Eles riem do quê? De quem? Você tem algum palpite? |
Sempre guardo a
impressão de que o Brasil – seus políticos, suas instituições, suas mazelas,
seus habitantes – se revela plenamente pelos absurdos que é capaz de produzir.
Quem for incapaz de entender absurdos jamais entenderá esse pobre país.
Não é um absurdo, pergunto,
a construção desses estádios megalomaníacos para um campeonato de futebol num
país com problemas gravíssimos em áreas vitais como saúde, educação etc.?
Coloco o etc. não por economia de dígitos, mas para não cansar os leitores com
as repetições de problemas já sabidos. Todo mundo sabe a que lista de mazelas esse
etc. se refere.
Meu pai, nascido no
início do século XX, quando ouvia falar em reforma agrária – não dar o peixe,
mas ensinar a pescar, não dar apenas terra, mas instrumentos, sementes,
desapropriar e indenizar, caso seja justo – erguia as mãos para os céus e
bradava:
- Ouço falar nisso
desde menino! Não aguento mais!
E acrescentava à fase
um palavrão que não vou incluir aqui para não ferir ouvidos delicados.
Não foi um absurdo
retirar armas da população dizendo que isso diminuiria a criminalidade? Eu não
tenho armas nem as quero, mas sei que bandidos as adquirem via contrabando,
tráfico de drogas etc. Não dependem de cidadãos incautos, até porque preferem armas
mais potentes. Todo mundo sabe disso. O ministro da Justiça na época, o
trepidante Tarso Genro, não sabia disso? Fez que não sabia? Imaginava iludir a
todos nós, bandidos aí incluídos?
Para não encompridar
conversa, vamos direto a esse monstruoso escândalo das prisões no Maranhão,
tentando não repetir as notícias que estão em todos os jornais.
Todos sabemos o que são
as prisões brasileiras, mesmo os que não foram trancafiados nelas. Diante dos
fatos revelados – estupros, degolas, espancamentos, telefones celulares, balas
de borracha, comida podre – será concebível que a senhora Roseana Sarney,
governadora, com seu batalhão de assessores, com seu pai senador de triste
memória, o José Ribamar, não soubesse o que lá se passava? Será que esta
senhora nunca chamou os seus secretários de Justiça e de Segurança para lhes
perguntar como iam as coisas na prisão de Pedrinhas?
A governadora ganha um
bom salário e conta com uma trupe de auxiliares para governar aquele estado
calamitoso que é o Maranhão, campeão dos piores índices nacionais em seja lá o
que for. Pois será imaginável que só agora, com o filme de terror insano a que
fomos obrigados a assistir, ela se deu conta do que se passa? Diz ela que vai tomar
medidas, formar comissões, socorrer-se do papai, da Dilma, do Ministro da
Justiça, da Gleisi e da inocente útil Maria do Rosário, que, ao criticar
Roseana, levou um pito de Dilma.
Eis aí. O absurdo.
Nossos governantes –
que pagam por obras jamais feitas, que gastam o dobro para pagar a metade, que
passeiam em jatos das Forças Armadas, que são autores de obras inacabadas ou
inúteis, que largam a educação, a saúde e etc. ao abandono, que fazem
licitações de caviar e champanhe tal como Roseana – levam uma vida da fuzarca,
para dizer o mínimo.
Adiam tudo, protelam
tudo, nada resolvem. Meu pai tinha razão, até no palavrão que não revelo.
Agora, a senhora Dilma está preocupada em não ferir o olivelharca José Ribamar.
Precisa de votos, sobretudo do Maranhão, onde alcançou, em 2010, uma votação
astronômica: 79%.
É possível levar a
sério? Não. O absurdo não pode ser levado a sério.
Que me desculpem os atuais
escritores brasileiros que anseiam ser beletristas. O Brasil precisa é de Gregório
de Matos Guerra, o Boca do Inferno, de Apporelly, o Barão de Itararé,
do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, de Millôr Fernandes redivivo, de Cervantes,
de Voltaire, de Molière, de Dostoievski, de Nikolai Gogol, de Kafka, de Shakespeare.
Só autores desse
quilate poderiam virar o país pelo avesso e nos dar uma ideia de como seria esse
gigante adormecido quando virado pelo avesso do avesso.
Se me entendem.
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