta de educação de qualidade, falta de saúde pública
decente, de segurança etc.
Ora, para enfrentar
tais problemas, se exige muito trabalho. O que nunca está nos planos de
governantes brasileiros.
Assim, de todas as
possíveis alternativas diante de tantas reivindicações, novamente algum gênio
da “política” soprou aos ouvidos da presidente uma prioridade que sequer fez
parte das reinvindicações populares: o plebiscito, eleito como substituto do
que foi urrado pela voz das ruas, a qual a presidente diz, cheia de empáfia –
nem nessas horas ela larga a empáfia – ter ouvido.
Nova cortina de fumaça.
No momento o país se atropela num absurdo debate entre plebiscito e referendum,
com listinhas de perguntas que lembram provas do Enem, dando margem conveniente
a que sejam discutidas firulas jurídicas.
Convenhamos, não há
necessidade alguma de plebiscito ou referendum ou reforma política caso se pretenda
redefinir os rumos da educação, da saúde, dos transportes, da energia etc. Existem
instrumentos legais e institucionais vigentes para tanto.
Mas nesse caso seria
preciso trabalhar. Estudar os problemas gritados nas ruas, analisá-los com
seriedade, pensar nas alternativas, propor e discutir soluções, optar por
projetos viáveis, estabelecer metas, prazos, escolher ministros competentes
etc. Tudo isso é possível, sem necessidade de plebiscito. Basta aquilo que
sempre alardearam: vontade política.
O plebiscito foi
colocado no centro do picadeiro por puro ilusionismo. Ocupará manchetes, ajudando
a escamotear os verdadeiros problemas.
Nos últimos dias, deixando
escancarado que tudo isso foi uma farsa e um oportunismo de afogadilho, Dilma,
que já abandonara a esdrúxula “constituinte”, está procurando um jeito de livrar-se
do “plebiscito” sem parecer que foi a autora do equívoco.
Mas há um porém –
sempre há um porém, como costumava dizer o escritor João Antônio. Faltou
combinar com a “voz das ruas” para que mais adiante não perturbe com novas passeatas,
talvez mais enfurecidas.
É o que veremos. Ou não.
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