quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um poema de Ferreira Gullar





TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
        será arte?




Um comentário:

  1. Delícia!!!
    E precisa comentar?
    Só agradecer à sensibilidade do poeta por seus versos, e à sua, caro escritor, por dividi-los conosco!

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