Quem não viu esse filme, O rato que ruge, deve buscá-lo com urgência nas locadoras. Trata-se de uma hilariante comédia britânica dirigida por Jack Arnold, lançada em 1959. No elenco, Peter Sellers dá mais um de seus shows de interpretação, no caso, atuando em três papéis, um deles feminino, o da Grande Duquesa Gloriana XII. Também atuam Jean Seberg – belíssima – além de William Hartnell, David Kossoff e McKern, entre outros. A sinopse poderia ser mais ou menos a seguinte: um minúsculo país declara guerra aos EUA na esperança de, sendo derrotado, receber posterior ajuda financeira, com o que sairia da grave crise financeira em que se encontra. O diabo é que eles ganham a guerra.
Lembrei-me desse filme ao assistir
a encenação tosca ocorrida ontem, dia 13 de agosto, em terras tupiniquins, pelo
ministro Antônio Patriota (no papel de Dilma Rousseff, imagino) no encontro com
o secretário de Estado
americano, John Kerry.
Como se sabe, os serviços de espionagem dos EUA foram pegos
com a boca na botija a partir da divulgação de papéis secretos pelo norte-americano Edward Snowden.
Agora, John Kerry visita países na tentativa
de apagar o incêndio. Encenação, é claro, um modo de afagar as tribos locais.
Até aí, tudo é diplomacia.
Ocorre que Dilma, em crise de prestígio, e
Patriota, em crise do que fazer, resolveram agigantar o evento e denunciar
espionagem por parte dos EUA. Queriam pedidos de desculpas, esclarecimentos e,
mais do que isso, uma jura norte-americana garantindo que espionagem nunca
mais.
Santa simulação. É claro que espionar indiscriminadamente uma
população é coisa muito feia que país algum deveria fazer. Agora, espionagem
entre nações, amigas ou não – embora devamos nos lembrar que países não têm
amigos, mas interesses – sempre houve e sempre haverá, o que gerou o comentário
lacônico de John Kerry:
- Peço ao povo brasileiro que se concentre nas realidades importantes
entre os nossos países, que compartilham valores democráticos e o empenho em
favor da diversidade. Essas relações podem ter um impacto global positivo se
continuarmos trabalhando em parceria – e completou: os EUA precisam de uma
política preventiva. Queremos evitar que isso (ataque terrorista) aconteça.
Precisamos saber, de antemão, o que está ocorrendo. Por isso os EUA recolhem
inteligência estrangeira.
Ou seja, o Patriota (no papel de Dilma Rousseff,
insisto) levou um pito. Mais ou menos assim: menino, preste atenção com o que
está lidando.
A delirante paranoia americana, sabemos,
enfrenta a não menos delirante paranoia dos terroristas radicais muçulmanos,
mas é preciso que governantes brasileiros saibam que negócios e conversas entre
países não podem ser conduzidas como se se tratasse de mera oportunidade
marqueteira para fazer pose e rugir como o rato do filme acima citado.
É o que acontece quando nossos governantes se
imaginam no papel do pranteado Chaves da Venezuela. Deveriam lembrar que Chaves
era um tipo engraçado e um comediante amador, nunca um profissional, como
Peter Sellers.
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