Sete dias se foram e
não me senti animado a escrever sobre as reações do governo às manifestações do
dia 15.
Deve ser cansaço.
Fastio, como diziam os mais antigos. Fastio do Brasil.
O Brasil cansa, eis
tudo.
A manifestação do dia
15 levou às ruas uma multidão representativa do que vai pela cabeça da maioria
(62% da população desaprovam Dilma, que se dependura em 13% de aprovação).
Gente que foi sem receber refrigerantes, camisetas, sanduíches. Que não obedece a quaisquer ordens superiores ou laterais. Por certo, como sempre,
aqui e ali estavam alguns patetas gritando bobagens, dignas da direita raivosa.
São minoria, felizmente. Eles sempre aparecem.
A maior parte, no entanto,
era de simples cidadãos brasileiros que, como este cansado cronista, estão com
fastio do Brasil. Chega. Já encheu.
E qual a resposta da
presidente?
Sugere diálogo. A
criatura que menos dialogou desde que assumiu a presidência, mesmo com seus
aliados de ocasião, agora fala em diálogo. A mais impaciente das criaturas,
pede paciência. A mais prepotente, pede humildade. A que está colocada nas
cordas – acossada pelos diversos PTs, pelo Lula, o PMDB, o Renan Calheiros,
o Eduardo Cunha, o “general” Stédile – faz cara de mandona. E, por meio de dois
prepostos – não ela pessoalmente, como faria um estadista – manda seu recado.
Eis o recado: um
projeto de lei anticorrupção e insinuações que visam desqualificar – como em
2013 – o que se passa nas ruas.
Miguel Rossetto e José
Eduardo Cardozo fazem jogo de cena. O primeiro alega que aquela multidão
era dos que não votaram na presidente. Farsa. Como se aqueles que não votaram
na eleita estivessem desqualificados para fazer críticas. Críticas só dos
favoráveis. A oposição é apresentada como sendo formada por maus brasileiros,
que querem o pior dos mundos, gente burguesa, classe média que se deve odiar
etc.
Aliás, entre tantas
contradições desse governicho, uma salta aos olhos. Seus seguidores a qualquer
pretexto xingam a classe média – justamente a classe à qual pertencem. A classe
média que, segundo uma filosofante da USP, merece ódio irrestrito. Ao mesmo
tempo, se vangloriam de ter criado uma nova classe média com o bolsa-família.
É possível entender? Não. Estamos diante de um poço de contradições.
Cardozo repetiu o
argumento ridículo de que não haverá terceiro turno. Não há terceiro turno, é
óbvio, mas governantes devem ser pelo menos competentes ou poderão ser
defenestrados. Não são imperadores pela vontade de Deus. O poder lhes é dado pelo voto popular e pode
ser tirado. Ainda não é o caso, mas é uma possibilidade se o governo se
mantiver paralisado.
Já o pacote anticorrupção
é um requentado de leis já existentes e serve para desviar a atenção da
população. Tenho repetido várias vezes que o Brasil sofre de uma demência legislativa.
Para tudo são feitas novas leis. Lembro que leis não fazem a sociedade. A
sociedade é que faz as leis.
O governo não pode se
esconder atrás de leis. Cabe ao poder executivo administrar, gerenciar, agir,
planejar, saber dos problemas, fazer escolhas, tomar decisões. Leis são fáceis
de produzir e nelas logo se acharão brechas – aliás, já deixadas em aberto de
propósito – para salvar corruptos.
Portanto, reação pífia
do governo.
Não há como não sentir
fastio. Cansaço. O mesmo cansaço cada vez mais óbvio no rosto, no corpo e nos
gestos desconexos da presidente.
E
la nave va – o título do genial filme de Fellini serve para
retratar o momento brasileiro. Vai para onde a nave desgovernada? Não sabemos. A timoneira não tem a menor ideia, embora se agarre ao timão com fúria.
Os brasileiros precisam
ter juízo e refletir com cuidado – o momento é grave e não se presta a
fanfarronadas, das quais já estamos bem (ou mal) servidos.
