quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Moacir Santos, música quase absoluta


Quem me ensinou a gostar de Moacir Santos foi meu filho, João Marcelo. Garanto existirem poucas coisas mais prazerosas do que aquelas que aprendemos com nossos filhos.
Então aluno de música, ele passou a pesquisar com obstinação a obra de Moacir. Encontrou LPs raros, CDs, coisas baixadas pela internet, MP3s, livros, artigos, teses etc. De tudo isso, resultou sua dissertação de mestrado e um show em homenagem a Moacir (Teatros Guaíra, 2006, SESC e Guairinha, 2007), do qual participou tocando contrabaixo acústico (entre nós conhecido como Baixo Gordão).
Até então eu sabia do criador de “Coisas” apenas aquilo que todos de minha geração ouviram no Samba da Benção, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, quando o poetinha pede: “a benção Moacir Santos, tu que não és um, és tantos, como este meu Brasil de todos os santos”.
Aprendi não só a ouvir Moacir, mas fiquei sabendo que nascera na pequena cidade de Flores, Pernambuco, em 1926. Órfão, saiu pelo mundo, realizando um destino com o qual todos sonhamos quando meninos: fugir com um circo. Tocou em bandas, aprendeu todos os instrumentos, escolheu o saxofone, veio para o Rio, foi assistente de Koellreuter e professor de toda a turma da Bossa Nova. Fez música para cinema – Canga Zumba, entre outros – e foi para os EUA em 1967.
Conhecedor de música clássica – onde as composições são chamadas de Opus 1, Opus 2 etc. – resolveu denominar suas obras assim: Coisas 1, Coisas 2 etc. Daí o nome de seu disco mais famoso, recheado de obras-primas: Coisas. Como bom brasileiro, herdou e assimilou a herança clássica européia e a transformou numa música da melhor qualidade, mesclando influências da música brasileira, africana, caribenha.
Um gênio, enfim.
Moacir só voltou ao Brasil já idoso, quando recebeu homenagem organizada por Mário Adnet e Zé Nogueira, com um show e a gravação de Ouro Negro. Faleceu uma semana após completar 80 anos.
Por isso escrevo essas coisas como agradecimento a meu filho e a Moacir Santos. E convido a todos: ouçam Moacir, é puro deleite, é quase divino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário