quinta-feira, 26 de março de 2015

Como tapar o sol com uma peneira Ou O reino de Dilma à beira de um ataque de nervos




Charge do imbatível Nani


Desde quando surgiu nos céus um sol enorme, de proporções federais, a vida naquele reino distante se encontra nos limites de uma catástrofe. E foi num dia de sol forte e devastador que o ministro de um dos quatrocentos e oitenta e nove ministérios entrou correndo na sala da autoridade máxima. Veio aos berros:
- Não sei mais o que fazer! Não sei!
Foi olhado de alto a baixo pela autoridade máxima, o que deixou o ministro com a espinha congelada.
- E desde quando você soube o que fazer?
- Ora, ora, autoridade, nem sempre fico tão perdido assim. A situação atual é gravíssima.
- Já respondeu aos reclamos feitos ontem pelo populacho?
Ele balançou a cabeça: respondera, sim, com todos os recursos.
- E então?
- Acontece que contra a iluminação que estamos sofrendo peneira não é uma arma eficiente, autoridade.
- Peneira?
- É o que restou em nosso arsenal, como consta do meu último relatório, autoridade.
- Não queira me comprometer! Não li seu relatório. Acha que devo ler tudo? Não sabe que eu já declarei que não leio, tenho preguiça, além de ter coisas mais sérias das quais me ocupar?
Então o ministro explicou: gastaram todas as armas. Das mais simples, como bilhetinhos, até as mais sofisticadas, como decretos e mensagens via internet. Deu em nada.
E acrescentou, exaurido:
- O solão que nos assombra continuou brilhando e iluminando tudo, autoridade. Só nos resta tentar cobrir o sol com a peneira, segundo velho dito sábio de nossos ancestrais.
- Não use palavras complicadas.
- Perdão.
- E daí?
- Daí que não funciona, autoridade. Mesmo quando juntamos uma centena de peneiras, o sol continua a atravessá-las. Além disso, são peneiras com uma telinha fina, de arame vagabundo, o sol as aquece, elas derretem, não adianta.
A autoridade deu um pulo de sua cadeira e andou de um lado para outro, chutando baldes e ministros que estavam por ali.
- Assim não é possível! Minha assessoria é formada por um bando de incompetentes! Como não conseguem cobrir o sol com uma peneira?
O ministro tossiu, pediu licença para falar, mas foi interrompido:
- Cale-se!
Calou-se.
- E aquele grupo de mensageiros?
O ministro encolheu-se, temeroso, e, com voz sumida, murmurou:
- Lamento, autoridade, mas ninguém acredita neles. Pelo menos 70% não acreditam. Eles soltam as notas, inclusive dólares, e artigos via eletrônica, mas não adianta. Parece que quem lê mensagens eletrônicas anda se informando em outras fontes. Em resumo, não acreditam.
A autoridade chutou uma cadeira e os fundilhos de um oficial de gabinete e avançou na direção do ministro:
- Do que eles precisam para serem ouvidos?
O ministro engasgou, tossiu:
- Mais verba, autoridade máxima.
- Mais?!
- Trata-se de um óleo para engraxar suas mãos, dizem eles. Sem isso não funciona.
- Então tá.
- Então tá, o quê, autoridade?
- Mande retirar mais verba.
O ministro exultou:
- Verdade?!
- Sim. Mas... – a autoridade chegou um dedo no nariz do ministro – ...saiba e faça com que todos saibam que eu não autorizei nada disso. Eu não sei de nada, compreende? Como sempre. De nada!
- De nada?
- De nadinha.
E a autoridade máxima chutou os fundilhos do ministro, que disparou porta afora e foi garimpar mais verbas para comprar mais peneiras com as quais esconder o sol federal que iluminava aquele reino à beira de um ataque de nervos.





Um comentário:

  1. Há doze anos, primeiro um molusco, depois um poste, tentam tapar o sol com peneiras. E está cada vez mais difícil. Aliás, é um costume bem brasileiro, de longa data, em todos os setores. Se há um problema, encontra-se um paliativo para atenuar o efeito e não eliminar a causa. Exemplo que me ocorre agora são as tais cotas nas universidades. Não havendo capacidade para resolver o imbróglio, tapa-se o sol com peneira. E com isso piora-se o ensino superior também e a qualidade do seu produto final: os profissionais que irão fazer o futuro do País. Melhor não enumerar outros casos pois o espaço seria insuficiente.

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