Parece mesmo que não temos saída. Aliás, caso o poste plantado pelo molusco decidisse renunciar, assumiria o turco. Nesse caso há que se vislumbrar três vantagens. 1ª) Estaríamos livres de sentir nossos ouvidos feridos cada vez que um do governo, ou da Voz do Brasil, mencionasse uma tal presidenta. Isso dói. 2ª) O turco parece que sabe falar português. Então, ficaríamos livres daqueles discursos horrorosos, sem eira nem beira e eivados de vícios de linguagem como tenho certeza, eu acho etc. 3ª) Mais importante de todas, voltaríamos a ter uma primeira dama linda, de fazer inveja à Maria Thereza Goulart. Desde a saída do Jango, temos sido castigados. Parece que com a deposição dele abriram-se as portas do inferno. Roseane Collor? Nem chegava aos pés da Maria Thereza. Muito menos da Macela. Então, que venha o Temer, ou melhor, a Marcela Temer.
ResponderExcluirConfesso, humildemente, que (aos quase 73) não costumo ocupar com polêmicas, discussões, corrupções e assemelhados esses nãoseiquantos tempos que me restam à cabeça e ao coração. E isso vai de telenovelas a noticiários. De vez em quando me distraio e leio/vejo/ouço alguma coisa sobre a atual política brasileira. Se é o Gomes quem escreve, até que não penso muito antes de ler. Ele tem – a par do conhecimento – um discernimento transmitido com estilo de crônica ficcional. E isso me atrai.
ExcluirDe tudo que você (Permite-me tratá-lo assim?) diz, foquei na vantagem 3, o item “primeira dama”. Noite dessas, no “Curta!”, acompanhei (deveria estar muuuuito distraída) a reapresentação de “Os idos de março – O Brasil de Darcy Ribeiro”. E lá pelas tantas estava ela entre os depoentes: a Maria Thereza! Comentei com uma das filhas que me visitava a beleza que era a ex-primeira-dama, comparada à época com Grace Kelly, já princesa de Mônaco, e Jacqueline Kennedy, primeira-dama dos States. A nossa, bem mais nova que as outras duas, pelo que se ouvia era apenas uma coadjuvante de luxo. (Bem, se “apenas coadjuvante”, que ao menos fosse – muito graças ao Dener – de luxo...) E a comparação com uma recente ex-ocupante do Palácio foi inevitável!
Também inevitável foi lembrar o poetinha: “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.” Fiquei pensando que, no Planalto, esse quesito deve ser “defenestrado”. Mas não quero entrar em polêmica! Afinal, nesse ponto, o ponto de vista masculino deve pesar mais...
(Em tempo: pedindo perdão pela frase feita, concordo em gênero e número com as vantagens 1 e 2.)
Confesso, humildemente, que (aos quase 73) não costumo ocupar com polêmicas, discussões, corrupções e assemelhados esses nãoseiquantos tempos que me restam à cabeça e ao coração. E isso vai de telenovelas a noticiários. De vez em quando me distraio e leio/vejo/ouço alguma coisa sobre a atual política brasileira. Se é o Gomes quem escreve, até que não penso muito antes de ler. Ele tem – a par do conhecimento – um discernimento transmitido com estilo de crônica ficcional. E isso me atrai.
ExcluirDe tudo que você (Permite-me tratá-lo assim?) diz, foquei na vantagem 3, o item “primeira dama”. Noite dessas, no “Curta!”, acompanhei (deveria estar muuuuito distraída) a reapresentação de “Os idos de março – O Brasil de Darcy Ribeiro”. E lá pelas tantas estava ela entre os depoentes: a Maria Thereza! Comentei com uma das filhas que me visitava a beleza que era a ex-primeira-dama, comparada à época com Grace Kelly, já princesa de Mônaco, e Jacqueline Kennedy, primeira-dama dos States. A nossa, bem mais nova que as outras duas, pelo que se ouvia era apenas uma coadjuvante de luxo. (Bem, se “apenas coadjuvante”, que ao menos fosse – muito graças ao Dener – de luxo...) E a comparação com uma recente ex-ocupante do Palácio foi inevitável!
Também inevitável foi lembrar o poetinha: “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.” Fiquei pensando que, no Planalto, esse quesito deve ser “defenestrado”. Mas não quero entrar em polêmica! Afinal, nesse ponto, o ponto de vista masculino deve pesar mais...
(Em tempo: pedindo perdão pela frase feita, concordo em gênero e número com as vantagens 1 e 2.)