João Saldanha nos traços notáveis de Ique |
Isso se deu em algum ano
da década de 1970.
Eu escutava um jogo do
Atlético Paranaense na rádio e, como é usual, sofria com o desempenho pífio do
time.
Nesse dia estava em
Curitiba o brilhante jornalista João Saldanha, criatura sábia e divertida, dono
de um humor capaz de virar tudo pelo avesso. João, como ativista político,
membro do partido comunista, morou em Curitiba e outras cidades do Paraná,
tendo participado do movimento de luta pela terra em Porecatu. Era visadíssimo
pela ditadura. Havia sido o responsável pela montagem do time que ganhara a Copa
de 70, garantindo a classificação, quando inventou “as feras do Saldanha”. Foi
defenestrado pelo ditador do momento, General Garrastazu Médici, conhecido por não
entender de nada, inclusive de futebol.
Assim, tendo morado a duas
quadras da Baixada e sendo um tipo esperto, João Saldanha era torcedor do
Atlético. Foi ao jogo e funcionou como comentarista de uma rádio.
Com o Atlético jogando
mal, no intervalo o narrador perguntou ao João o que o treinador deveria fazer para
voltar melhor no segundo tempo. João, conhecido como João sem Medo, bateu de
primeira:
- Deve tirar o meia
esquerda.
E calou a boca. O narrador
insistiu:
- Mas colocar quem no lugar
dele, Saldanha?
E João sem Medo:
- Ninguém. Basta tirar o
meia esquerda.
Há situações na história
do futebol, dos países e da vida de cada um de nós em que é preciso tirar de
cena aquilo que atrapalha, que fede, que contamina com sua incompetência, que
corrompe onde mete as patas sujas. Jogar fora a fralda usada, como na imagem de
Eça de Queiroz que já citei aqui: “Políticos e fraldas devem ser trocadas
periodicamente e pelos mesmos motivos”.
O resto se vê depois.
Sábio João.
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