Fuga para o Egito, Ferdinand Demetz, 1902. |
Ontem eu e meu irmão Cid passamos a tarde caminhando pelas ruas
centrais de Floripa.
Cadê o Cine Ritz que estava aqui? Não está mais aqui. Nele
assisti a estreia – barulhenta e escandalosa na época – de Rock around the clock (quem não estava lá não sabe do que se trata
e nem adianta explicar aqui), filme em cujas projeções foram quebradas inúmeras
poltronas nos cinemas Brasil afora.
E o Cine São José, no outro lado da quadra? Era a sala
elegante, cheirosa, com menininhas em flor disparando sedução. O tempo levou. É
agora uma coisa chamada Igreja Livre em Jesus. Ainda guarda o mesmo perfil de
fachada, mas está visivelmente decadente.
Fugimos dali como se nos ameaçasse algum buraco negro e vamos
em direção da igreja matriz para ver a escultura em madeira da Fuga para o Egito, do austríaco Ferdinand Demetz. Vale a pena. O pé da Virgem e o rosto de são José já justificariam a visita.
O diabo é que há barulheira em frente da igreja. Homens e
mulheres vestindo camisetas vermelhas. Uniformes. Aliás, todos uniformes. Uns
350 manifestantes. Comeram o mesmo sanduíche e tomaram o mesmo refrigerante. Uns
parecem cansados, outros olham para os lados como se estivessem procurando
novidades. Um deles urra ao microfone. Bandeiras são agitadas.
Eu e meu irmão fugimos dali como quem foge de um pesadelo ou para o Egito.
Ele resume:
- É um protesto para defender a Dilma e criticar todas as medidas
do governo Dilma.
Ah, agora entendi.
Não o sumiço dos cinemas, não a fuga para o Egito, mas o balanço
neurastênico da presidente quando fala – num pezinho, noutro pezinho, pra lá,
pra cá – as frases que começam e não terminam, os atropelos com a lógica e a
linguagem.
É duro sobreviver no século XXI tendo o século XX diante de
nossos olhos.
Vamos ver o que nos aguarda no dia 15, domingo. Em que
século estaremos?
Florianópolis conheci em 1970, quando ainda não era Floripa e os camarões, assim como a tainha dos restaurantes da Lagoa da Conceição, era uma delícia. Jurerê era uma praia deserta. A da Joaquina também. Tudo mudou. Para melhor? Quanto à Dilma... bem, no discurso é até preferível o Lula, que todo mundo sabe semianalfabeto e pinguço de carteirinha (Brizola chamou sua atenção para o mal dos destilados). Ela, sóbria e pseudo doutora em Economia pela Unicamp, é muito pior. Como somos castigados!
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