ELES JÁ DISSERAM QUE O MENSALÃO NÃO EXISTIU, QUE ERA UMA PIADA |
Todo brasileiro
minimamente informado tem, com relação aos fatos políticos, aquilo que se pode
chamar pé atrás ou pulga atrás da orelha.
Um amigo ficou
indignado comigo quando lhe disse que, no caso do mensalão, haveria condenações.
Não que ele defendesse os acusados, mas não acreditava – e achava arrematada
ingenuidade minha acreditar – que tais figurões fossem condenados e muito menos
presos. Estávamos no começo do julgamento, quando todas as televisões do país
sintonizaram as sessões do STF e o assunto era comentado em todas as esquinas
do país, inclusive em Brasília, onde, como se sabe, não há esquina.
O meu argumento era
simples. As evidências eram muitas, o momento não favorecia um trambique que engavetasse
o processo. E a opinião pública estava ao lado das condenações. Havia, além
disso, o Joaquim Barbosa com sua tenacidade surpreendente para padrões
brasileiros. E Barbosa não estava sozinho, outros juízes ou estavam ao seu lado
ou se sentiam encurralados diante do desgaste que poderia sofrer o STF caso trombasse
com a opinião pública.
- Mas há o Lewandowski!
bradava meu amigo.
Havia, mas não bastou.
Hoje, 16 de novembro de
2013, os condenados - exceto um que fugiu a tempo para a Itália – foram
conduzidos presos para Brasília. Mas isso não significa que a pulga deixou de
residir em minha orelha ou que meu pé abandonou a prontidão.
É verdade que esse
julgamento e seu atual desfecho são marcos no amadurecimento das instituições
democráticas brasileiras. Gastou-se muito tempo no processo, os condenados
puderam se defender – contando com os advogados mais caros do país – mas ao
final ficou claro que a lei é para todos, não apenas para o traficante, o
caloteiro, o ladrão, o assassino, o morador de favela ou das periferias urbanas.
É também para quem comete crime corrompendo o legislativo ou desviando dinheiro
público. Marcou-se um belo gol em prol da democracia, regime no qual a lei vale
para todos, sem privilégios – ao menos é assim que se postula.
No entanto, a tal pulga
não cessa de me infernizar. Ela me sussurra que resta saber como, onde e por
quanto tempo os mensaleiros cumprirão pena.
Os sinais da malandragem
já são evidentes. Houve quem – um membro do STF – levantasse a ideia de que alguns
deles deveriam ficar em prisão domiciliar, que não é prisão, aliás, disse o meritíssimo.
Os presos e condenados procurarão, de todas as maneiras – contando com o silêncio
cúmplice de Dilma Rousseff e o apoio explícito de Lula – fazer pose de presos
políticos.
É o que Zé Dirceu e Genuíno
já ensaiaram. Podemos esperar, portanto, uma chuva de recursos, de pedidos de
novos julgamentos, de abrandamento das penas. A guerra mal começou.
Os condenados contam
com as brechas sempre generosas das leis quando se trata de poderosos e com o
trabalho muito bem remunerado de seus advogados. E com as manobras que figuras
do PT, como Dilma e Lula, poderão fazer. E contam com um fator que no Brasil
costuma funcionar: o tempo. Com o tempo a notória permissividade brasileira
tudo tolera e tudo esquece.
Assim, fazendo pose de
presos políticos e de vítimas, contando com hábeis advogados, com aliados e o
tempo, eles tentarão reduzir essas penas.
Foram julgados pela
corte mais alta do país, os debates foram abertos e públicos, os membros do STF
foram em sua maioria indicados nos últimos dez anos, ou seja, no decorrer do
mandato de Lula e de Dilma. Como Dirceu pode dizer que foi perseguido ou
prejudicado? Por quem? Para beneficiar a quem? Ele alega ser perseguido pelos meios
de comunicação e pelas “zélites”. Ora, quem está no poder, há dez anos, é o PT.
Por outro lado, as leis aplicadas aos condenados são as leis vigentes no país. E
o STF não cometeu nenhuma arbitrariedade, o que nem as medidas protelatórias, nem
os agravos infringentes conseguiram contornar.
Portanto, trata-se de
um truque do Zé Dirceu. Mais um: quer posar de vítima politica.
A pulga adverte ao meu
pé reticente: não caia nessa.
Ao terminar de ler o texto, meus pensamentos me levaram a concluir que, enquanto Zé Dirceu, Genoíno e outros estão indo para a cadeia, outros bem piores do que eles (não necessariamente petistas ou membros do PT) permanecerão à solta, buscando o poder pelo poder. Na minha opinião, tão deletérios para o processo democrático quanto Zé Dirceu e companhia são os caciques do PMDB, Sarney e Temer na frente. O que o PT de Lula fez faz nada mais é do que lição aprendida do PMDB bastardo nascido do cassamento interesseiro com o PFL (este nascido das cinzas do PDS da ditadura) para eleger Tancredo presidente e vice-presidente Sarney (presidente do PDS da ditadura até a conveniente transferência para o PFL e daí para o PMDB). Convém lembrar que o PSDB nasceu de uma ala dissidente do PMDB. Ou seja, tudo é excremento produzido pelo mesmo processo de busca do poder para se servir do bem público em benefício próprio e dos companheiros de partido.
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