Dias após a eclosão dos
protestos que tomam conta das ruas do Brasil, qualquer papo a respeito deve
começar afirmando que devemos rejeitar a conversa fiada de que brasileiro não
protesta, sendo um povo acomodado. Talvez tenhamos paciência demasiada, é
verdade, mas sabemos muito bem o que pensar.
Segundo: rejeitemos o
mito de que os jovens atuais não têm consciência política. Mentira. Têm e
muita, como evidenciam os protestos desses dias. O que eles não têm são ilusões
com partidos ou políticos cretinos, no que mostram notável senso crítico. Eles
rejeitam, definitivamente, as práticas políticas tradicionais por serem corruptas,
cínicas e trapaceiras.
Dai o caráter apartidário
dos protestos. O que não resulta de acaso ou mera birra. Trata-se,
conscientemente, de uma recusa da mediação e das práticas dos partidos. O que
as ruas estão dizendo é que, em primeiro lugar, estamos cansados da farsa
política. Não nos sentimos representados por esses políticos e partidos.
Por outro lado,
estarrece – sendo o anverso do que escrevi acima – a absoluta incapacidade dos
políticos em entender o que está acontecendo. Tanto que todos se esconderam. Estão
atônitos. Eles, que adoram holofotes e se emperiquitam diante de qualquer câmara
de TV, sumiram do palco.
Como exceção que
confirma a regra, essa infeliz senhora chamada Dilma abriu o bico em reunião
fechada para dizer tolices monumentais, demonstrando que o simples fato de
ocupar a presidência da República não transforma ninguém em estadista. Disse ela
estar atenta e ouvindo a “voz das ruas”, que era preciso pensar no assunto, que
havia um Brasil novo emergindo. E, com perversa maldade, insinuou que os
protestos eram devidos ao espírito dos “jovens” que, como sabemos, são dados a
protestos e anarquias irresponsáveis. Ou seja: essa senhora, de hábito rude e
arrogante, está querendo entrar no barco para o qual não foi convidada. E
apropriar-se das reivindicações feitas. Como é típico de governantes brasileiros,
faz de conta que não tem nada a ver com isso, não sabe, não viu, não tem culpa –
pelo contrário, dá a maior força. Faz de conta que não é com ela.
Foi um tiro n´água. Dilma
mostrou, mais uma vez, que não tem nível nem capacidade de governar um país.
Não passa de uma invenção equivocada de outro sujeito que, tão falante, está
novamente em crise de mutismo, tal como nos tempos do mensalão. Pois os dois se
reuniram num hotel em São Paulo e, com o desastrado presidente do PT, tal de
Rui Falcão, resolveram arregimentar militantes do partido e despachá-los com a
missão de se juntar às passeatas com suas bandeiras. O PT – no delírio
politicóide lulista – se integraria e talvez assumisse a liderança dos
protestos. Deu no que deu: foram escorraçados, eles e suas bandeiras.
Outra surpresa (ou nem
tanto): a cobertura das televisões privilegiam os chamados vandalismos, que
ocupam a maior parte do tempo de noticiário. Claro, por uma doença antiga,
jornalistas acreditam que um gato que atravesse a rua sendo respeitado por
motoristas não é notícia; notícia é se ele for atropelado. Mas são cômicas, ao noticiar
os vandalismos, as caras escandalizadas que fazem essas mocinhas que apresentam
jornalões de TV. E a cara de homens probos que fazem os rapagões que seguram
aqueles sorvetes diante das câmeras.
Ora, em primeiro lugar
a notícia é outra, ou seja, um país tido como conformista que afinal protesta
com todas as letras e em todas as ruas. E de forma pacífica. E pregando a não
violência. Em qual evento se colocaria 100 mil pessoas nas ruas de São Paulo sem
que algum aproveitador não se intrometesse para pilhar e vandalizar? As
televisões fazem, sabemos, péssimo jornalismo. Se vandalismos são inaceitáveis,
mais inaceitável ainda é não se dar um tempo equilibrado para as manifestações
de 99% dos participantes e 1% de baderneiros infiltrados.
Portanto, sendo
apartidário, esse movimento nega as intermediações tradicionais da política. O
recado da população é óbvio: estamos de saco cheio, não atrapalhem. O silêncio
dos políticos ou suas aparições constrangedoras mostram que eles perderam completamente
a capacidade de entender o que se passa. De tanto viverem embriagados com os
perfumes e as verbas dos palácios, já não enxergam o que está diante de seu
nariz. Muito jornalismo, por outro lado, prefere manipular matéria política e
social com o mesmo maquiavelismo dos políticos. Que se analisem as intenções da
população e dos manifestantes, que se procure entender o que, social e politicamente,
quer dizer tanta gente nas ruas – e, ao mesmo tempo em que se condena qualquer
vandalismo, se reconheça que tudo tem limite e que quem provocou esses
vandalismos não foram os participantes das passeatas.
Quem gerou essas violências,
foram criaturas que, ocupando cargos, provocaram a indignação do povo. Os responsáveis
pelos manifestantes recusarem partidos políticos são os próprios políticos. Os
responsáveis pela descrença nas ações governamentais são os próprios governantes
com seus PACs marqueteiros e seus gastos astronômicos em obras faraônicas ou
inúteis – quando não são abandonadas pelo caminho. O estopim que faz com que tomem as ruas não é nenhum espírito juvenil rebelde e irresponsável, mas aquilo
que os jovens observam nas escolas, nas ruas, nas estradas, nos hospitais, nas
suas casas, nas parcas esperanças que lhes restam diante de um mundo caduco.
O discurso oportunista
de Dilma mostra isso claramente. Ela é – junto com o bando de políticos de
todos os partidos – a responsável pelo estado dos transportes, das estradas,
das escolas, dos hospitais, do saneamento básico, das roubalheiras e negociatas
políticas.
Portanto, essa senhora
deveria apontar o dedo para o próprio nariz.
Mas isso exigiria dela
atitude de estadista, que ela – e nenhum político brasileiro no momento – tem.
E, infelizmente, aproveito para repetir o que escrevo e repito há mais de dez
anos: somos governados por delinquentes.
Portanto, viva a
rebelião das ruas. Faz bem pensar que um novo país seja possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário