Essa polêmica em torno das
biografias está deixando de lado, entre outras coisas, a ameaça que a
autorização prévia do biografado representa para a atividade dos historiadores.
Sabemos que muitos livros
realmente essenciais para que o Brasil venha a ter uma consciência crítica e
clara de si mesmo devem versar sobre o passado recente. Por certo a história
do Brasil dos séculos passados, anteriores ao século XX, é fundamental e sempre
servirá para esclarecer o que somos hoje, como sociedade e cultura.
Mas há um grupo de temas recentes à espera de historiadores que se vinculam a acontecimentos ocorridos na segunda
metade do século passado – e que chegam ao presente. Envolvem pessoas ainda
vivas que participaram desses acontecimentos, quando não seus parentes, filhos
e netos.
Caso se leve adiante a atitude
censora – chame-se de autorização prévia, de análise para ajuste, de correções
de fatos ou ajustes de opiniões – isso permitirá que qualquer sujeito (ou
parente) envolvido, digamos, nos fatos que se deram a partir de 1964 até os
dias de hoje, se atribua o direito de impedir que sua citação em livros de
história (como torturador, terrorista, dedo duro, censor, traidor, corrupto, cúmplice,
omisso, assassino etc.) coloque em risco a circulação de tal livro.
Desta forma, a censura prévia,
manipulável por personagens que viveram os fatos ou por seus herdeiros, é uma
ameaça não apenas às biografias como também à história simplesmente.
O Brasil não precisa de leis censoras,
mas de liberdade e de verdade. Precisamos de transparência. Todas as ditaduras
– de direita ou de esquerda – se instalam castrando a liberdade e impondo mentiras
como cortina de fumaça.
Para qualquer equívoco cometido
por biógrafos ou historiadores, o melhor remédio é escrever livros ou artigos
que defendam ideias contrárias e, havendo crime de difamação, que
se aja dentro das leis existentes, que preveem o direito de resposta e de
retratação, além de outras penas.
O resto constitui ameaça à
liberdade e um desserviço ao amadurecimento político e cultural do país.
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