quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Brasil continua em chamas – o povo nas ruas




Em fevereiro passado Lula e companheiros colocaram na rua a campanha para a reeleição da Dilma.
Houve uma perplexidade geral.
Muitos se perguntaram: como alguém que ocupa a presidência, sem ter ainda dito a que veio, se lança numa campanha eleitoral com tanta antecedência?
Houve quem lembrasse à presidente que obras estavam em andamento, problemas precisavam ser pensados e resolvidos, medidas deveriam ser tomadas, não sendo razoável envolver-se em clima de campanha eleitoral tão cedo.
Advertência inútil.
Confesso que não me surpreendi com essa antecipação da campanha eleitoral.
Em primeiro lugar, lembremos que Dilma estava em lua de mel com as pesquisas que lhe davam índices de aprovação astronômicos.

(Parêntesis: alguém que me lê pela internet já foi pesquisado por algum desses institutos? Tenho um amigo, jornalista há mais de quarenta anos, que costuma declarar que nunca foi entrevistado por instituto algum e que não conhece ninguém que tenha sido. Só isso pode explicar o desacordo brutal entre tais pesquisas e a revolta que se observa nas ruas brasileiras.)

Inebriada com tais índices, Dilma lançou sua candidatura.
Mas, a meu ver, há outra razão, mais profunda e triste, para tal aventura. Ela e seus marqueteiros decidiram pela antecipação da campanha por um motivo rasteiro: eles não sabem administrar, eles odeiam administrar, eles não conseguem parar para pensar em qualquer plano, projeto, estudo, que possa equacionar as questões sociais e políticas do país.
O que fariam no resto de mandado da presidente?
A solução terá saído de algum dos áulicos – a história brasileira registra inúmeros Chalaças em seus anais. Lançada a campanha, fariam o que adoram fazer: politicagem, bravatas, negociatas, imaginando navegar em índices maravilhosos de prestígio junto à população. Como numa imensa campanha publicitária.
Machado de Assis, com a ironia de sempre, disse que “é mais fácil cair das nuvens do que de um quarto andar”. Com as manifestações nas ruas, Dilma e companheiros despencaram das nuvens e descobriram que, embora mais fácil cair das nuvens, não é coisa sem consequências graves.
Imaginavam mais um ano e tanto de campanha, finda a qual seriam reconduzidos ao Alvorada, nos braços de marqueteiros e companheiros.
Agora, o povo nas ruas, a presidente pressionada, chamada afinal a tomar atitudes e agir como é exigido de um governante, dá demonstração de não saber o que fazer. É fácil entender: durante todo esse tempo ocupou-se de programas factoides, de medidas demagógicas, de viagens ao exterior para fazer pose, de acusações desvairadas contra “as elites” e não teve tempo nem gosto nem competência para pensar no que fazer.
E o que havia a fazer é óbvio.
Eu mesmo, que não sou nenhum oráculo, insisti em meus textos em questões básicas: educação caindo aos pedaços, saneamento abandonado, transportes baseado em caminhões, automóveis em infindáveis prestações ao invés de transporte coletivo de qualidade, saúde pública em estado terminal, com doentes em corredores, deitados no chão, falta de leitos, de medicamentos, de equipamentos, de médicos. Tudo que é gritado agora nos cartazes dos manifestantes.
E a prova de que eles não têm gosto nem aptidão para pensar o país, ao trombarem nas reinvindicações da população por melhor saúde, só conseguiram acenar com a tosca ideia de importar médicos. Nada contra, desde que passem por uma revalidação no Brasil, exigência que qualquer país faz. Mas o que farão médicos vindos de outros países se não há leitos, aparelhos, medicamentos, ambulâncias, se o sistema do SUS virou uma baderna?
Quando digo que somos governados por delinquentes, quero dizer, entre outras coisas, isso: eles governam sem pensar, de olho nas próximas eleições, imaginando como vão passar uma rasteira nos adversários e como irão driblar a opinião pública.
A isso eles chamam de “política”. Motivo pelo qual são delinquentes.
Por isso tenho sentido nesses dias um orgulho imenso daqueles que estão nas ruas protestando, desmentindo todos os índices fantasiosos dos institutos de pesquisa, demolindo a miragem do Brasil como uma ilha inexpugnável de felicidade.
O povo nas ruas mais uma vez deu aos governantes em geral – de todos os partidos, é bom frisar – uma sonora lição de civismo, de consciência política e de democracia. Forçaram a Dilma a despir-se de sua pose arrogante e falar a que veio.
Mas, como ironizava o Pasquim: ela falou e não disse.



Nenhum comentário:

Postar um comentário