sexta-feira, 7 de junho de 2013




Harold Bloom é reconhecido como um dos mais competentes e refinados comentaristas da produção filosófica e literária. Estou lendo no momento seu livro “Onde encontrar a sabedoria?” – Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 2009 – que é uma obra preciosa, ao mesmo tempo densa e polêmica, na qual a maior dificuldade é a imensa erudição com que o autor inunda o texto de informações e referências cruzadas vindas de todos os lados. Mas não se trata de uma erudição de natureza acadêmica, tal como nas teses e dissertações aborrecidas das universidades, onde as citações não passam de artifícios destinados a impressionar leitores incautos. Além disso, o texto é claro e muito bem escrito.
A erudição de Bloom é visceral, profunda, de quem mergulhou em todos os livros e deles extraiu sua essência. Ler todos os livros, sabemos, é uma impossibilidade física. O fato é que dos principais não lhe escapou nenhum. Na verdade, a leitura dessa obra exige um leitor cuidadoso, ciente de que ler é tarefa dificílima, exigindo cuidados de arqueólogo. Podemos discordar de Bloom – eu discordo de muita coisa – mas a trajetória que o autor nos oferece é rica e fértil. Generosa.
Como brinde – e um convite – ao leitor do blog transcrevo o primeiro parágrafo da Coda que conclui o livro. É uma preciosidade de síntese e perfeição estilística, embora toda a sua sabedoria não dispense a leitura das 329 páginas que a antecedem.
Eis aí:


“William James observou que sabedoria é aprender a ignorar o que deve ser ignorado. O Príncipe Hamlet é o mais inteligente dos personagens literários, mas, de acordo com o teste pragmático de James, o carismático shakespeariano ávido de morte nada tem de sábio. Hamlet nada pode ignorar, e assim estabelece o padrão para todos os que são capazes de iluminar a sabedoria, mas não podem encarná-la. O gênio, ou demônio, de Hamlet insiste em fazê-lo ciente de tudo ao mesmo tempo. Pensando com excessiva clareza, Hamlet perece em consequência da verdade. Seja lá quem formos nosso demônio há de se tornar a nossa nêmesis e fazer de nós mesmos o nosso pior inimigo, tornando-nos incapazes de aprender o que ignorar.”



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