Há um ano, no dia
27/01/2013, sofremos o impacto das notícias a respeito da chamada “tragédia da
boate Kiss”. Foram 442 mortes, centenas de feridos. São perdas irrecuperáveis e
irreparáveis – nada poderá curar a dor sentida por pais, irmãos, amigos,
namorados, nem mesmo por simples cidadãos brasileiros perplexos. Todos estão aprendendo
a conviver com a brutalidade devastadora que os atingiu.
Podemos oferecer a eles
apenas a nossa solidariedade.
Por isso registro aqui algo
que me parece pendente. Não falo da punição dos culpados – que, esperamos, a
justiça venha a fazer – mas da falta absoluta de medidas efetivas, de
determinações claras, de controle rígido, sobre esse tipo de casas de
espetáculos espalhadas por todo o país.
Como sempre, se
procedeu da maneira mais desastrosa. Nos primeiros momentos, “autoridades”
procuraram escapar de qualquer culpa, advogados foram acionados, políticos
oportunistas anunciaram leis para regular a questão. O prefeito dizia não ter
nada com isso. O governador do Rio Grande do Sul se esquivou de imediato. Os
bombeiros não sabiam de nada.
Ora, no Brasil não
faltam leis, país onde elas abundam, valendo o trocadilho.
O que falta é
vigilância, acompanhamento de obras, análise de projetos, verificação das
condições de segurança, exigência de cumprimento de leis já existentes,
honestidade administrativa no acompanhamento das construções. E que fiscais
fiscalizem e não recebam propinas.
Mas os governantes agem
segundo um padrão conhecido.
Da presidente ao
governador e ao prefeito, todos criam a ilusão de que tudo se resolve com leis
ou com verbas. Não é assim. Vejam o caso ridículo das obras para a Copa do
Mundo. Fizeram leis, as verbas foram destinadas, mas, não fosse a vigilância da
FIFA, tudo continuaria ao deus-dará até o dia do primeiro jogo. A FIFA é
certamente uma entidade oportunista, rica e safada. Tudo bem. Mas, não agindo
ao modo brasileiro, sabe que administrar implica fazer o que tem que ser feito.
Como resultado dessa monumental incompetência, o país, da presidente ao
torcedor, é alvo de pitos e advertências de um Jérôme Valcke qualquer ou de um Joseph
Blatte da vida. Uma vergonha.
O mesmo no caso da boate
Kiss. Não se tem notícia de melhoria na fiscalização das casas de shows
existentes no país. Não se sabe se pessoal adequado foi designado e treinado
para vigiar o cumprimento das exigências impostas a todos que estão envolvidos
em espetáculos em ambientes deste tipo.
Um ano após, o processo
contra os responsáveis navega ao modo das chicanas jurídicas. E a única coisa
que nos restaria fazer, após tal desastre, não foi feita: providenciar meios e
modos e critérios técnicos e administrativos capazes de garantir que quem entra
numa dessas boates não estará entrando numa arapuca assassina.
Se isso não for feito, ficará
tudo como dantes no quartel de Abrantes.
É o Brasil.
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