Em
fevereiro passado Lula e companheiros colocaram na rua a campanha para a
reeleição da Dilma.
Houve uma perplexidade
geral.
Muitos se perguntaram:
como alguém que ocupa a presidência, sem ter ainda dito a que veio, se lança
numa campanha eleitoral com tanta antecedência?
Houve quem lembrasse à
presidente que obras estavam em andamento, problemas precisavam ser pensados e
resolvidos, medidas deveriam ser tomadas, não sendo razoável envolver-se em
clima de campanha eleitoral tão cedo.
Advertência inútil.
Confesso que não me
surpreendi com essa antecipação da campanha eleitoral.
Em primeiro lugar, lembremos
que Dilma estava em lua de mel com as pesquisas que lhe davam índices de
aprovação astronômicos.
(Parêntesis:
alguém que me lê pela internet já foi pesquisado por algum desses institutos?
Tenho um amigo, jornalista há mais de quarenta anos, que costuma declarar que
nunca foi entrevistado por instituto algum e que não conhece ninguém que tenha sido.
Só isso pode explicar o desacordo brutal entre tais pesquisas e a revolta que
se observa nas ruas brasileiras.)
Inebriada com tais
índices, Dilma lançou sua candidatura.
Mas, a meu ver, há outra
razão, mais profunda e triste, para tal aventura. Ela e seus marqueteiros decidiram
pela antecipação da campanha por um motivo rasteiro: eles não sabem
administrar, eles odeiam administrar, eles não conseguem parar para pensar em
qualquer plano, projeto, estudo, que possa equacionar as questões sociais e
políticas do país.
O que fariam no resto
de mandado da presidente?
A solução terá saído de
algum dos áulicos – a história brasileira registra inúmeros Chalaças em seus
anais. Lançada a campanha, fariam o que adoram fazer: politicagem, bravatas, negociatas,
imaginando navegar em índices maravilhosos de prestígio junto à população. Como
numa imensa campanha publicitária.
Machado de Assis, com a
ironia de sempre, disse que “é mais fácil cair das nuvens do que de um quarto
andar”. Com as manifestações nas ruas, Dilma e companheiros despencaram
das nuvens e descobriram que, embora mais fácil cair das nuvens, não é coisa sem
consequências graves.
Imaginavam mais um ano
e tanto de campanha, finda a qual seriam reconduzidos ao Alvorada, nos braços
de marqueteiros e companheiros.
Agora, o povo nas ruas,
a presidente pressionada, chamada afinal a tomar atitudes e agir como é exigido
de um governante, dá demonstração de não saber o que fazer. É fácil entender:
durante todo esse tempo ocupou-se de programas factoides, de medidas
demagógicas, de viagens ao exterior para fazer pose, de acusações desvairadas contra
“as elites” e não teve tempo nem gosto nem competência para pensar no que
fazer.
E o que havia a fazer é
óbvio.
Eu mesmo, que não sou
nenhum oráculo, insisti em meus textos em questões básicas: educação caindo aos
pedaços, saneamento abandonado, transportes baseado em caminhões, automóveis em
infindáveis prestações ao invés de transporte coletivo de qualidade, saúde
pública em estado terminal, com doentes em corredores, deitados no chão, falta
de leitos, de medicamentos, de equipamentos, de médicos. Tudo que é gritado agora
nos cartazes dos manifestantes.
E a prova de que eles
não têm gosto nem aptidão para pensar o país, ao trombarem nas reinvindicações
da população por melhor saúde, só conseguiram acenar com a tosca ideia de
importar médicos. Nada contra, desde que passem por uma revalidação no Brasil,
exigência que qualquer país faz. Mas o que farão médicos vindos de outros
países se não há leitos, aparelhos, medicamentos, ambulâncias, se o sistema do
SUS virou uma baderna?
Quando digo que somos
governados por delinquentes, quero dizer, entre outras coisas, isso: eles
governam sem pensar, de olho nas próximas eleições, imaginando como vão passar
uma rasteira nos adversários e como irão driblar a opinião pública.
A isso eles chamam de
“política”. Motivo pelo qual são delinquentes.
Por isso tenho sentido
nesses dias um orgulho imenso daqueles que estão nas ruas protestando,
desmentindo todos os índices fantasiosos dos institutos de pesquisa, demolindo
a miragem do Brasil como uma ilha inexpugnável de felicidade.
O povo nas ruas mais
uma vez deu aos governantes em geral – de todos os partidos, é bom frisar – uma
sonora lição de civismo, de consciência política e de democracia. Forçaram a
Dilma a despir-se de sua pose arrogante e falar a que veio.
Mas, como ironizava o
Pasquim: ela falou e não disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário