terça-feira, 12 de março de 2013

O futuro papa e o ufanismo babaca da mídia brasileira




O jornalismo brasileiro sofre de vários males. Um deles: imaginar que tudo no mundo – PIB, índices econômicos, jogos olímpicos, prêmios Nobel – seja algo equivalente a um Fla x Flu, ou, melhor ainda, a um clássico disputado pela seleção canarinho. Talvez alguns dos desmemoriados brasileiros ainda se lembrem da declaração irresponsável e infeliz de Lula diante de problemas econômicos enfrentados pelos EUA quando explodiu a bolha. Como se aquilo nada tivesse com o nosso país. Como se tudo se resumisse a um placar de futebol.
Me parece outra face da doença que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata”.
Agora, em tempo de conclave, a coisa está ficando ainda mais ridícula. Imaginam os jornalões (tanto os impressos, os das televisões e das rádios) que tudo se resume em fazer torcida para um Papa brasileiro. Ridículo, pois há questões muito mais importantes a serem tratadas nesse momento da história da igreja católica do que a nacionalidade de um papa. E ignora-se que a Igreja Católica é uma instituição com dois milênios de história, uma monumental estrutura hierárquica, um sólido conjunto de dogmas e crenças, uma produção imensa de textos teológicos e filosóficos, uma criação de costumes e rituais religiosos que estão espalhados pelo mundo inteiro, uma variedade enorme de feitos grandiosos e, também, uma série de fatos comprometedores e mesmo infames que atingem as finanças do Vaticano e o comportamento dos seus sacerdotes.
Enfim, me deixa antecipadamente estarrecido a possibilidade de Dom Odilo Scherer vir a ser escolhido Papa. Teremos que aguentar, em variações as mais babacas, gritos entusiasmados de alguns galvões buenos exaltando a “vitória” brasileira no conclave. Aquilo de Brazil-zil-zil!
Nada contra a possibilidade de ser escolhido um papa nascido no Brasil, desde que se saiba que a nacionalidade de um papa é assunto absolutamente secundário numa estrutura monumental, transnacional e milenar como a da Igreja Católica, que teria direito a uma abordagem menos ufanista e mais competente por parte da mídia.
Enfim, ridículo. Deus que nos livre desse vexame, já que dom Odilo Scherer, venha ou não a ser escolhido Papa, não tem nada a ver com isso.



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