sexta-feira, 21 de junho de 2013

Brasil em chamas. A revolta está nas ruas.




Milhares de manifestantes caminham pela avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro 

Dias após a eclosão dos protestos que tomam conta das ruas do Brasil, qualquer papo a respeito deve começar afirmando que devemos rejeitar a conversa fiada de que brasileiro não protesta, sendo um povo acomodado. Talvez tenhamos paciência demasiada, é verdade, mas sabemos muito bem o que pensar.
Segundo: rejeitemos o mito de que os jovens atuais não têm consciência política. Mentira. Têm e muita, como evidenciam os protestos desses dias. O que eles não têm são ilusões com partidos ou políticos cretinos, no que mostram notável senso crítico. Eles rejeitam, definitivamente, as práticas políticas tradicionais por serem corruptas, cínicas e trapaceiras.
Dai o caráter apartidário dos protestos. O que não resulta de acaso ou mera birra. Trata-se, conscientemente, de uma recusa da mediação e das práticas dos partidos. O que as ruas estão dizendo é que, em primeiro lugar, estamos cansados da farsa política. Não nos sentimos representados por esses políticos e partidos.
Por outro lado, estarrece – sendo o anverso do que escrevi acima – a absoluta incapacidade dos políticos em entender o que está acontecendo. Tanto que todos se esconderam. Estão atônitos. Eles, que adoram holofotes e se emperiquitam diante de qualquer câmara de TV, sumiram do palco.
Como exceção que confirma a regra, essa infeliz senhora chamada Dilma abriu o bico em reunião fechada para dizer tolices monumentais, demonstrando que o simples fato de ocupar a presidência da República não transforma ninguém em estadista. Disse ela estar atenta e ouvindo a “voz das ruas”, que era preciso pensar no assunto, que havia um Brasil novo emergindo. E, com perversa maldade, insinuou que os protestos eram devidos ao espírito dos “jovens” que, como sabemos, são dados a protestos e anarquias irresponsáveis. Ou seja: essa senhora, de hábito rude e arrogante, está querendo entrar no barco para o qual não foi convidada. E apropriar-se das reivindicações feitas. Como é típico de governantes brasileiros, faz de conta que não tem nada a ver com isso, não sabe, não viu, não tem culpa – pelo contrário, dá a maior força. Faz de conta que não é com ela.
Foi um tiro n´água. Dilma mostrou, mais uma vez, que não tem nível nem capacidade de governar um país. Não passa de uma invenção equivocada de outro sujeito que, tão falante, está novamente em crise de mutismo, tal como nos tempos do mensalão. Pois os dois se reuniram num hotel em São Paulo e, com o desastrado presidente do PT, tal de Rui Falcão, resolveram arregimentar militantes do partido e despachá-los com a missão de se juntar às passeatas com suas bandeiras. O PT – no delírio politicóide lulista – se integraria e talvez assumisse a liderança dos protestos. Deu no que deu: foram escorraçados, eles e suas bandeiras.
Outra surpresa (ou nem tanto): a cobertura das televisões privilegiam os chamados vandalismos, que ocupam a maior parte do tempo de noticiário. Claro, por uma doença antiga, jornalistas acreditam que um gato que atravesse a rua sendo respeitado por motoristas não é notícia; notícia é se ele for atropelado. Mas são cômicas, ao noticiar os vandalismos, as caras escandalizadas que fazem essas mocinhas que apresentam jornalões de TV. E a cara de homens probos que fazem os rapagões que seguram aqueles sorvetes diante das câmeras.
Ora, em primeiro lugar a notícia é outra, ou seja, um país tido como conformista que afinal protesta com todas as letras e em todas as ruas. E de forma pacífica. E pregando a não violência. Em qual evento se colocaria 100 mil pessoas nas ruas de São Paulo sem que algum aproveitador não se intrometesse para pilhar e vandalizar? As televisões fazem, sabemos, péssimo jornalismo. Se vandalismos são inaceitáveis, mais inaceitável ainda é não se dar um tempo equilibrado para as manifestações de 99% dos participantes e 1% de baderneiros infiltrados.
Portanto, sendo apartidário, esse movimento nega as intermediações tradicionais da política. O recado da população é óbvio: estamos de saco cheio, não atrapalhem. O silêncio dos políticos ou suas aparições constrangedoras mostram que eles perderam completamente a capacidade de entender o que se passa. De tanto viverem embriagados com os perfumes e as verbas dos palácios, já não enxergam o que está diante de seu nariz. Muito jornalismo, por outro lado, prefere manipular matéria política e social com o mesmo maquiavelismo dos políticos. Que se analisem as intenções da população e dos manifestantes, que se procure entender o que, social e politicamente, quer dizer tanta gente nas ruas – e, ao mesmo tempo em que se condena qualquer vandalismo, se reconheça que tudo tem limite e que quem provocou esses vandalismos não foram os participantes das passeatas.
Quem gerou essas violências, foram criaturas que, ocupando cargos, provocaram a indignação do povo. Os responsáveis pelos manifestantes recusarem partidos políticos são os próprios políticos. Os responsáveis pela descrença nas ações governamentais são os próprios governantes com seus PACs marqueteiros e seus gastos astronômicos em obras faraônicas ou inúteis – quando não são abandonadas pelo caminho. O estopim que faz com que tomem as ruas não é nenhum espírito juvenil rebelde e irresponsável, mas aquilo que os jovens observam nas escolas, nas ruas, nas estradas, nos hospitais, nas suas casas, nas parcas esperanças que lhes restam diante de um mundo caduco.
O discurso oportunista de Dilma mostra isso claramente. Ela é – junto com o bando de políticos de todos os partidos – a responsável pelo estado dos transportes, das estradas, das escolas, dos hospitais, do saneamento básico, das roubalheiras e negociatas políticas.
Portanto, essa senhora deveria apontar o dedo para o próprio nariz.
Mas isso exigiria dela atitude de estadista, que ela – e nenhum político brasileiro no momento – tem. E, infelizmente, aproveito para repetir o que escrevo e repito há mais de dez anos: somos governados por delinquentes.
Portanto, viva a rebelião das ruas. Faz bem pensar que um novo país seja possível.



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