segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A farsa da espionagem ou O oportuno inimigo externo





O governo da Dilma anda numa gangorra.
Há pouco tempo, surfava em águas favoráveis alimentadas por altos índices de popularidade. Veio o mês de junho e as coisas desandaram. As manifestações de rua tomaram conta do noticiário e deixaram o governo atônito. Os índices despencaram. Encastelada no Palácio, Dilma tentou reagir com medidas (lembram? – plebiscito, grana do pré-sal para a educação, médicos importados). Tudo ou quase tudo foi por água abaixo – apenas sobrenadaram os médicos cubanos. Os índices não mexeram, a colheita se mostrou rala.
Foi quando ela recebeu um grande presente de seu hoje inimigo externo preferido, Barack Obama. Foi revelado – por um ex-técnico da inteligência americana, Edward Snowden – o sistema de espionagem comandado pela agência nacional de segurança, a NSA. Os computadores brasileiros, de empresas e do governo, estariam sendo monitorados pela potência norte-americana. Revelou-se até dados a respeito da Dilma e da Petrobrás, objetos de espionagem.
É sabido que espionagem é o dia-a-dia das atividades das agências de inteligência mundo afora, que bisbilhotam o que fazem amigos cordiais e inimigos declarados. Ninguém escapa. Mas os sábios que rodeiam Dilma, sempre de olho nos índices de popularidades, farejaram aí um grande trunfo: havia um inimigo externo a ameaçar a dignidade da nação brasileira.
O inimigo externo, como se sabe, é um trunfo sempre disponível para governos em crise, desde os “subversivos” dos anos 1970, os “judeus” para Hitler, os “ingleses” nas Ilhas Malvinas para os ditadores argentinos, os “comunistas” para as direitas do mundo inteiro e os “dissidentes” para as ditaduras de esquerda.
Fez-se então grande estardalhaço. Aquele minúsculo diplomata chamado Patriota tentou dar uma prensa no secretário de Estado Americano, Jonh Kerry, que andou por aqui procurando acalmar os ânimos patrioteiros. Mas levou do colega americano um chega para lá que se tornou um dos clássicos das trapalhadas diplomáticas do século.
Dilma não desistiu. Saiu mundo afora reclamando, exigindo explicações, cada vez mais exaltada. Queria estar à altura de sua fama de valentona. Não conseguiu nada. O Patriota se viu envolvido em seguida (graças aos céus, pensou Dilma) na fuga rumo ao Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina; acabou transferido do cargo. Foi para os EUA e assumiu seu lugar um tipo com fama de durão, Luiz Alberto Figueiredo.
Eis que os índices de popularidade reagiram. Pifiamente, mas o bastante para produzir tabelinhas estatísticas nos jornais da televisão: seis pontinhos. Euforia.
Mas é pouco e ela não sabe o que fazer – enquanto governo da coisa pública – naqueles imensos salões do Alvorada. Agora, Dilma ameaça não ir aos EUA no dia 23 de outubro para encontrar o presidente Barack Obama, conforme programado. Deseja talvez que antes disso Obama se ajoelhe a seus pés e jure nunca mais espionar o país que ela governa.
Impossível, é claro. Espionagem é coisa diária e corriqueira, fazendo parte da paranoia de que se alimentam as relações entre países. Até ela sabe disso. Tudo mundo sabe disso.
Mas o circo segue, já que a presidente não tem nenhuma ação positiva para colocar em seu lugar que possa mover sua popularidade. O governo presente – a exemplo de outros passados – carece de ideias, de projetos, de planos de longo ou curto prazo. Há muito o que fazer na medicina brasileira, mas é mais fácil importar médicos. Há imensas tarefas a executar na educação, mas é mais fácil e bombástico anunciar verbas (liberadas quando e para quê?). O mesmo para os transportes, para ficarmos apenas nas áreas feridas pelas manifestações das ruas.
Como resultado, ficamos todos os dias ouvindo e vendo na mídia declarações inúteis sobre uma inútil questão de espionagem que algum jogo de cintura de estadista – houvesse por aqui algum estadista – teria resolvido num piscar de olhos.
Truculenta e pesada, Dilma continua dando trombadas e rosnando. De olho nos índices de popularidade. Quem sabe o povo topa defender seus gestos como defenderia a seleção brasileira num confronto com a seleção argentina.
Patriotadas é claro. Gasto de tempo e de dinheiro. E da nossa paciência.
Há, além dos aviões de carreira, um grande tédio cruzando os céus nacionais.




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