sábado, 14 de março de 2015

Panorama visto da Ilha do Desterro

Fuga para o Egito, Ferdinand Demetz, 1902.





Ontem eu e meu irmão Cid passamos a tarde caminhando pelas ruas centrais de Floripa.
Cadê o Cine Ritz que estava aqui? Não está mais aqui. Nele assisti a estreia – barulhenta e escandalosa na época – de Rock around the clock (quem não estava lá não sabe do que se trata e nem adianta explicar aqui), filme em cujas projeções foram quebradas inúmeras poltronas nos cinemas Brasil afora.
E o Cine São José, no outro lado da quadra? Era a sala elegante, cheirosa, com menininhas em flor disparando sedução. O tempo levou. É agora uma coisa chamada Igreja Livre em Jesus. Ainda guarda o mesmo perfil de fachada, mas está visivelmente decadente.
Fugimos dali como se nos ameaçasse algum buraco negro e vamos em direção da igreja matriz para ver a escultura em madeira da Fuga para o Egito, do austríaco Ferdinand Demetz. Vale a pena. O pé da Virgem e o rosto de são José já justificariam a visita.
O diabo é que há barulheira em frente da igreja. Homens e mulheres vestindo camisetas vermelhas. Uniformes. Aliás, todos uniformes. Uns 350 manifestantes. Comeram o mesmo sanduíche e tomaram o mesmo refrigerante. Uns parecem cansados, outros olham para os lados como se estivessem procurando novidades. Um deles urra ao microfone. Bandeiras são agitadas.
Eu e meu irmão fugimos dali como quem foge de um pesadelo ou para o Egito.
Ele resume:
- É um protesto para defender a Dilma e criticar todas as medidas do governo Dilma.
Ah, agora entendi.
Não o sumiço dos cinemas, não a fuga para o Egito, mas o balanço neurastênico da presidente quando fala – num pezinho, noutro pezinho, pra lá, pra cá – as frases que começam e não terminam, os atropelos com a lógica e a linguagem.
É duro sobreviver no século XXI tendo o século XX diante de nossos olhos.

Vamos ver o que nos aguarda no dia 15, domingo. Em que século estaremos?



Um comentário:

  1. Florianópolis conheci em 1970, quando ainda não era Floripa e os camarões, assim como a tainha dos restaurantes da Lagoa da Conceição, era uma delícia. Jurerê era uma praia deserta. A da Joaquina também. Tudo mudou. Para melhor? Quanto à Dilma... bem, no discurso é até preferível o Lula, que todo mundo sabe semianalfabeto e pinguço de carteirinha (Brizola chamou sua atenção para o mal dos destilados). Ela, sóbria e pseudo doutora em Economia pela Unicamp, é muito pior. Como somos castigados!

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