Cena de Tempos Modernos, um clássico de Chaplin |
Acredito em poucas coisas,
entre elas num complô das máquinas e utensílios em geral, sejam carros, bicicletas,
tomadas, pés de mesa. Aquilo que o professor Woiski chamava de servomecanismos
para nos passar a noção de input e output. Pois de tanto serem servos, um dia
se revoltam.
Nunca pifam isoladamente.
Reagem em cadeia, solidários. Queima uma lâmpada num dia e, na noite seguinte, outra
falece descaradamente. Dissimulados, em seguida é um cano que vaza.
Logo o cano do aquecedor a
gás. É preciso chamar encanador, desligar o registro geral do prédio para o conserto.
Você descobre que existem seis registros. Qual deles? Ninguém sabe. Não há
planta, mapa, ficha técnica, nada. Tentativa e erro, então. Ou seja, erro. O pandemônio
se instala.
Há muitos anos, numa
viagem a Florianópolis, quando pilotava meu poderoso Opala 73, fui surpreendido
por uma chuvarada infernal. O que pifou? O limpador de para-brisa. Poderia ser
a maçaneta da porta, mas não. Foi o limpador.
Saí do carro, enfiando os
pés na lama, quando uma camionete parou a meu lado. Uma boa alma, pensei. Vai
ajudar.
O sujeito desce o vidro do
carro e pergunta:
- Que houve, amigo?
- O para-brisa, explico,
apontando a vareta inerte.
- Ah, esse troço só
encrenca quando chove! – e, às gargalhadas, ele se mandou.
E eu molhado até os ossos.
O recurso foi dirigir três quilômetros com a cabeça para fora da janela, a mão
esquerda servindo de boné para enfrentar a chuva.
Assim como veio, a chuva
se foi. Só então pude recolher a cabeça da janela. Acelerei, logo estaria no camping.
Não devia ter acelerado. O Opala avançou sobre um trecho inundado da estrada,
uma onda invadiu o motor com o solavanco. Pane geral.
Essa eu já conhecia. Água
no carburador. Sai do carro munido de uma chave de fenda. Retirar a tampa,
abrir o carburador, enxugar cada uma daquelas peças minúsculas. Resolvo fácil,
pensei, furioso. Carburador remontado, giro a chave. Nada. Nova esfregadela de
pano. Nova tentativa. Deu.
Retirei o carro da área
alagada antes mesmo de fechar a tampa do motor. Foi quando surgiu um carro
argentino, que mergulhou no alagado e jogou uma onda de água e lama por cima de
mim e do Opala.
O carro argentino pifou. Dele
saiu um portenho grande e nervoso, xingando o Brasil e as estradas brasileiras.
Só faltou dizer que Maradona era melhor do que Pelé. Pensei em abandoná-lo ali
mesmo – cantando Adiós, muchachos – mas,
como o carro dele ficara atravessado na estrada, eu não podia sair.
Voltei à chave de fenda,
abri o carburador do argentino, enxuguei, remontei. Funcionou. O argentino me
olhou admirado e se foi sem agradecer.
Ao retornar ao Opala
descobri que a onda de lama argentina havia encharcado o carburador de novo.
Outra meia hora de mecânico.
Pois ontem, aqui no meu
apartamento, a torneira do tanque de roupa espanou. Solidária, hoje a torneira
da cozinha desembestou a pingar. Agora estou examinando previamente o registro
do chuveiro. Será que abro? E se espanar? Se passar a noite pingando? Quem
dorme com um barulho desses?
Não querem que eu tome
banho. Eis o complô.
Caríssimo cronista, também eu "Acredito em poucas coisas, entre elas num complô das máquinas e utensílios em geral...!
ResponderExcluirRelato uma estapafúrdia experiência que vivi hj: meu celular - com chips da TIM e da VIVO - inventou de não querer registrar chamadas no início da manhã, fossem de que operadora fossem. O que foi muito grave, já que meu marido esperava por mim, no quarto...
Como eu não comparecesse, nem atendesse ao chamado pelo aparelhinho, utilizou-se ele do pré-histórico e infalível assobio. (Deu certo!)
Lá pelo meio da manhã, tudo voltou ao normal com o aparelhinho até que, pouco antes almoço, tendo vontade (embora não lhe entenda o porquê) de papear com um senhor meu conhecido e carente de atenções especiais, escrevi-lhe uma mensagem pelo celular. Como não respondesse, sapequei-lhe mais uma, às 12h49, perguntando se mudara de número. (O que, no caso de ter acontecido, ele jamais me responderia - é claro, óbvio e evidente.)
Ora pois: às 13h13 recebi a seguinte resposta: "Acabo de comprar esse chip na TIM. Meu nome é Hermenegildo Barata. Quem é voce?" (Desculpe-me: o "voce" veio assim mesmo, sem acento. Deve ser culpa do chip...)
Veja só: eu, com vontade de papear; meu amigo, carente (tadinho!!!), precisando dessa via de comunicação.
Apelo para sua experiência em dramas causados pelos servomecanismos: que fazer???
Aguardo impacientemente sua resposta.
Sua leitora e serva fiel...