Rio de Janeiro em 1895 - Estação D. Pedro II |
Rua de Lancaster em 1895 |
Em abril de 2003 publiquei uma crônica a
respeito dos feitos notáveis realizados nesse fantástico ano de 1895, uma das
minhas manias, que não são poucas. Acho, contra todos os calendários, que é
nesse ano que começa o século XX. Escrevi então que nele surge o cinema, o
voleibol, a ideia do descartável, a publicação de um marco da psicanálise, Estudos
de Histeria, de Freud e Breuer, e, last
but not least, é fundado o Clube de Regatas Flamengo, o que bastaria para
justificar um ano cheio de graça.
Volto
ao tema para dar vasão a uma pequena parte da montanha de anotações que
acumulei sobre esse ano, esperando que os leitores se divirtam tanto quanto os
baianos que, aproveitando ocasião tão benfazeja, deram expansão a seu espírito
festeiro desfilando o primeiro afoxé em Salvador, chamado Pândegos da Folia.
Sete anos após a abolição da escravatura, notem bem.
Falando em baianos, lembremos que um dos mais famosos, Rui Barbosa, volta
do exílio em 1895, para onde o mandara Floriano Peixoto, por apoiar a Revolta
da Armada. Rui desancava o governo através de artigos que escrevia no Jornal do Brasil e de pronunciamentos na
tribuna do senado. Retorna de Buenos Aires já no governo de Prudente de Morais,
retomando suas atividades no Senado e exigindo anistia aos revolucionários
federalistas e a todos que foram punidos por Floriano. Como se vê, Rui tinha
qualidades mais importantes do que conhecer regras gramaticais e escrever
frases quilométricas em ordem inversa, o que deu origem ao estilo torturado com
o qual nos brindam juízes e advogados, imaginando dar demonstrações de
sabedoria e estilo refinado.
Pois é no
ano de 1895, ainda no domínio das desavenças políticas, que o Presidente dos
EUA, Grover Cleveland, chamado a decidir a Questão das Missões, deu ganho de
causa ao Brasil. Daí resultou o nome da cidade de Clevelândia e, mais adiante,
uma disputa entre Paraná e Santa Catarina que terminou em grossa pancadaria.
No outro
extremo do Brasil, os bubalinos (ou, no popular, búfalos) da raça Mediterrâneo,
chegam à Ilha de Marajó vindos da Itália, tendo sido recebidos cordialmente –
já que búfalos adoram água – por chuvas intensas, tanto em impetuosidade quanto
em duração, obrigando a transferência da procissão dos Passos por quatro vezes.
A procissão acabou se realizando na primeira tarde em que houve uma estiada e
os búfalos, como se sabe, ficaram por aí e cresceram e se multiplicaram.
Com ou
sem chuvas, mas pensando nos tempos tempestuosos que corriam, Fontes, Sóter e
Escobar fundariam, em Santos, um centro socialista, responsável pela publicação
do jornal A Questão Social, ao mesmo tempo em que o alto preço do café
nos mercados internacionais, que neste ano chegou a valer 13$475 a partida de
10 quilos, influenciava diretamente a quantidade de transações imobiliárias.
E, sendo
igualmente um ano santo, em 1895 o pequeno grupo que se formara em torno de
Amabile Vígolo – mais tarde conhecida como Irmã Paulina do Coração Agonizante
de Jesus – que havia se transferido a Nova Trento, recebeu a aprovação do Bispo
de Curitiba Dom José de Camargo Barros, com o nome de Filhas da Imaculada
Conceição. Irmã Paulina se tornaria a primeira santa brasileira, um encargo dos
mais pesados, convenhamos.
Mas esse
foi um ano decisivo também para a ciência. Vejam o que escreveu, em 1972, J.
Allen Hynek, a propósito da polêmica entre William James e seus colegas de
Harvard: “O tempo vingou-o inteiramente. Ainda que ele não pudesse suspeitar
nem de leve, o ano de 1895 viria a ser o primeiro dos ‘trinta anos que abalaram
a Física’, que viu a ‘teoria da relatividade’, o ‘quantum mecânico’, e muitas
novas teorias interligadas derrubarem o alicerce da Física clássica, que era
aceita por todos os físicos como a pedra fundamental do universo”.
Não
bastasse, em 1895 foi reconhecida a raça alemã de cães Dobermann, talvez para
contrabalançar o Pincher, que surge na mesma data. Ignoro as razões, sejam
astrológicas, econômicas ou metafísicas, mas o mundo estava em profundo processo
revolucionário.
Que ano!
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