Joli Gonzáles, Mano izquierda alzada, 1942 |
Oscar Niemeyer, Memorial da América.Latina, 1988. |
Sem qualquer implicância
com Oscar Niemayer, a quem admiro, devo divulgar que encontrei uma coincidência
assombrosa entre uma escultura de Joli Gonzáles e uma obra de Niemeyer.
Joli Gonzáles foi um notável escultor catalão, que
revolucionou a escultura em ferro, inclusive em obras de grandes dimensões.
Nasceu em Barcelona, 1876, e faleceu em Paris, 1942. Viveu em Paris e foi amigo
de Pablo Picasso. É considerado um dos grandes escultores do século XX.
“Mano izquierda alzada”, de 1942 é uma escultura em ferro. A mão
espalmada, revoltada e suplicante, mas indignada e inconformada, que reproduzo
acima. Tem inclusive uma corrosão que parece escorrer de sua
palma.
Já Oscar Niemayer
não carece de apresentação. Todos sabemos quem foi e conhecemos, por exemplo,
sua escultura de 1988 que se encontra no Memorial da América Latina, em São Paulo. Temos aqui
um traçado que lembra o mapa da América Latina escorrendo sangue. Tanto a concepção
da mão e de algo que escorre de sua palma têm uma semelhança espantosa com a obra
de Joli Gonzáles.
Nesses casos é possível pensar em várias coisas. Uma homenagem ao
escultor Joli ou uma espantosa coincidência sempre possível. Ou um plágio.
Homenagem não terá sido, pois Joli não é mencionado em parte alguma, pelo
que sei – e admito correções.
Já as coincidências não são raras nas ciências, nas artes e na
tecnologia.
Mas fica uma pulga atrás da orelha. Por acaso Niemayer reteve no
inconsciente a mão esquerda de Joli, que de lá saltou quarenta e tantos anos
depois?
Li esta crônica sexta-feira passada. Confesso que até agora estou intrigado. É pouco provável que Niemeyer não conhecesse a obra do Julio González. E acho improvável que ele cometesse um plágio consciente e voluntário, colocando em risco sua reputação. Não tenho expertise no assunto, embora apreciador das artes em geral, e não sei exatamente o que caracteriza o plágio em artes visuais. O mero aproveitamento de uma ideia e desenvolvimento, a partir daí, de uma própria seria plágio? O fato de González ter erguido sua mão esquerda em ferro impossibilita que outros artistas venham a fazer o mesmo, empregando outros materiais e em outros contextos? Não sei. Um dia escrevi uma crônica intitulada Oito Mulheres. Meses depois me deparei com uma crônica do Domingos Pellegrini, escrita muito tempo antes, sob o mesmo título. Tomei um susto. Cometi plágio? Não, a semelhança restringia-se ao título. Nossas oito mulheres eram outras e bem diferentes. Quando comuniquei ao Pellegrini o fato, ele me respondeu brincando: oito minhas e oito suas, dá pra montar um time de futebol com o banco de reservas! Voltando à escultura, fica a pergunta: nosso arquiteto maior inspirou-se na mão do Gonzáles ou não? Vá saber. E não podemos mais perguntar a ele. Pena. Quem sabe um dia alguém elucide o enigma e tire essa pulga detrás das nossas orelhas. De qualquer forma o parabenizo, caro Roberto, por ter levantado a lebre. A mim, confesso, a semelhança passaria despercebida.
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