Quando a gente imagina
que chegou ao fundo do poço, eis que os senhores deputados federais nos
surpreendem. O limite da falta de vergonha na cara não foi alcançado ainda.
Há alguns anos venho
repetindo – e hoje repito mais uma vez – que somos governados por delinquentes.
As evidências são
óbvias.
Por um lado eles usam
de todos os truques sujos para se eleger, valendo conchavos, caixa dois, grana
de empreiteiras, mentiras deslavadas, promessas cínicas, adulação dos pobres e
oprimidos, comer pastel em feira e buchada no nordeste.
Uma vez eleitos, eles
sobem nas tamancas, como se dizia antanho e alhures, e do alto de seus cargos
passam a agir com uma voracidade de ave de rapina: verbas, comissões, toma lá
da cá, mudança de partido, declarar que fez o que não fez e que não fez o que
fez, trabalhar dois dias por semana, aumentar os próprios salários e desprezar
o populacho e suas opiniões como uma Maria Antonieta mandando o povo comer
brioches.
Enfim, quando pegos com
a mão na cumbuca, declarar que não sabiam de nada, que irão tomar providências,
que tudo não passa de intriga política, assumir caras e bocas de indignados
diante das acusações e jurar que são uns santos homens.
Agora, o caso do
deputado Natan Donadon (PMDB-RO), essa triste figura. Cometeu seus “malfeitos”
– segundo o eufemismo gentil da senhora presidente Dilma – há mais de treze
anos, sofreu longo processo e afinal o STF resolveu condená-lo. Pois, como
todos sabem, a câmara decidiu não cassar seu mandato. Em votação secreta, é
claro. 233
votos a favor, 131 contra e 41 abstenções.
Cria-se então essa situação
absurda: o tal Donadon está preso na Papuda (belo nome para o endereço dele) em
Brasília desde o dia 28 de junho, condenado em última instância pelo desvio de
R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia, quando era diretor financeiro da
instituição. Lembremos que ele foi denunciado em 1999, há mais de 13 anos, portanto.
Temos então um deputado que
segue no gozo de seu mandato morando no presídio da Papuda. Um deputado preso
ou um presidiário deputado federal. A única coisa em sua defesa poderia ser o
fato de que não é o único que mereceria estar atrás das grades.
Ele é no momento o símbolo –
já tivemos outros – de que o espírito quadrilheiro, o corporativismo digno da omertà dos gangsters, não dá a menor
importância àquilo que se tem chamado de “vozes das ruas”.
Fico estarrecido – mas não
surpreso, notem bem – pelo fato de que esses políticos se escondam por detrás
do “voto secreto” para cometer esse desatino. Afinal, se o tal voto é secreto
individualmente, é público coletivamente. Todos sabemos das manobras e do
cinismo que tal votação evidencia. Portanto, não há segredo algum.
Eis o que pode nos levar a
sentir nojo da atividade política.
Mas precisamos lembrar que
foi por uma tática de desmoralização da política que ditadores se perpetuaram
mundo afora, sendo um exemplo o caso de Francisco Franco, na Espanha, que
infelicitou seu país de 1939 a 1975, quando resolveu morrer. Portanto, devemos
insistir. Melhor uma democracia cheia de donadons do que um governo ditatorial
nas mãos de um garrastazu qualquer.
Mas cansa. Desde criança –
sendo meu pai jornalista – ouço falar em reforma agrária, em injustiça social,
em níveis de pobreza insuportáveis, em bandalheiras palacianas. E, sempre, ouço
alguém declarando que seriam tomadas providências enérgicas.
Quando?
Talvez quando nenhum de nós
ficar em casa e todos formos para as ruas com as armas que estiverem a nosso
alcance.
Conseguiremos fazer isso?
Precisaremos fazer isso?
Eis onde reside o mais miserável
fruto do crime desses delinquentes: a corrupção criada por eles não se liga
apenas ao roubo de dinheiro público. São corruptos, antes de mais nada, porque
corrompem nossas esperanças em um país correto, justo e gerido segundo os
desejos de uma população que seja ética e politicamente esclarecida e exigente.
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