O governo da Dilma anda
numa gangorra.
Há pouco tempo, surfava
em águas favoráveis alimentadas por altos índices de popularidade. Veio o mês
de junho e as coisas desandaram. As manifestações de rua tomaram conta do
noticiário e deixaram o governo atônito. Os índices despencaram. Encastelada no
Palácio, Dilma tentou reagir com medidas (lembram? – plebiscito, grana do
pré-sal para a educação, médicos importados). Tudo ou quase tudo foi por água
abaixo – apenas sobrenadaram os médicos cubanos. Os índices não mexeram, a
colheita se mostrou rala.
Foi quando ela recebeu
um grande presente de seu hoje inimigo externo preferido, Barack Obama. Foi
revelado – por um ex-técnico da
inteligência americana, Edward Snowden – o sistema de espionagem
comandado pela agência nacional de
segurança, a NSA. Os computadores brasileiros, de empresas e do governo,
estariam sendo monitorados pela potência norte-americana. Revelou-se até dados a
respeito da Dilma e da Petrobrás, objetos de espionagem.
É sabido que espionagem
é o dia-a-dia das atividades das agências de inteligência mundo afora, que
bisbilhotam o que fazem amigos cordiais e inimigos declarados. Ninguém escapa.
Mas os sábios que rodeiam Dilma, sempre de olho nos índices de popularidades, farejaram
aí um grande trunfo: havia um inimigo externo a ameaçar a dignidade da nação
brasileira.
O inimigo externo, como
se sabe, é um trunfo sempre disponível para governos em crise, desde os
“subversivos” dos anos 1970, os “judeus” para Hitler, os “ingleses” nas Ilhas
Malvinas para os ditadores argentinos, os “comunistas” para as direitas do
mundo inteiro e os “dissidentes” para as ditaduras de esquerda.
Fez-se então grande
estardalhaço. Aquele minúsculo diplomata chamado Patriota tentou dar uma prensa
no secretário de Estado Americano, Jonh Kerry, que
andou por aqui procurando acalmar os ânimos patrioteiros. Mas levou do colega
americano um chega para lá que se tornou um dos clássicos das trapalhadas
diplomáticas do século.
Dilma não desistiu.
Saiu mundo afora reclamando, exigindo explicações, cada vez mais exaltada.
Queria estar à altura de sua fama de valentona. Não conseguiu nada. O Patriota
se viu envolvido em seguida (graças aos céus, pensou Dilma) na fuga rumo ao
Brasil do senador boliviano Roger
Pinto Molina; acabou transferido do cargo. Foi para os EUA e assumiu seu
lugar um tipo com fama de durão, Luiz Alberto Figueiredo.
Eis que os índices de
popularidade reagiram. Pifiamente, mas o bastante para produzir tabelinhas
estatísticas nos jornais da televisão: seis pontinhos. Euforia.
Mas é pouco e ela não sabe
o que fazer – enquanto governo da coisa pública – naqueles imensos salões do
Alvorada. Agora, Dilma ameaça não ir aos EUA no dia 23 de outubro para
encontrar o presidente Barack Obama, conforme programado. Deseja talvez que antes
disso Obama se ajoelhe a seus pés e jure nunca mais espionar o país que ela
governa.
Impossível, é claro.
Espionagem é coisa diária e corriqueira, fazendo parte da paranoia de que se
alimentam as relações entre países. Até ela sabe disso. Tudo mundo sabe disso.
Mas o circo segue, já
que a presidente não tem nenhuma ação positiva para colocar em seu lugar que possa
mover sua popularidade. O governo presente – a exemplo de outros passados –
carece de ideias, de projetos, de planos de longo ou curto prazo. Há muito o
que fazer na medicina brasileira, mas é mais fácil importar médicos. Há
imensas tarefas a executar na educação, mas é mais fácil e bombástico anunciar
verbas (liberadas quando e para quê?). O mesmo para os transportes,
para ficarmos apenas nas áreas feridas pelas manifestações das ruas.
Como resultado, ficamos
todos os dias ouvindo e vendo na mídia declarações inúteis sobre uma inútil
questão de espionagem que algum jogo de cintura de estadista – houvesse por
aqui algum estadista – teria resolvido num piscar de olhos.
Truculenta e pesada,
Dilma continua dando trombadas e rosnando. De olho nos índices de popularidade.
Quem sabe o povo topa defender seus gestos como defenderia a seleção brasileira
num confronto com a seleção argentina.
Patriotadas é claro.
Gasto de tempo e de dinheiro. E da nossa paciência.
Há, além dos aviões de
carreira, um grande tédio cruzando os céus nacionais.
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