O jornalismo brasileiro
sofre de vários males. Um deles: imaginar que tudo no mundo – PIB, índices
econômicos, jogos olímpicos, prêmios Nobel – seja algo equivalente a um Fla x
Flu, ou, melhor ainda, a um clássico disputado pela seleção canarinho. Talvez
alguns dos desmemoriados brasileiros ainda se lembrem da declaração irresponsável
e infeliz de Lula diante de problemas econômicos enfrentados pelos EUA quando
explodiu a bolha. Como se aquilo nada tivesse com o nosso país. Como se tudo se
resumisse a um placar de futebol.
Me parece outra face da
doença que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata”.
Agora, em tempo de
conclave, a coisa está ficando ainda mais ridícula. Imaginam os jornalões (tanto
os impressos, os das televisões e das rádios) que tudo se resume em fazer torcida
para um Papa brasileiro. Ridículo, pois há questões muito mais importantes a
serem tratadas nesse momento da história da igreja católica do que a nacionalidade
de um papa. E ignora-se que a Igreja Católica é uma instituição com dois milênios
de história, uma monumental estrutura hierárquica, um sólido conjunto de dogmas
e crenças, uma produção imensa de textos teológicos e filosóficos, uma criação
de costumes e rituais religiosos que estão espalhados pelo mundo inteiro, uma
variedade enorme de feitos grandiosos e, também, uma série de fatos
comprometedores e mesmo infames que atingem as finanças do Vaticano e o comportamento
dos seus sacerdotes.
Enfim, me deixa antecipadamente
estarrecido a possibilidade de Dom Odilo
Scherer vir a ser escolhido Papa. Teremos que aguentar, em
variações as mais babacas, gritos entusiasmados de alguns galvões buenos exaltando
a “vitória” brasileira no conclave. Aquilo de Brazil-zil-zil!
Nada contra a
possibilidade de ser escolhido um papa nascido no Brasil, desde que se saiba
que a nacionalidade de um papa é assunto absolutamente secundário numa
estrutura monumental, transnacional e milenar como a da Igreja Católica, que
teria direito a uma abordagem menos ufanista e mais competente por parte da
mídia.
Enfim, ridículo. Deus
que nos livre desse vexame, já que dom Odilo Scherer, venha ou não a ser escolhido Papa, não tem nada a
ver com isso.
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